O carinho que muitos porto-alegrenses nutrem pela Carris é algo que merece destaque. Realizando nosso trabalho de buscar informações, depoimentos, objetos, entre outras coisas que nos ajudem a compreender esta história de 142 anos, encontramos pessoas com lindas histórias relacionadas com a empresa. Quando trabalhamos com as lembranças de antigos funcionários estas descobertas ficam ainda mais intensas! Recebemos em nosso acervo uma documentação que pertenceu ao senhor Pedro Carneiro Rodrigues, que trabalhou na Cia. Carris entre os anos de 1938 e 1971. O Sr. Pedro foi membro do Sindicato dos Trabalhadores da Cia. Carris, um dos fundadores do jornal "O Tranviário" (que era escrito pelo sindicato e distribuído para os sócios do mesmo) e também membro da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo, criada pelo sindicato para uso dos funcionários da Carris. O engajamento do Sr. Pedro no sindicato e em ações que buscavam proteger o trabalhador fica mais clara quando observamos parte de sua história de vida. Iremos transcrever trechos de um texto que nos foi entregue junto com outros documentos do sindicato e que contam parte desta história:
"(...) No dia 11 de novembro de 1918 terminou a Primeira Guerra Mundial. No mesmo dia nascia na casa de um casal modesto, que vivia em companhia do filho Mário de quatro anos, um menino que foi batizado as pressas por terem medo de que morresse pagão. Foi dado ao menino o nome de Pedro. Naquela época, devido a guerra, se espalhava uma doença mortal: a gripe espanhola. O casal de pais era formado pelo Sr. João e a Sra. Francisca (Chica). Ele era um trabalhador da Cia. Carris e ela era doméstica, eles tiveram mais dois filhos: Paulo que nasceu em 1920 e Iracema que nasceu em 1922.
A família vivia feliz, mas no ano de de 1922 Seu João morreu em um acidente de trabalho. Como não havia Previdência Social naquela época, a família ficou desamparada. A mãe foi morar junto com a avó e as duas começaram a lavar roupa para fora. Mário, com oito anos, foi trabalhar como cobrador de ônibus. Pedro, com sete anos, em 1925, foi trabalhar de ajudante de padeiro. Ele entregava pão em troca de um quilo de pão por dia para alimentar a família e uns trocados no fim de semana. Pedro dormia na padaria em cima de sacos de fermento vazios, na quadra dos fornos (...)".
Após vários empregos diferentes, o Sr. Pedro chegou na Carris aos 19 anos de idade:
"(...) No dia 3 de março de 1938 [Sr. Pedro] começou a trabalhar na Cia. Carris. Em 1939 entrou de sócio no Sindicato dos Trabalhadores da Cia. Carris. Em 1961 o presidente do sindicato propôs aos sócios em assembléia a criação de um jornal. A proposta foi aceita e foi criado o jornal "O Tranviário" do qual Pedro fez parte. Em outra assembléia, no mesmo ano, foi criada uma Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo. Pedro também aceitou fazer parte da mesma (...) em outra assembléia em 1962, o presidente propôs a criação de uma Colônia de Férias. Como os trabalhadores da Cia. Carris eram criativos, foi criada a Colônia de Féria 1º de Maio (...).
Pedro em sua passagem pelo Sindicato teve várias homenagens: da diretoria recebeu 'Menção Honrosa' por serviços prestados à categoria e 'Honra ao Mérito' por serviços prestados à diretoria durante o movimento "Pró Legalidade".
Consideramos a história do Sr. Pedro mais um exemplo da riqueza de informações que temos guardadas em nosso setor. Através de relatos como esse, podemos acessar vários aspectos do passado que nos ajudam a ter uma visão mais complexa sobre a vida dos trabalhadores, a organização da empresa, etc... Ficamos muito felizes por termos estes verdadeiros "tesouros" em nossas mãos.
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