Relembrando mais um pouco a relação entre os porto-alegrenses e a Cia. Carris, iremos transcrever a seguir um texto de um antigo usuário dos bondes da companhia. Trata-se do senhor Jorge Brinckmann, que escreveu o conto "O Bonde Petrópolis" para lembrar de sua juventude. Este conto foi publicado em 2002, durante as comemorações dos 130 anos da Carris, no livro "Cento e trinta anos Carris: Relatos da História e Outras Memórias".
O Bonde Petrópolis
Uma velha tia, sempre que tomava conhecimento de que alguém teve uma conduta condenável (principalmente se era da família), dizia: "Alguém tem que colocar esta criatura nos trilhos". "Os bondes são o melhor exemplo a ser seguido pelas pessoas que querem andar pelos trilhos certos da vida, pois eles não saem dos trilhos, e quando saem, logo voltam", dizia minha tia olhando para nós, os sobrinhos.
Em 1958, ao completar 18 anos, recebi autorização do meu pai para chegar a qualquer hora em casa. meu presente foi além da calça "boca 18". Ema chave da porta da frente, como se dizia. Naquela época era assim. Minha mãe não gostou muito dessa liberdade de horário, porque até aquele momento, sempre que eu chegava depois das 23 horas, tinha que bater na janela do quarto dos "velhos" e esperar que um deles abrisse a porta para mim. Geralmente quem abria a porta era a minha mãe.
Morávamos em Petrópolis, quatro quadras do fim da linha do bonde, que era na esquina da Rua Carazinho com a Avenida Protásio Alves. De madrugada ouvia-se o ruído forte das rodas do bonde sobre os trilhos, chegando no fim-da-linha. Nas madrugadas de de sábado e domingo, minha mãe ficava esperando o "bonde coruja", que passava pelo abrigo da praça XV, mais ou menos às 3 horas da manhã, quando ainda a Boite Tabaris ia em meio às suas noitadas. Ela era sobre o abrigo, e a gente chegava até lá subindo por uma escadinha estreita no centro (escada que nunca me animeia a subir, porque não tinha dinheiro nem para pagar a entrada, quanto mais para a consumação de uma das "moças" frequentadoras habituais). A música era ao vivo. Nunca soube que tivesse havido uma baderna na Tabaris.
Até mais ou menos meus 21 anos, nos fins de semana, minha mãe só dormia depois das três e meia ou quatro horas, pois ficava esperando ouvir o barulho do "bonde coruja" chegando no fim da linha, travando, trocando a alavanca e voltando. Quinze ou vinte minutos depois eu chegava em casa.
Lá por 1959, passei a usar uma linha de ônibus que passava em frente a nossa casa, depois da meia-noite, de uma em uma hora. Aquela comunicação entre o bonde a minha mãe foi especial. Até hoje ela conta que vez ou outra sonha e acorda sobressaltada, por ter ouvido o bonde chegar no fim-da-linha. A única vez que saí dos trilhos, segundo a minha mãe, foi quando comecei a andar de ônibus, mas aí a velha tia não mais existia.
Em 1958, ao completar 18 anos, recebi autorização do meu pai para chegar a qualquer hora em casa. meu presente foi além da calça "boca 18". Ema chave da porta da frente, como se dizia. Naquela época era assim. Minha mãe não gostou muito dessa liberdade de horário, porque até aquele momento, sempre que eu chegava depois das 23 horas, tinha que bater na janela do quarto dos "velhos" e esperar que um deles abrisse a porta para mim. Geralmente quem abria a porta era a minha mãe.
Morávamos em Petrópolis, quatro quadras do fim da linha do bonde, que era na esquina da Rua Carazinho com a Avenida Protásio Alves. De madrugada ouvia-se o ruído forte das rodas do bonde sobre os trilhos, chegando no fim-da-linha. Nas madrugadas de de sábado e domingo, minha mãe ficava esperando o "bonde coruja", que passava pelo abrigo da praça XV, mais ou menos às 3 horas da manhã, quando ainda a Boite Tabaris ia em meio às suas noitadas. Ela era sobre o abrigo, e a gente chegava até lá subindo por uma escadinha estreita no centro (escada que nunca me animeia a subir, porque não tinha dinheiro nem para pagar a entrada, quanto mais para a consumação de uma das "moças" frequentadoras habituais). A música era ao vivo. Nunca soube que tivesse havido uma baderna na Tabaris.
Até mais ou menos meus 21 anos, nos fins de semana, minha mãe só dormia depois das três e meia ou quatro horas, pois ficava esperando ouvir o barulho do "bonde coruja" chegando no fim da linha, travando, trocando a alavanca e voltando. Quinze ou vinte minutos depois eu chegava em casa.
Lá por 1959, passei a usar uma linha de ônibus que passava em frente a nossa casa, depois da meia-noite, de uma em uma hora. Aquela comunicação entre o bonde a minha mãe foi especial. Até hoje ela conta que vez ou outra sonha e acorda sobressaltada, por ter ouvido o bonde chegar no fim-da-linha. A única vez que saí dos trilhos, segundo a minha mãe, foi quando comecei a andar de ônibus, mas aí a velha tia não mais existia.
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