Ainda falando sobre as crônicas dos 130 anos da Carris, escolhemos mais um texto que fez parte do livro "Carris, relatos da história e outras memória". Para hoje optamos por uma crônica bem leve e divertida, para alegrar um pouco a segunda feira.
A Rosácea
Janjão era um tipo bastante curioso por não ter escrúpulo em dizer ou fazer algo que pudesse passar alguém para trás, a ponto de dizer a bom som que não pagava nem promessa para santo. Era o protótipo do amigo da onça, do inesquecível Péricles... Todos os dias, às 8 horas, pegava ele, o bonde em frente ao cinema Castelo, na Av. Azenha, descendo na Rua Sarmento Leite, pois era bedel da Universidade. Retornava às 17 horas, pegava o bonde na Praça do Portão e descia no Cine Castelo.
Um dia bolou um plano e a pôs em prática. Subiu no bonde, sentou-se e quando o cobrador cobrou a passagem, ele tirou a carteira do bolso do casaco, abriu-a retirando uma bonita cédula rosácea. Levou-a na direção do trocador, que a repeliu dizendo não ter troco, fazendo trejeitos.
Janjão guardou a mesma na carteira e esta, no bolso. Virou-se para a janela, passando a olhar a paisagem do trajeto. Assim passou-se quase um mês de sucesso, pois quando algum cobrador perguntava se ele não tinha menos, ele dizia: - A obrigação de ter troco não é do passageiro, mas do cobrador!!
Mas, numa tarde em que voltava para casa, subiu no bonde pelo lado esquerdo do motorneiro. este tinha ao seu lado um fiscal que percebeu o cenho alto do colega e dirigiu-se para o meio do bonde postando-se atrás do cobrador, fazendo um discreto sinal para um inspetor que estava junto a uma das portas traseiras do bonde. Este também chegou-se para o seu lado. Janjão sentou-se.O cobrador chegou e ele tirou a carteira do bolso, abriu-a retirando a rosácea. Essa era uma cédula de 50 mil réis com o carimbo de 50 cruzeiros com a efígie de Xavier da Silveira, que circulou até o início dos anos 50, assim conhecida entre os numismais. Mostrou-a ao cobrador que a segurou rapidamente passando-a ao cobrador que a segurou rapidamente passando-a ao fiscal, que, simultaneamente, a entregou ao inspetor. Este entregou ao fiscal um saquinho com moedas, que por sua vez, repassou ao cobrador, que entregou ao Janjão, que atônito, o pegou nas mãos, ouvindo do cobrador: - Senhor! Este saquinho contém 99 moedas de 50 centavos, ou seja:
Quarenta e nove cruzeiros e cinquenta centavos. Com elas o senhor pode viajar 99 vezes sem encontrar dificuldades de troco!! Com agradecimento da Companhia Carris Porto-Alegrense... Por certo deve ter passado por sua mente um velho ditado... "A raposa, tanto vai ao ninho, que um dia deixa o focinho".
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