terça-feira, 15 de setembro de 2009

Gremio Football Porto-Alegrennse - 106 anos de histórias

Pessoal, conforme comentei na postagem anterior, este espaço está aberto para receber os textos dos colegas que estão realizando estágio aqui no Museu. Abrimos com um texto do Marcos Luft(UFRGS). Particularmente, adorei a temática!Obrigada, Marcos.

“Todas as músicas tem a sua história. Quase sempre falam ao coração. Esta também fala ao coração: ao coração do mundo desportivo do Rio Grande do Sul”.
Assim, o jornal Diário de Notícias se referia à primeira vez que o hino do Grêmio de Foot-ball Porto-Alegrense seria tocado ao público. Hoje, 15 de setembro, o tricolor dos pampas completa 106 anos de histórias e títulos. E quando o torcedor ouve “Até a pé nós iremos, para o que der e vier”, se emociona e relembra as glórias passadas. O que pouca gente sabe é que esses versos têm relação com um acontecimento da história do transporte coletivo de Porto Alegre.
O jogo era Grêmio x Cruzeiro, valendo pelo 1º turno do campeonato da cidade. À época, um dos grandes clássicos do estado. A data era 21 de junho de 1953, domingo. O tricolor precisava vencer para ter chances de alcançar o Internacional na tabela, já que tinha perdido na rodada anterior para o Renner (que seria campeão estadual no ano seguinte). O local era o Estádio da Baixada, atualmente o Parcão (o Olímpico só seria inaugurado no ano seguinte). Só que haveria um grande problema para se chegar ao estádio.
Na sexta-feira, dia 19, os motoristas e cobradores da empresa SOUL (que à época fazia algumas linhas da zona norte) entraram em greve. Queriam aumento de salários. Na época, a inflação era grande. Diziam que “na maioria são homens que possuem os encargos de família e não podem consentir que o aumento de seus salários, presentemente irrisórios, seja retardado e não passe de promessas”. A resposta da prefeitura foi cassar a concessão das linhas da SOUL na zona norte. A Companhia Carris, na época empresa particular, pertencendo à norte-americana Bond & Share, contribuiu, para tentar normalizar a situação, reforçando as linhas de bondes dos bairros Floresta, Navegantes e São João.
No sábado, dia 20, foi a vez da empresa Teresópolis. O motivo era o mesmo: aumento de salários. “Somos chefes de família e não queremos prejudicar o povo com nossa parede [nome dado à greve naquele tempo]”. Membros da SOUL e da Teresópolis passaram a tentar convencer funcionários de outras empresas a aderirem à greve. Uma boa parte deles se solidarizou aos grevistas, complicando o transporte coletivo de Porto Alegre. O motivo continuava sendo o mesmo: “reivindicando, junto aos empregadores, uma melhoria de salários, em virtude dos seus orçamentos já não comportarem as despesas atinentes aos encargos da família, dado o crescente aumento do custo de vida, observado dia a dia”.
No domingo, dia do jogo, eram 122 carros parados nas garagens (haviam 239 em toda a cidade). Era uma das maiores greves já então vistas. As linhas São João, Glória e Teresópolis, da Carris, aderiram à greve, mas a empresa não aderiu totalmente. Outras linhas operaram com menor capacidade, já que a prefeitura e algumas empresas deslocaram ônibus para cobrir as linhas onde trabalhavam os grevistas. Uma dessas linhas prejudicadas era a Independência, servida por ônibus e bonde. Justamente a que os gremistas precisavam para chegar ao estádio (além da linha especial Futebol, como há atualmente). Os coletivos foram e voltaram superlotados. Muitos até a pé foram, originando a primeira frase do hino gremista.
Na terça-feira, dia 23, a greve foi encerrada, com a promessa de aumento de 70% nos salários dos motoristas, e 60% no dos cobradores. Essa greve provocou uma reação da prefeitura, que resolveu encampar (ou seja, assumir o controle) todas as empresas incapazes de cobrir esse aumento e de investir na melhoria de seus carros. Em 1953, diversas empresas foram encampadas pela prefeitura, inclusive a Carris.
Quanto ao jogo, que segundo a imprensa, foi fraco, o Grêmio, desfalcado do craque Tesourinha, que havia sofrido um acidente de carro dias antes, venceu por 1x0, com gol de Milton. O Grêmio jogou com: Sérgio, Pipoca e Orli; Hugo, Laerte II e Joni; Milton, Gringo, Mujica, Camacho e Torres. Já o Cruzeiro veio com: Deoli, Machado e Rui; Laerte III, Casquinha e Xisto; Tesourinha II, Hofmeister, Orceli, Nardo e Jarico.
Após o jogo, o repórter do jornal Diário de Noticias, Wilson Muller, pediu a Lupicínio Rodrigues que composse uma marcha para o cinqüentenário do clube. Nos dias (ou melhor dizendo, nas madrugadas) seguintes, se encontraram Lupicínio (ou Lupi), Ruy Silva, o escritor, Campanella, orquestrador, e Silvio Luiz, cantor da Rádio Farroupilha. No dia 16 de agosto, já pelo 2º turno do campeonato da cidade, numa vitória de 2x0 sobre o Aimoré, de São Leopoldo, o hino foi ouvido pela primeira vez pelos torcedores, pela Rádio Farroupilha, com o som sendo reproduzido pelos alto-falantes do estádio.
E assim surgiu um dos maiores símbolos do futebol gaúcho: o hino tricolor, numa relação quase desconhecida com o transporte coletivo de Porto Alegre. Ao final de tudo, o Grêmio perdeu o 1º turno do campeonato da cidade. O campeão foi o Internacional, após empatar o Gre-Nal decisivo do dia 5 de julho por 1x1, no Estádio dos Eucaliptos.

Marco Luft

Boas vindas!

As visitas do Memória, às escolas da cidade, estão recheadas de novidades. Nosso museu está contando com a participação de uma “turma da pesada”. Marcos (UFRGS), Ben Hur (IPA) e André (IPA) que estão realizando o estágio curricular aqui na Carris. As próximas escolas, que receberem a visita do Museu, poderão usufruir das “ histórias e memórias” que esta galera irá acrescentar ao projeto.

Gostaria de expressar que estou muito feliz em poder dividir esta experiência com colegas que estão trilhando a sua formação, assim como eu. Posso assegurar que o dia-a-dia com o Museu Itinerante Memória Carris é, no mínimo, uma vivência enriquecedora, em todos os aspectos. Durante o trabalho, a cada atividade exercida, acrescento elementos que vão contribuindo para o meu amadurecimento profissional e pessoal. A convivência com crianças e adolescentes nas escolas revela-se uma “caixinha de surpresas” a cada visita. É incrível como estamos fadados a eternos aprendizes. A princípio, chego às escolas, na qualidade de monitora, para levar informação, no entanto, esta prática torna-se recíproca. A cada encontro novas experiências, “um novo retalho a ser tecido na gigante colcha da vida” . Quanto ao trabalho de pesquisa, devo confessar que 137 anos de empresa exige que, às vezes, nos transformemos em “ratinhos”, ou seja, entrar num arquivo e esquecer que há vida fora daquelas paredes (risos). O que dizer sobre este blog e o Volante (jornal interno da Carris, no qual escrevo uma coluna mensal)? Cada texto uma barreira vencida, acho que é mais ou menos assim que percebo este grande desafio. Sem falar nos colegas da Carris que convivo semanalmente, suas particularidades compõem uma pluralidade extremamente interessante de se partilhar.

A participação do André, do Ben Hur e do Marcos, com certeza, será mais um momento que possibilitará uma belíssima troca de experiências. Além da participação nas escolas, este espaço estará aberto para que eles possam postar seus textos, dividindo com a gente suas “histórias e memórias”.