quarta-feira, 23 de abril de 2008

Como se fazia nos bairros onde o bonde não ia? (parte II)


<><>Já vimos em postagem anterior que os períodos iniciais do transporte público foram repletos de dificuldades. A medida que a cidade crescia, a situação tornava-se mais problemática. Os bondes não alcançavam as regiões mais afastadas dos centros urbanos e as estradas não tinham pavimentação, a maioria de chão batido.
<><>Em algumas regiões, nem os primeiros ônibus conseguiam chegar. Nesse caso, havia o famoso padeiro que, levando o pão às residências, fazia também o transporte dos que precisavam se deslocar. Como não havia comércio nos bairros mais afastados do Centro, era ele o elo de ligação dos moradores com as outras regiões. Para aqueles que precisavam ir ao centro diariamente, a solução era adquirir uma carroça. Era assim que faziam os mascates, quando iam ao Mercado Público vender seus produtos. Na Vila Nova, por exemplo, só foi construída uma estrada em 1912, ligando Cavalhada ao bairro Belém Novo. O primeiro coletivo que fez o trajeto direto Vila Nova/Centro é da década de 30 e pertenceu a João Samarani. O veículo era um Ford 1929, tinha oito horários diários saindo da frente da Igreja São José e era todo aberto, com bancos de madeira.
<><> Em 12 de maio de 1931, a Prefeitura de Porto Alegre firma contrato com Carris , que se propôs a explorar o serviço urbano de auto-ônibus. O serviço passa a ser combinado entre os bondes e os veículos. A companhia, para uso desse transporte conjugado, emitiu um cupom de formato especial, que tanto servia no bonde como no ônibus. Devido ao aumento de passageiros, passou-se a utilizar também os antigos bondes a mula como reboque, para transporte de cargas e passageiros. Com os primeiros ônibus vieram os primeiros automóveis, que eram vistos com desconfiança por soltarem no ar uma espessa camada de fuligem e sujeira. Além disso, os acidentes envolvendo bondes, ônibus e carros assustavam os que utilizavam o transporte público. A foto acima é do primeiro ônibus que percorreu o bairro Vila Nova.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Tempo do Bonde


O texto transcrito abaixo é de autoria de Sérgio Knijinik:

<><> Passou o tempo do bonde, como passou o tempo dos "veraneios" em Ipanema, dos bailes da Reitoria, das lambretas e dos blusões de couro. Bonde foi trocado por ônibus, bailes por discotecas e lambreta por motocicleta. E as praias do Guaíba? Nem se fala... Bonde significava progresso na capital, significa encostar o ouvido no poste, para saber se ele ainda iria demorar. Significava botar tampinha de garrafa nos trilhos, para o bonde passar por cima e colecionarmos "Moedas" de Coca-Cola... Andar de bonde significava não ter pressa, viagem lenta, dava tempo de ver a cidade. Claro, quando não faltava força e o bonde parava horas sem fim nas ruas de Porto Alegre. Andar de bonde significava pagar a passsagem se a gente estivesse com vontade, porque poderia não pagar e ficava tudo na mesma. O condutor marcava o número de memória, puxando um marcador no teto, não existindo roleta nem desconfiança com o seu trabalho. Andar de bonde não era bem o termo, o certo era passear de bonde, dia de jogo o "Futebol!" saindo lotado dos Eucaliptos largando gente pelos estribos. O bonde, na verdade, significava um pouco mais que o veículo de transporte que a cidade perdeu: significava quase uma marca registrada de Porto Alegre, um pouco do seu bucolismo e poesia. O desaparecimento do bonde não deixou de ser simbólico: com os bondes morreram as profissões de motorneiro, condutor, transviário (aqueles que trabalhavam nas oficinas da Carris), morrendo também uma parte importante de cada um de nós. Morreu o bonde morreu o "veraneio" nas praias do Guaíba, morreu o estádio dos Eucaliptos e dos bailes da Reitoria.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Como se fazia nos bairros onde o bonde não ia?


<><>Para quem diariamente usa o transporte público para se locomover é difícil imaginar como eram os primeiros veículos. O bonde, tradicional nas ruas da Capital, não chegava a todos os bairros de Porto Alegre. Muitas regiões ainda não tinham calçamento, além do que, era necessário instalar trilhos e cabos. Portanto, é comum encontrar, em regiões mais afastadas do centro ou dos bairros tradicionais, pessoas que nunca andaram nos elétricos, mesmo sendo contemporâneas deles. E como elas se locomoviam?
<><>O primeiro ônibus na capital surgiu em 1926. Iniciativa do imigrante português Amador dos Santos Fernandes, era um modelo Chevrolet Pavão, comprado da empresa Barcellos & Cia. Amador chegou no sul do Brasil em 1908, em Rio Grande, acompanhado da irmã e mãe. Quando tinha 18 anos sua família voltou para Portugal, mas ele resolveu ficar e residir em Porto Alegre. Ele e o motorista de táxi Manoel Ramirez foram os responsáveis pela introdução dos primeiros ônibus na capital gaúcha.
<><>Como Amador não sabia dirigir, trabalhava como cobrador enquanto Manoel dirigia o veículo. A linha do ônibus iniciava-se no Caminho Novo (Voluntários da Pátria) e ia até o bairro São João, onde os bondes não trafegavam, pois tinham a parada final na Rua São Pedro. Sem itinerários e horários definidos, ao chegarem no fim da linha perguntavam para os passageiros para onde esses iam e, de acordo com as respostas, colocavam as placas correspondentes. No entanto, devido à concorrência que faziam aos bondes, em 1928 publicou-se um decreto regulador dos transportes. Amador, em decorrência desse fato, começou a transportar passageiros entre Porto Alegre e São Leopoldo, fundando a Empresa Amador (atual Central). Ou seja, dessa vez ele faria concorrência com o trem, que fazia esse trajeto.
<><> As dificuldades eram imensas para esses primeiros empreendedores. As estradas praticamente não existiam e os primeiros veículos eram extremamente precários. O Ford Bigode, por exemplo, um dos primeiros veículos a circular na Capital, só subia a Rua da Praia de marcha ré. Além disso, devido Àfalta de legislação, a concorrência era grande entre os veículos. Alguns, para se diferenciaram, chegaram a contratar gaiteiros para tocar durante o trajeto.
<><> Acima a foto do primeiro ônibus, um Chevrolet Pavão. A figura em destaque é o senhor Aamdor, pioneiro no transporte rodoviário.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Parabéns, Porto Alegre!


<><> Porto Alegre completou na última semana 236 anos de história. Embora existam divergências quanto à data da comemoração, a Capital tem como dia oficial de sua fundação a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, em 26 de março de 1772. No entanto, o início do povoamento tem data anterior. Os campos da cidadel foram povoados por criadores e tropeiros vindos de Laguna (SC) e de campos do planalto sul-brasileiro. Mais tarde, os pioneiros Jerônimo de Ornelas, Sebastião Francisco Chaves e Dionísio Rodrigues Mendes receberam as primeiras sesmarias, que eram terras doadas pelos reis de Portugal.
<><> Desses 236 anos, em 136 a Carris esteve presente. Desde os tradicionais bondes a mula até hoje, com os modernos ônibus, a empresa marcou muito a trajetória da Capital gaúcha. Na delimitação das ruas, dos bairros e avenidas a Carris exerceu papel central, pois promoveu, durante muito tempo, o principal meio de transporte: os bondes. Neste ano a Carris se fez presente nas comemorações e nós, do Memória Carris, participamos das festas no Brique da Redenção, que no último domingo (30/03) completou 30 anos.
<><>Inspirado nos modelos da França e Argentina, o antigo “mercado das pulgas” é, ainda hoje, um dos pontos mais tradicionais da cidade de Porto Alegre. Localizado na Avenida José Bonifácio, espaço concedido após forte campanha da imprensa, e que abrigou, inicialmente, somente antiguidades. Hoje ele tem 180 expositores de artesanato, 70 de antigüidades, 40 de artes plásticas e 10 de gastronomia. É um ponto de encontro aos domingos e consegue ser ao mesmo tempo shopping de antiguidades e artesanatos, tribuna política (diversos grupos aproveitam a ocasião para divulgar e fazer campanhas) e centro cultural.
<><>Nesse duplo aniversário, foi organizada uma grande festa com a participação do prefeito e direito a bolo de aniversário. O Memória Carris esteve presente ao lado do palco, que contou, aliás, com diversas atrações, desfile de carros antigos, bandas e o “Meu Amigo Elvis” (ator que interpreta músico). Recebemos dezenas de visitantes que compartilharam as histórias da capital e suas saudades da antiga Porto Alegre. Devido a grande movimentação no evento, havia filas para a visitação do Memória.