terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Centésima Postagem



<><> Estamos de parabéns! Esta é nossa centésima postagem com um ano e dois meses de blog na rede. Agradeço a todos os e-mails, recados e solicitações enviadas. Que o ano que vem seja de maior crescimento e alegria para todos nós. Desejo a todos um feliz natal e um ano novo de muita alegria. Dia 08 de janeiro estou de volta com novidades e pesquisas sobre o transporte coletivo.

Dia do Mecânico


<><>Dia 20 é comemorado o Dia do Mecânico. Na Carris, a data é relembrada todos os anos, os funcionários recebem homenagem e os parabéns que merecem. Esse ano teve o tradicional churrasco e lembranças.
<><>No dia-a-dia dos rodoviários, os mecânicos são as figuras menos vistas pela população. No entanto, são essenciais para o bom andamento do trânsito e o funcionamento do transporte coletivo. A manutenção é um dos únicos setores da Carris que funciona 24 horas por dia para que os ônibus circulem nas ruas em perfeito estado. São os trabalhadores por trás das cortinas, como já mencionei neste espaço, que trabalham todos os dias para que o espetáculo seja perfeito.
Historicamente os mecânicos estiveram presente em vários momentos na história da Companhia. Na década de 50, frente ao sucateamento dos bondes, eles desempenharam um importante papel na manutenção dos serviços prestados pela Carris. Na época a Bond & Share, empresa norte-americana, não tinha mais interesse no serviço de bondes. Assim, investimentos eram cortados visando seu sucatemeamento. O resultado foi o encampamento da empresa de bondes pela prefeitura em 1953, pelo então perfeito Ildo Menegheti.
<><>No momento em que a prefeitura assumiu a companhia havia um imenso “cemitério” de bondes, fruto do descaso com o transporte coletivo. Os mecânicos eram proibidos de consertarem os veículos. Quando um bonde estragava ia direto para o depósito. Assim, quando o poder municipal assumiu, havia somente 70 veículos funcionando e cerca de 46 estavam prestes a virar sucata.
<><>Antônio Aranha foi quem assumiu a Carris após a intervenção. Logo que pôde chamou Sarubby de São Paulo – especialista em renovação de carros - e em três meses toda frota já estava em circulação. Nada teria sido feito, contudo, sem a atuação dos mecânicos.
<><>Não só no passado, mas atualmente eles continuam sendo indispensáveis para que os serviços prestados aos passageiros se dêem em perfeita ordem. Aqui estão disponíveis fotos da manutenção na época dos bondes. Divirta-se.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Final de ano


<><>Sexta feira passada foi a última visita do Memória este ano. Fomos a uma escola infantil no bairro Higienópolis. Mais um ano passou para o museu da Carris. Um ano incomum, podemos dizer, de várias datas fechadas para a história da empresa: cem anos da inauguração dos bondes elétricos, 35 anos da sede na Albion e 135 anos da primeira viagem de bonde em Porto Alegre.
<><>Parece ser ponto comum dizer que o tempo passa rápido, que quando percebemos tudo já acabou. Isso se deve muito ao ritmo de vida que temos nas grandes cidades. A percepção de tempo torna-se acelerada, em uma velocidade em que muitas vezes não conseguimos abarcar.
<><>O mais interessante de trabalhar num local como o Memória é a diversidade de experiências. Todas as semanas visitamos escolas novas, com pessoas diferentes, em locais diversos. Isso proporciona para nós, também, uma visão nova da Capital, com seus vários bairros diversificados. Isso acaba gerando, também, esta percepção de tempo acelerada. Logo colocarei aqui um gráfico das regiões visitadas e da soma dos visitantes deste ano.
<><>Resolvi falar um pouco sobre isso hoje, por estar com esta sensação tão senso comum, atualmente. Que os dias e meses de 2008 passaram rápido demais, que eu nem percebi e já faltam duas semanas para 2009. Contudo, se formos refletir, fizemos muito neste ano, crescemos e desenvolvemos projetos. Talvez, também, por termos realizado tanto, o tempo torna-se mais curto. Creio que no próximo ano poderemos ampliar o que já temos feito com o Memória e, quem sabe, inovar em muitos aspectosa, ampliando os conhecimentos e o aprendizado. As crianças e os adolescentes, assim como a história da Carris, merecem.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Paradas de Bondes


<><>Quando falamos em bonde elétrico, boa parte das pessoas imagina que no trajeto não havia paradas e que as pessoas podiam descer e subir quando quisessem. Isso é porque a imagem que temos dos elétricos vem de filmes e novelas em que aparecem os passageiros fazendo isso livremente. Outra representação que é recorrente, mas que não se verifica em todos os casos, é os bondes como veículos abertos. Em Porto Alegre, assim como em outros estados, boa parte do tempo eles foram fechados.
<><>No início dos elétricos na Capital, as paradas eram nas esquinas o que causava evidentes transtornos. Com o passar do tempo, foram colocadas paradas nos lugares apropriados. No entanto, muitos continuavam descendo fora delas, mais perto de suas residências. Isso ocorria porque o bonde, especialmente no início, não era muito rápido (em torno de 15 km/h). Isso, evidentemente, não era aconselhável, pois os riscos de acidentes eram vários, e muitos realmente ocorreram enquanto os veículos andavam nos trilhos.
<><>As fotos que temos de paradas são muito lindas. Infelizmente, não há nenhuma colorida, mas como imagens antigas tradicionais, nos fazem pensar sobre uma porção de coisas. Quantas pessoas por ali passaram? Quantos aguardaram em certo momento seu bonde, para encontrar amigos, a namorada ou ir à escola? Quantas histórias estes lugares nos contariam se falassem? Quem são esses indivíduos anônimos que aparecem nas fotos? Como era sua vida, família, relacionamento?
<><>Mais do que a história da própria Carris, estes lugares nos relatam a trajetória de dezenas de pessoas que por ali passaram em certo momento ou muitas vezes, talvez todos o dias. É por isso que os bondes são objeto do imaginário da cidade. Eles representam a vida urbana em certo momento em Porto Alegre.
<><> Bem, me inspirei para falar das paradas porque ontem coloquei no ar, no Museu Virtual, um novo álbum das paradas de bonde e ônibus em Porto Alegre. Acima, foto do fim da linha do bonde Navegantes, em frente à escola Normal Primeiro de Maio, tema da última postagem.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Escola Primeiro de Maio


<><>Essa semana é a última de visitas do Memória este ano. A maioria das escolas já está entrando em recesso e nos colégios já podemos sentir as expectativas das férias que se aproximam. Amanhã visitamos a escola técnica Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e sexta uma instituição infantil no Higienópolis. Ontem fomos à Escola Normal Primeiro de Maio.
<><>Este colégio tem algo peculiar em relação a outras que visitamos geralmente. É uma instituição que foi tradicionalmente de meninas e tem atualmente 74 anos de história. O prédio fica na Presidente Roosevelt, no bairro Navegantes, Zona Norte de Porto Alegre. Formava, no início de sua construção, normalistas, professoras que se dedicavam ao ensino de pré à quarta série. Hoje, embora o nome da escola continue como Escola Normal Primeiro de Maio, o nome do curso mudou e se intitula Magistério.
<><>A região em torno do local, quando foi inaugurado, era caracterizada pela imigração alemã (assim como o IAPI) e por ser uma região industrial. A inauguração dos antigos trens, em 1874, dinamizou o bairro e o interligou com as cidades vizinhas. Contudo, ele me chamou a atenção por na frente dele, há algumas décadas, passar uma linha de bondes da Carris.
<><>Hoje, em frente ao colégio tem uma parada de ônibus, exatamente onde havia uma de bonde há algumas décadas. Em frente à escola transitava a linha de bondes Navegantes, que ia do bairro à Praça Senador Florêncio (Alfândega), no centro da Capital. A ligação com o Centro traria o desenvolvimento para o bairro, além de mais alternativas para a população, majoritariamente operária.
<><>Nós temos duas lindas fotos dos elétricos transitando em frente a esta escola. É um bonde modelo Worcester, que veio na última aquisição da Carris em 1946. Desses vieram 25 para a Capital, tinham capacidade para 44 passageiros e eram dos maiores, com dois trucks. Uma das fotografias que possuímos é colorida e foi doada pelo José Kieling Franco.
<><>Havia planejado levar uma das fotos para mostrar para as turmas que visitassem o Memória. No entanto, na correria acabei esquecendo, mesmo assim convidei os alunos a visitarem nossa página para visualizarem as fotos antigas de sua instituição. Uma forma de conhecer as interligações entre o passado do transporte e o de seu próprio colégio. As linhas do passado sempre se interligam, num conjunto que dá sentido ao presente.
<><>Acima foto do bonde em frente à escola.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Patrimônio Imaterial


<><>Embora não possamos tocar ou manusear, a memória coletiva pode ser considerada um patrimônio público. Ela está na vida daqueles que não só leram sobre história, mas a vivenciaram, refletiram sobre ela e criaram sua visão a respeito do acontecido. O transporte é assim. Possivelmente muitos não saibam muitos dados a cerca da história oficial da Carris, ou dos bondes, mas para os que vivenciaram este tempo o importante é o que se guardou dele.
<><>Numa visão antropológica, patrimônio não é o monumento ou prédio em si, mas a importância que ele tem para determinado grupo social. Assim, a história do transporte não tem uma valorização sozinha, antes ela adquire significação conforme ela é incorporada à vida das pessoas que participaram de sua trajetória.
<><>O relato que coloquei na penúltima postagem, do senhor Clóvis, pode ser entendido dessa maneira. Em nenhum momento ele cita a história oficial da Carris, mas coloca, de forma cativante, como os bondes marcaram um importante período de sua vida, a infância. Para ele, o rangir das rodas, assim como outros barulhos tradicionais do veículo, ficaram para sempre marcados em suas lembranças.
<><>Clóvis fala dos reclames de bonde, velhos conhecidos dos que transitavam nos veículos. Diferente de hoje, quando as propagandas só podem estar na parte externa dos ônibus, nos elétricos elas ficavam por dentro e por fora. E eram de uma forma bem inusitada, de quisermos utilizar uma visão contemporânea de propaganda. Xarope Bromil, sabonte Limol, entre outros faziam a viagem de bonde tornar-se mais divertida e menos cansativa. A ilustração acima foi tirada daqui, página do engenheiro Werner Vana. Ótima, recomendo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Patrimônio Material e Imaterial


<><>Muito se tem falado em patrimônio ultimamente. Isso se deve tanto à ação de órgãos governamentais, como o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como dos profissionais que trabalham desenvolvendo uma conscientização da sociedade. Nos últimos anos vários prédios foram tombados e tornaram-se patrimônio da humanidade.
<><>No entanto, na maioria das vezes, tratamos patrimônio como algo imóvel, meio mistificado e distante de nossa realidade cotidiana. Quando vemos um prédio histórico, admiramos sua beleza, sua arquitetura, decoração, etc, mas dificilmente conseguimos nos sentir parte dele, integrantes do que ele representa. Isso se deve à distância que sentimos em relação ao que eles geralmente simbolizam.
<><>Não quero com isso desvalorizar os monumentos ou patrimônios materiais, pelo contrário, o que desejo é mostrar que o conceito de patrimônio é muito mais amplo do que geralmente imaginamos. Segundo a Unesco, existe um patrimônio imaterial, representado pelas músicas, conhecimentos, narrativas, etc. Eles são criados no cotidiano das comunidades, no modo de cada sociedade viver e transmitir seus aprendizados às futuras gerações.
<><>Inserido nesta concepção, podemos colocar o transporte. Ele, normalmente, não pode ser representado por um prédio, por um monumento, mas marca cotidianamente a vida de quem anda pela cidade. Não é a toa que o bonde é lembrado com tanta nostalgia. Ele marcou, durante um longo tempo, o dia-a-dia de Porto Alegre, o ir e vir das diversas regiões. Pela sua janela, os porto-alegrenses viam sua cidade crescer e ficavam entusiasmados com “o progresso”.
<><>Na próxima postagem, continuo falando sobre isso. Acima foto colorida de um bonde na Oswald Aranha em Porto Alegre. Essa foto foi doada por José Luís Kieling Franco.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Continuação...



O gaiola voltou a andar, gingando nos trilhos como aquele rebolado que mais parecia o da mulher da Pharmacia Carvalho. Meio minuto depois comecei a achar a guria feia e voltei a olhar os reclames. Lá estava o homem com o bacalhau nas costas. Deus do céu! Que coisa mais horrorosa aquele óleo de fígado de bacalhau, chegava a embrulhar o estômago. Ao lado do bacalhau estava o vinho Reconstituido Silva Araújo. Mas que palavra mais feia aquela, reconstituinte. Que será que significava? Credo, pense cá com meus botões, como tem palavras esquisitas. Então me lembrei daquela vez em que o tio José trouxera garrafão de vinho doce e bebi uma caneca inteira. Além de ficar tonto e me esborrachar no chão, levei uma baita tunda do meu pai.
Quando o bonde fez a curva na Casa Guaspari e entrou no abrigo da Praça Quinze, o motorneiro avisou que o bonde gaiola voltaria para o fim da linha, no Gasômetro, e que a gente deveria fazer baldeação. Troquei de bonde e continuei minha viagem, com a cabeça no ar, contando os postes, até descer na parada do colégo. No dia seguinte os bondes foram recolhidos, e com eles, um pedaço da minha infância.

Acima foto da despedida dos bondes. Na próxima postagem analisarei o relato do senhor Clóvis Milton.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Histórias de bonde (parte II)

A história reproduzida aqui é de autoria de Clovis Milton Duval Wannmacher, natural de Porto Alegre e vencedor do concurso de relatos de histórias de bonde, realizado em 2002.

A última viagem de bonde

Desci a Rua Clara até a Rua da Parais e corri em direção à parada de bonde, o frio castigando as pernas por causa das calças curtas. Em seguida ouvi o rangido do bonde Gasômetro. Era um bonde Gaiola, cantando e dançando sobre os trilhos.
Tem lugar, vamos dar um passinho ao fundo do corredor, repetia o motorneiro. Não dei bola e sentei-me num banco lateral da frente, de onde podia bisbilhotar os outros passageiros. Para me distrair comecei a ler os reclames afixados no bonde. Lá estava o xarope Bromil, o amigo do peito. E eu, que tinha chiado no peito, fiquei a matutar se algum dia ainda consideraria o Bromil tão amigo quanto o Heron, meu colega da quarta-série e filho de um cobrador de bonde. Aquele sim, era meu amigo do peito. A gente matraqueava até nas aulas de religião. Também, quem poderia agüentar quieto o padre Horácio, mais xarope do que o tal de Bromil
O bonde parou em frente à Pharmacia Carvalho. Na fachada havia reclame da Tomada São Lázaro, um santo remédio. Mas como é que um remédio podia ser santo? Só que o São Lázaro fazia tomada, e o padre Horácio benzia as latinhas. Vi de relance a mulher da Pharmacia Carvalho, bem bonita, apesar de já ter mais de 20 anos.
Continuei lendo os reclames. Contra dores, queimaduras, torcicolos, torceduras, reumatismos, contusões, um remédio eu já usei e pronto alívio encontrei, com Pronto Alívio Radway. Meu Deus, pensei, o que seria o Radway? Não tinha a mínima idéia, mas me lembrei de que na Rádio Farroupilha eles cantavam “raduei” e tudo ritmava direitinho. Quando eu me queimei aquela noite com aquela busca-pé na noite de São João, o doutor passou o tal remédio na minha queimadura, e eu senti um friozinho gostoso que aliviou a dor. Só não aliviou a dor dos cascudos que a vovó me aplicou, dizendo que era bem feito. O gaiola parou, esperando a passagem de outro bonde pelos trilhos da frente. Uma guria da minha idade sentou-se à minha frente. Grudei nela e fiquei um baita tempo secando, só para ver se ela me dava bola (...) Continua na próxima postagem.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vigotsky


<><> Já escrevi sobre Piaget aqui. Ele e Vigotsky não chegaram a conviver, mas foram contemporâneos. O primeiro nasceu na Suíça, o segundo, na Rússia. Nos dois há pontos em comum, tanto a data de nascimento, 1896, como a preocupação com o estudo do desenvolvimento e aprendizagem. No entanto, enquanto o suíço entendia a psicologia cognitiva do indivíduo para o coletivo, o russo compreendia o processo de maneira inversa. Os dois não chegaram a se encontrar, mas Vigostky teve contato com alguns textos de Piaget.
<><>Segundo o psicanalista russo, todo conhecimento é socialmente construído e depende da relação estabelecida entre o indivíduo e seu mundo sócio-cultural. O papel da linguagem e da aprendizagem em grupo, nessa relação, é fundamental. Para Vigotsky, existem as funções psicológicas elementares, que são os impulsos naturais (como dor, fome, etc) e as funções psicológicas superiores, que exigem da criança certo grau de reflexão. Para o desenvolvimento das últimas, é fundamental o papel do mediador, que pode ser o pai, a mãe ou o professor.
<><>Eu concordo com o Vigostky. Acredito que as capacidades cognitivas são estimuladas através do meio no qual as crianças estão inseridas. Pelo menos, é o que tenho observado nas crianças com quem tenho contato. A relação dos pequenos com a realidade exterior é mediada por um adulto (ou outro ser) que transmite desde os nomes dos objetos até valores morais e culturais. É claro que nesta interação não existe uma mera repetição, antes cada informação é retrabalhada internamente pelo indivíduo.
<><>Nas visitas do Memória é possível perceber níveis diferentes de aprendizagem e conhecimento em crianças da mesma faixa etária. Isso porque a estimulação do meio é diferenciada, assim como a maneira como o conhecimento é visto. Por exemplo, consigo perceber que quando as crianças já estão trabalhando sobre o transporte ou visitaram o blog ou o Museu Virtual, o conhecimento flui muito mais. É claro que sempre é possível construir aprendizagem, mas quando há um conhecimento prévio ou as habilidades já são trabalhadas, o resultado costuma ser melhor.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Fichas de Porto Alegre


<><>Em Porto Alegre, desde o ano passado, foi implantado o Tri. O Sistema Integrado de Transporte, também chamado de bilhetagem eletrônica, tem como objetivo facilitar o fluxo nos coletivos. Com um cartão na mão, os usuários não precisam se preocupar com fichas e moedas. Nós, da Carris, temos o cartão Tri de rodoviário e eu o utilizo junto com meu crachá da empresa. Ele é um das coisas que as crianças mais percebem num primeiro contato. Para quem utiliza este sistema torna-se distante o tempo das fichas e bilhetes. Nada como relembrarmos, portanto.
<><>No Memória existe um expositor com vários tipos de tickets usados por bondes e ônibus ao longo da história da Carris. Há várias passagens de papel (para espanto das crianças) e uma tradicional dos elétricos, de metal, com um aspecto que lembra a roda de um bonde. Todos esses já foram vales - transporte em um certo período na Capital. No caso dos de papel, vinham em bloquinho ou em rolinhos e eram destacados de acordo com a necessidade. Muitos me perguntam espantados como se fazia em dias de chuva ou se molhassem. Respondo que se deixava secar ou perdia-se, ficando-se com o prejuízo.
<><>Antes da década de 80 cada empresa tinha os seus vales e as tarifas eram diferentes, de acordo com o trajeto percorrido. Assim, é comum encontrar, em nossas passagens, na identificação, o nome da empresa. Fico imaginando como era num dia atípico em que o usuário necessitasse pegar um ônibus diferente dos tradicionais. Bem, a necessidade é a mãe das invenções.
<><>As últimas fichas de Porto Alegre são de plástico, as integrais são verdes e as de estudante são rosa. Geralmente se comprava de saquinho, contendo 50 ou 75 vales. Por ser muito utilizadas, as passagens também eram “moeda corrente”, podendo ser trocadas por sorvete, chocolate ou qualquer outra guloseima. O interessante é que está prática é histórica. Nos primeiros bondes que transitaram no Brasil, as passagens eram aceitas como moeda de troca por mercadorias em diversos estabelecimentos. Já escrevi sobre isto aqui. A história não se repete, mas acontece de forma bastante análoga, podemos afirmar.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Semana da Ciência e Tecnologia


<><>De 20 a 26 de outubro neste ano, no Brasil, ocorre Semana de Ciência e Tecnologia. Evento que já está se tornando tradicional no Brasil - acontece desde 2004 - tem a cada ano aumentado o público e as ações em instituições e escolas. Em 2007, por exemplo, foram realizadas quase dez mil atividades, em cerca de 400 cidades e com a participação de aproximadamente 1, 4 mil instituições de ensino e pesquisa e entidades diversas.
<><>Os objetivos, segundo a página do evento, são mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades de ciência e tecnologia, valorizando a criatividade, a atitude científica e a inovação. Pretende também chamar a atenção em relação à importância dela para a vida de cada um e para o desenvolvimento do país. Desta maneira, ela visa contribuir para que a população possa conhecer e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas científicas e tecnológicas e suas aplicações.
<><>A coordenação geral da semana é de responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Departamento de Popularização e Difusão de C&T da Secretaria de C&T para a Inclusão Social. No entanto, para a organização e a realização dela, contam com a participação ativa de governos estaduais e municipais, de instituições de ensino e pesquisa e de entidades ligadas à C&T de cada canto do País. Os eventos são gratuitos e abertos a comunidade em geral.
<><>Este ano, em virtude das eleições deste domingo, a Semana de Ciência e Tecnologia será em novembro de 3 a 11 de novembro. O Memória também participará não só nas visitas às escolas, mas no domingo (dia 9), quando iremos ao Parque Farroupilha.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mês das Crianças (parte II)


<><>No último domingo comemorou-se no Brasil o dia da criança. Já falei sobre a criação da data em outra ocasião, hoje gostaria de me deter em outros aspectos dela atualmente. Especialmente no que significa ser criança.
<><>Há alguns anos, criança era um adulto em miniatura. As roupas e os brinquedos revertiam para as funções delegadas aos pequenos no futuro. No entanto, atualmente, estas coisas mudaram bastante. Não que muitas brincadeiras tenha perdido seu brilho e seu encantamento. Pelo contrário, o pião, a amarelinha e pipa ainda são maravilhosos entretenimentos. Contudo, hoje, ser criança é um mundo, com teorias, implicações e necessidades próprias dele.
Já ouvi diversas vezes que criança é complicada, que elas são complexas e difíceis de entender. Porém, tenho para mim, que somos nós, adultos, quem complicamos as coisas. Para os pequenos o mundo é mais simples. Se machucou, pede desculpa (ou nem pede), esquece e brinca junto daqui a meia hora. Faz amigos com facilidade e conta de sua própria vida, sem receios, sem refletir antes. São imaturas, inocentes (na maior parte das vezes) e dizem realmente o que pensam, nisso está seu encanto e sua diferença em relação à nossa percepção da vida.
<><>A infância é a fase da vida que as pessoas em geral mais lembram. Isso mesmo que ela tenha sido difícil e um pouco triste. Mesmo que a vida melhore com o decorrer do tempo, os anos áureos da infância continuam a fazer parte da memória. Acho que é porque na mente da criança é criado um mundo à parte, em que a fantasia se confunde com a realidade e em que todos os problemas se resolvem com simplicidade. Os anos passam e não nos lembramos como as coisas “realmente eram”, mas como na nossas cabeças elas funcionavam.
<><>Domingo estivemos no Criança na Avenida na Cristóvão Colombo. Durante a manhã recebemos uma visita inusitada, a filha, o genro e o neto do Chefia. Eu ainda não os conhecia, mas já havia ouvido falar muito deles, especialmente do neto, Felipe, colírio dos olhos do avô. Acima foto dos três (Chefia, filha e neto) em homenagem a esta linda família.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Retificação

<><> Régulo Franquine Ferrari, arquiteto e Técnico da Gerência de Projetos Estratégicos de Transporte da EPTC (Empresa Pública de Transporte Coletivo), avisou-me de um erro em meu texto, postado aqui, sobre os trolleybus. Segundo ele, trolley na verdade é o nome da conexão com rodinhas do varão com o fio. Designa também qualquer pequeno carrinho que ande sobre roldanas, e é uma palavra usada em equipamentos de engenharia. Eu havia colocado que o nome referia-se ao nome do bonde nos Estados Unidos, Trolley (elétrico).
<><> Obrigada, Régulo, pela correção.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Escolas Infantis




<><>Quando comecei a trabalhar no Memória um dos meus desafios eram as escolas infantis. Não que eu não gostasse de crianças, pelo contrário, mas a dificuldade era saber o que falar para os pequenos. Nesta idade, elas ainda não desenvolveram a capacidade de escutar e realmente não conseguem se deter em nada que ultrapasse cinco ou dez minutos. E isso, imagino, já é um grande sacrifício.
<><>Até a época do colégio, os pequenos se distraem com qualquer coisa. Com o calor ou com o frio, com a borboleta e com a formiga. Qual a solução? A minha foi falar o mínimo, dar ênfase nas palavras novas, como bonde, e deixar eles verem o que há no museu. A frustração deles é o fato de não poderem tocar nos objetos. Onde já se viu (devem pensar)? Teve uma vez que vi um deles comentar com o colega que depois a gente tiraria “os vidros” para eles brincarem com as coisas. Imagina!
<><>Quanto maior a idade, mais se pode falar e com mais ênfase nos detalhes, no relatar da história. Até uma certa fase tudo é lúdico e se encaixa perfeitamente no universo da fantasia construído em suas mentes. Como percebi estas coisas? Pela experiência, por olhar para eles e perceber suas reações. O que descobri há umas duas semanas é que Piaget, um dos maiores nomes da psicologia, desenvolveu suas teorias exatamente desta maneira: observando o comportamento dos filhos. Segundo ele, existem quatro fases no desenvolvimento das crianças: o sensório-motor (zero a dois anos), o pré-operatório (dois a sete anos), operações concretas (sete a doze) e o estágio das operações concretas. Na segunda fase, onde estão a maior parte das crianças nas Escolas Infantis, já se desenvolveu a capacidade simbólica de entender a palavra e relacionar com o objeto, mas ainda são egocêntricas, de acordo com ele, pois procuram somente satisfazer seus desejos (comer, dormir, etc).
<><>Na Psicologia tendo a concordar mais com Vigotsky do que com Piaget, mas falarei disso em outro momento. Por enquanto, fica o convite para domingo, Dia das Crianças, quando o Memória estará no Criança na Avenida, na Cristóvão Colombo.
<><> Acima, novamente foto dentro do Memória na Escola Infantil Negrinho do Pastoreio.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ilhas de Porto Alegre




<><>Esta semana só realizamos visita na segunda-feira, pois estamos com um pequeno problema técnico. Fomos na Ilha da Pintada, na Escola Estadual José Mabilde. Foi a primeira vez que estive na localidade. Ano passado, já havia visitado a Ilha das Flores (escrevi sobre isso, aqui), onde pude conhecer várias crianças que convivem com uma realidade diversa da que estamos acostumados. Ali, boa parte dos pequenos já trabalha na reciclagem do lixo e ajuda no sustento de suas casas.
<><>Engana-se quem pensa que por isso elas se sentem inferiores, pelo contrário, pude encontrar, nas que conversei, um olhar de maturidade (talvez pelo trabalhar cedo), mas alegre, feliz e contagiante. Na outra ocasião, inclusive, fiz alguns amiguinhos que ficaram algum tempo conversando comigo. Eu realmente gosto de fazer isso e pergunto sobre suas famílias, seus amigos e sobre o trabalho que realizam. Lembro que na Ilha das Flores fiquei admirada com um menino que com onze anos já havia trabalhado em três locais e ainda sentia-se responsável pela mãe e irmã. No final, nos abraçamos e eu expressei a ele minha alegria em conhecê-lo.
<><>Na Ilha da Pintada, a realidade não é a mesma. O local é mais estruturado, com linhas de ônibus e um belíssimo posto de saúde. As crianças que conheci não trabalham desde cedo e moram relativamente perto da escola. Inclusive, algumas me convidaram para visitar suas casas. No horário de almoço, pude caminhar no local e observar a bela imagem que se tem da cidade às margens do Guaíba. Ali há muitas famílias que vivem da pesca e existem vários restaurantes que têm como prato principal peixe assado (famosa tainha). Lá também fiz alguns amiguinhos com quem conversei. Um deles até deu-me um saquinho com amoras deliciosas. Quando ele levou o irmão relatou, ponto a ponto, a história que havia ouvido mostrando, inclusive, as fotos para ilustrar.
<><>Semana passada, visitamos duas escolas infantis (de zero a seis anos), Criança Esperança e Escola Infantil Negrinho do Patoreio. A primeira enviou-me algumas fotos como lembrança de nossa visita. Uma delas está colocada logo acima. Domingo vamos ao Criança na Avenida, na Cristóvão Colombo. Na próxima postagem volto a falar sobre isso.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Mês das Crianças (parte I)


<><>Ontem se iniciou um mês que para nós, do Memória Carris, é muito especial: o mês das crianças. Não quero me deter aqui nas questões comerciais da data (ela surgiu em torno destas), mas no seu objeto puro e essencialmente: os pequenos. Nesta postagem, colocarei alguns dados sobre a criação da data, em outras falarei do dia a partir de outras dimensões.
<><>A criação do Dia das Crianças no Brasil foi inicialmente sugerida pelo deputado federal Galdino do Valle Filho na década de 1920. Arthur Bernardes, então presidente do Brasil, aprovou por meio do decreto de nº 4867, no dia 5 de novembro de 1924, a data de 12 de outubro como o dia dos pequenos.
<><> Contudo, o Dia das Crianças só passou a ser comemorado mesmo em 1960, quando a fábrica de brinquedos Estrela fez uma promoção junto com a empresa Johnson & Johnson para lançar a "Semana do Bebê Robusto" e aumentar suas vendas. A idéia das duas empresas deu tão certo que outros comerciantes resolveram adotar a mesma estratégia.
<><>A origem, portanto, é comercial, no entanto, é importantes refletirmos um pouco sobre a infância hoje e suas multidimensões. Afinal, o que é ser criança atualmente?

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Novidades...

<>Fomos citados no boletim da Associação Nacional de Transporte Público de São Paulo sobre a Memória no transporte coletivo. A Informação me foi repassada pelo Antônio Ferro, jornalista, que, coincidentemente, publicou em seu blog, ontem, uma postagem sobre a história da Carris.

Trolleybus


<><>Boa parte dos saudosistas dos bondes esquece de outro tipo de veículo que também transitou na Capital usando o mesmo combustível que os primeiros, a eletricidade. Os trolleybus ou ônibus elétricos andaram pouco tempo por aqui. Apesar do interesse ter iniciado em 1954, somente em 1964 os primeiros cinco puderam percorrer nossas ruas em direção ao bairro Menino Deus.
<><>Infelizmente o empreendimento acabou não surtindo efeitos positivos. Quando vieram os novos veículos, as voltagens precisavam ser adaptadas, o que gerava uma série de transtornos. Assim, em 19 de maio de 1969 transitou o último trolleybus na Capital gaúcha. Uma curta história, para um veículo que poderia ter sido mais bem aproveitado. Os veículos foram vendidos para Araraquara em São Paulo, onde até hoje são usados. Em outra postagem falarei mais sobre esta cidade e o uso dos elétricos.
<><>Similar aos ônibus convencionais, os trolleybus rodam por meio de pneu de borracha e não sobre trilhos, como o fazem a maioria dos veículos elétricos (como trens ou bondes). A energia chega através de hastes, denominadas tecnicamente como alavancas que ficam sobre a carroceria, em permanente contato com a fiação específica que acompanha o percurso. Os trólebus têm parte de sua estrutura elétrica baseada nos bondes que nos Estados Unidos são conhecidos como trolleys (elétricos), daí o nome trolleybus ou tróleibus.
<><>Como em Porto Alegre pouco usou-se os ônibus elétricos, é muito difícil encontrar fotos deles por aqui. Embora tenhamos fotos dos trolleybus em outros locais, em nosso arquivo não possuímos fotos dele na Capital. Allen Morrison, pesquisador norte-americano, chegou a comentar comigo da ausência de fotos sobre os veículos em Porto Alegre. Ele, por exemplo, só possui uma em preto e branco. Bem, esses dias, o Antônio Ferro, jornalista de São Paulo, enviou-me a belíssima foto publicada acima. Os créditos são de Werther Halarewicz.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Histórias de bonde (parte I)



<><>Já falei neste espaço dos relatos que já ouvi de bonde. São diversos: brincadeiras de crianças, amizades e até encontros amorosos, que resultariam, algumas vezes, em casamento. O bonde não era somente um meio de transporte, era um estilo de vida, agradável e romântico nas ruas da Capital.
<><>Quando a Carris fez 130 anos foi realizado um concurso de histórias de bonde. Dez deles foram escolhidos e publicados no livro Centro e Trinta Anos: relatos de uma história. Nas próximas postagens colocarei algumas dessas, que merecem ser lembradas.
<><>Aqui coloco o relato de Maria Cristina Azeredo, pedagoga e moradora de Porto Alegre. Este texto foi um dos escolhidos para o livro. Segundo ela, “o concurso promovido pela Carris foi uma ótima forma de proporcionar aos mais antigos uma oportunidade de relembrar os bons tempos e, aos jovens, imaginar como era gostoso e seguro viajar de bonde. Seria tão bom que pelas ruas de nossa cidade os bondes circulassem novamente, a exemplo de várias capitais européias”.

<><>O “Duque”

<><>O bonde “Duque”, geralmente uma gaiola, ligava a Rua Duque de Caxias ao antigo abrigo dos bondes, em frente ao Mercado. Era uma linha curta, percorria a rua sem observar as paradas, o motorneiro parava em frente das casas quando via moradores esperando.
<><>Eu era menina, viajava no “Duque” com minhas tias. Ainda me lembro daquele jeito simples, tranqüilo, que se sentia no bonde, funcionários e passageiros se conheciam, conversavam, trocavam receitas de chás caseiros...
<><>“Boa tarde, trouxe um pedaço do meu pão para o senhor”. “Obrigado!” “Bom dia, dona Ignácia, melhorou do reumatismo?” “Sim, obrigada”. “Seu marido não apareceu ontem, dona Merica”. “É que ele está amolado”. “Bom dia, o senhor sabe se a dona Elvira já foi para o mercado?” “Já foi, ele vai lhe esperar lá”.
<><>Tempos de vida calma, sem medos, não havia pressa, as pessoas cumprimentavam o motorneiro, que sabia onde cada uma iria descer.
<><>Uma vez, uma senhora subiu com uma menina, na Praça do Alto da Bronze, quando no abrigo dos bondes, uma chuva caiu forte. A senhora se assustou, pois não poderia descer com a pequena (convalescendo do sarampo), mas precisava pegar o dinheiro no banco. Prontamente o motorneiro disse que ela deixasse a menina no primeiro banco, que olharia e que fosse descansada, pegaria na outra volta. E foi o que ela fez. Lá se foi tranqüila, e a pequena, satisfeita, ficou passeando de bonde...
<><>Assim era o bonde “Duque”, amigo, cordial, calmo, espelhando a vida de nossa cidade naquela época.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Primavera dos Museus


<><>Segunda feira iniciou, para muitos, a estação mais esperada do ano, a primavera. Além de marcar o fim do inverno, com temperaturas mais amenas e mais tempo de sol, é a época das flores e belezas naturais. As pessoas geralmente se animam mais para sair e curtir os dias à luz do sol, ainda não tão quente.
<><>Desde o ano passado, a estação marca também um evento importante em relação às instituições culturais, Primavera dos Museus. Com o objetivo de atrair público para as instituições, são promovidas palestras e atividades que tenham relação com a estação. Esse ano as datas já passaram, dia 20 e 21 de setembro, mas as promoções de atividades visando atrair visitantes não pararam. Aliás, este verão, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), serão promovidos encontros, projetos e palestras para promover a visita também em momentos de férias escolares.
<><>O tema dessa segunda Primavera dos Museus era diversidade e o quadro referente ao evento é, no mínimo, inusitado. Trata-se de um quadro de Tarsila do Amaral, intitulado Os Operários. Ela era uma artista que participou do movimento modernista, marcado pela contestação da cultura européia, então em voga, e valorização da diversidade brasileira. Seu quadro Antropofagia, por exemplo, foi analisado pelos críticos como uma forma de mostrar que devemos admitir, ou engolir (para usar a antropofagia), as formas européias de maneira crítica e adaptada ao contexto brasileiro. E viva a diversidade!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Bondes no Brasil


<><>A história do bonde nas várias cidades onde transitou se assemelha muito. Quase todas iniciaram, assim como Porto Alegre, com os veículos movidos a tração animal e foram paulatinamente substituídos pelos movidos a eletricidade. Ao pesquisar na internet é possível encontrar, inclusive, diversas páginas sobre a história deles nas várias regiões do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza entre outras. Além, é claro, das páginas do pesquisador norte-americano, Allen Morrison que tem um portal todos os lugares por onde o bonde transitou.
<><>Os bondes utilizados no Brasil eram geralmente importados. No caso de Porto Alegre, vinham especialmente dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Bélgica. A maior parte provinha dos norte-americanos - cerca de nove importações - , enquanto da Inglaterra vieram duas - os famosos gaiolas - e da Bélgica, uma. Talvez o motivo dessa importação massiva dos Estados Unidos seja porque a Carris pertenceu a uma empresa norte-americana - Bond & Share - durante quase três décadas (de 1926 a 1953).
<><>Por coincidência, os primeiros bondes surgiram em Nova York, em 1852. Eram tracionados por mulas, com uma gôndola e oito bancos de madeira com quatro lugares. Feitos de madeira, tinham rodas de ferro e andavam sobre trilhos. Originalmente eram chamados de Street Car e só posteriormente passaram a se chamar de Tram.
<><>No Brasil – esse dado é muito interessante, no mínimo -, os bondes iniciaram em 12 de março de 1856. Ou seja, o uso foi uma década antes de vários países da Europa: Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Rússia, Holanda e Bélgica.
<><> Acima foto foi retirada daqui, é dos bondes a tração animal em São Paulo. As informações sobre o bonde também li ali também. A página pertence ao engenheiro, apaixonado por bondes, WernerVana.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fotos antigas...


<><>Fotos antigas são instrumento de nostalgia. Em outra postagem, ano passado, já falei sobre o arquivo de imagens que a Carris possui (agora disponível on-line também). No entanto, apesar de todas terem a sua beleza, há sempre aquela que se destaca, por um detalhe, por algum lugar em particular, etc. Para mim, as que se destacam são as que consigo ver ou comparar com os locais atualmente.
<><>As da Praça XV (para quem não sabe, referência ao 15 de novembro de 1889, proclamação da república), por exemplo, são maravilhosas. O abrigo dos bondes, atualmente onde ficam as lancherias do local, continua intacto. Ele tem cor e aspecto diferente, mas os trilhos continuam lá, prova viva do passado não tão distante. Quantas pessoas passaram lá, na época dos bondes, esperando o seu, na fila. Alguns por certo se conheceram lá, namoraram e casaram, como muitas histórias que já ouvi de casais que se encontraram pela primeira vez nos elétricos (qualquer dia posto uma aqui).
<><>Esta semana digitalizei algumas fotos que estavam em um arquivo. Tem uma que me chamou a atenção em especial. Por quê? Porque é de um lugar familiar para mim, onde já passei várias vezes. É no bairro Navegantes, Rua Presidente Roosevelt, em frente à Escola 1° de Maio. A escola continua no mesmo local e ainda tem uma parada lá. A rua é diferente, tem uma delegacia na frente e os bondes não andam mais em Porto Alegre.
<><>No entanto, para um olhar descuidado, as fotos antigas podem não dizer muita coisa. É necessário um olhar atento para perceber sua beleza e a imensa riqueza escondida em cada detalhe. Tarefa difícil num primeiro momento, mas recompensadora. Elas são capazes de nos revelar traços valiosos do passado da Capital e são capazes de nos fazer viajar no tempo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ônibus do centro e sua história


<><>Desde junho desfilam em Porto Alegre os 12 novos ônibus da Carris. Eles chamam atenção por seu design diferenciado e pelas belas imagens de Porto Alegre adesivadas nos veículos. No dia da inauguração, várias pessoas tiraram fotos juntos aos ônibus e apreciaram as fotografias de sua cidade. Diferente dos tradicionais, os veículos são menores para a melhor circulação nas ruas do Centro.
<><>As linhas do centro (C1, C2 e C3) foram as presenteadas com a novidade, o que está dentro do projeto “Viva o Centro”. Essas linhas, no entanto, são também partes da história da Carris. A linha C1, por exemplo, era a antigo bonde Duque, modelo Gaiola (chamado assim por sacolejar nos trilhos e ser todo fechadinho). Essa era a única linha de bonde a transitar de madrugada, alegria dos boêmios, mas incômodo para a população que residia aos arredores. Os chamados “bondes fantasmas” rangiam as rodas nos trilhos e faziam um indesejável barulho enquanto passavam.
<><>A década de 60 iniciara o processo de fim dos elétricos em Porto Alegre. Em 1966 seria a vez dos da linha Duque, que teria três bondes substituídos por ônibus a diesel. De acordo com Cristiano Saibro, busólogo, os primeiros ônibus Mercedes Benz também eram encurtados, com duas janelas a menos.
<><> Em 1982, as linhas C1 e C2 passariam a funcionar (com esse nome), para alegria dos que transitavam no centro. Um cartaz da época falava sobre a novidade que viria com a implantação das linhas centrais. A responsável pelo empreendimento era a arquiteta Maria Lúcia Grau, da Assessoria de Planejamento e Programação da Secretaria Municipal dos Transportes. As linhas substituíam a antiga linha 51- Duque de Caxias, com a vantagem de cobrirem uma área maior. O projeto foi realizado segundo pesquisa que verificava o destino da maior parte dos passageiros.
<><>A tarifa foi fixada em 30 cruzeiros (na época, ela não era unificada) e as linhas começaram a circular em novembro de 1982. A novidade foi realmente muito bem aceita, ainda mais agora, com os novíssimos e confortáveis ônibus.

<><> Acima, miniatura dos antigos veículos centrais.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Memória e a infância em Porto Alegre


<><>Na quarta-feira, quando estávamos na Escola Nossa Senhora de Lourdes, um casal passou pelo Memória (parado em frente ao colégio) e olharam para ele. O rapaz, então, comentou com a moça que estava com ele: “ Olha, o ônibus da Carris”. Ela olhou e respondeu: “Nunca entrei nele”. Ele replicou: “ Como? Não teve infância?”
<><>A conversa podia passar despercebida e para eles talvez tenha passado. No entanto, aquele diálogo me fez pensar de que maneira o Memória é ligado à infância em Porto Alegre. É como se aquele garoto estivesse dizendo “se você morou na Capital, se estudou aqui, deve ter entrado, pelo menos uma vez, neste ônibus”. Para os alunos das escolas que visitamos, o museu marca seus cotidianos e, mais, por se inserir num lugar que eles conhecem e convivem – seu meio social- o aprendizado torna-se extremamente apetitoso.
<><>Às vezes vamos a uma escola numa determinada localidade e depois vamos a um Sase (serviço de atendimento sócio-educativo), no mesmo bairro. Algumas crianças, então, já conhecem o museu. Contudo, isso não diminui suas expectativas. Pelo contrário, elas ficam ansiosas e comentam com as outras os passos seguintes da apresentação. Uma vez, na escola Julio Brunele, no bairro Rubem Berta, os pequenos (ou nem tanto) não só lembravam das minhas falas – de uma maneira incrível, após um ano - mas, comentaram comigo sobre a roupa que eu estava no ano anterior. Segundo eles, inclusive, eu ainda não usava óculos. Incrível!
<><>Ontem, no Sase da Parada 10, na Lomba do Pinheiro (é mais fácil se localizar na Lomba por números de paradas), um menino me disse entusiasmado que já tinha visitado o ônibus, na sua escola. Enquanto contava a eles como se fazia quando um bonde puxado a burro não conseguia subir uma lomba, ele falou ansioso: “Eles empurravam!” E sorriu, satisfeito, por saber, naquele momento, mais que seus colegas. Outra coisa que acontece freqüentemente é as crianças mudarem de escola e, no outro local, chamam-me pelo nome e lembram de tudo, de mim, do Chefia, do bonde que anda, dos bancos, etc. Trabalhar com crianças é fantástico, elas conseguem (falo por mim, pelo menos) nos transmitir seu entusiasmo e seu modo de ver a vida: simples, divertido e feliz.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Oswald de Andrade sobre os elétricos (parte II)


<><> Para quem nunca tinha visto bonde elétrico, a chegada deles era uma boa notícia, mas não deixava de ser algo assustador. Será que o trilho não dava choque? Nossa, como anda rápido! Deviam exclamar os que o viam passar.

<><> Abaixo continuação do texto de Oswald de Andrade sobre a chegada dos elétricos em São Paulo.


<><>No centro agitado, eu desci a ladeira de São João que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da rua Líbero Badaró, olhando para o largo de São Bento, de onde devia sair a maravilha mecânica.
<><>A tarde caía. Todos reclamavam. Por que não vem?
<><>Anunciava-se que a primeira linha construída era a da Barra Funda. É pra casa do prefeito! <><>- O bonde deixava o Largo de São Bento, entrava na Rua Libero Badaró, subia a Rua São João, entrava na Rua do Seminário.
<><>Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. Lá vinha o bicho! O veículo amarelo e grande ocupou os trilhos do centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar. Gritavam:
<><>- Cuidado! Vem a nove pontos!
<><>Um italiano dialetal exclamava para o filho que puxava pelo braço:
<><>- Lá vem o bonde! Toma cuidado!
<><>O carro lerdo aproximou-se, fez a curva. Estava apinhado de pessoas, sentadas, de pé. Uma mulher exclamou:
<><>- Ota gente corajosa! Andá nessa geringonça!
<><>Passou. Parou adiante, perto do local onde se abre hoje a Avenida Anhangabaú. Houve tumulto. Acidente?
<><>Não andava mais, gente acorria de todos os lados. Muitos saltavam.
<><>- Rebentaram a trave do lado! Não é nada!
<><>Tiravam a trave quebrada, o veículo encheu-se de novo, continuou mais devagar ainda, precavido.
<><>E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes acontecimentos. Nas ruas, os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo os acetilenos da iluminação pública.
<><> Acima foto do bonde imperial, que frafegou em Porto Alegre de 1908 a 1921. Após isso, ele se transformou em bondes simples. Até agora não descobri por que "cortaram" os veículos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Setembro...

<><>Ontem iniciou setembro. Nem parece, mas estamos próximos do final do ano. É incrível como o tempo passa rápido quando desenvolvemos muitas atividades e nos envolvemos com muita coisa. Para mim 2008 começou recentemente, mas quando olho o calendário me dou conta que já se passaram vários meses. Ainda é cedo para fazer retrospectivas, mas já podemos sentir algumas mudanças no museu da Carris.
<><> Desde outubro do ano passado, quando inauguramos este blog, o Memória Carris tem atingido um outro público, que não era inicialmente seu foco. São os pesquisadores do transporte coletivo, que, de outros estados, desenvolvem pesquisas sobre o transporte de passageiros. Creio que a troca entre profissionais que atuam no mesmo campo é essencial. Só através dela poderemos alcançar níveis mais profundos no conhecimento. Afinal, outros já pesquisaram o que hoje procuramos e podem nos fornecer respostas às questões lacunares. A internet é, com certeza, a melhor porta para isso. Rápida e eficiente é um ótimo meio de comunicação para os pesquisadores.
<><>Semana passada Joice Souza, do Rio de Janeiro entrou em contato conosco. Ela faz parte de uma equipe que pesquisa a trajetória da Scania no Brasil. Faz parte do projeto uma história co-relata das empresas que comercializaram com ela. Nesta parte, a Carris se insere. Conversamos sobre o Museu Virtual e ela solicitou algumas fotos para serem colocadas no livro que será publicado ao final da pesquisa.
<><>Esta semana Porto Alegre tem experimentado um verãozinho em pleno inverno. Chega a ser engraçado quando falo às crianças que Porto Alegre começou a importar bondes fechados pelo frio no inverno. Muito bem, devem pensar, estamos no inverno, cadê o frio? No entanto, nada incomum para a Capital gaúcha, que vive nos extremos de temperatura, segunda, por exemplo, estava frio. Os anticorpos que agüentem.

Bondes elétricos por Oswald de Andrade


<><> Já escrevi aqui sobre as mudanças produzidas pelos bondes elétricos no cotidiano da população. A novidade assustava e trazia euforia. Abaixo trecho de Oswald de Andrade, escritor modernista, sobre a chegada dos elétricos em São Paulo.


<><>Anunciou-se que São Paulo ia ter bondes elétricos. Os tímidos veículos puxados a burros, que cortavam a morna cidade provinciana, iam desaparecer para sempre. Não mais veríamos, na descida da ladeira de Santo Antônio, frente à nossa casa o bonde descer sozinho equilibrado pelo breque do condutor. E o par de burros seguindo depois.
<><>Uma febre de curiosidade tomou as famílias, as casas, os grupos. Como seriam os novos bondes que andavam magicamente, sem impulso exterior? Eu tinha notícia pelo pretinho Lázaro, filho da cozinheira de minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso esse negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado facilmente pelo bonde. Precisava pular. (...)
<><>O projeto aprovado, começaram logo os trabalhos da execução. E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro bonde elétrico. Indicaram-me a atual Avenida de São João como o local por onde transitaria o veículo espantoso.
<><>Um mistério esse negócio de eletricidade. Ninguém sabia como era. Caso é que funcionava. Para isso, as ruas da pequena São Paulo de 1900 enchiam-se de fios e de postes. (...)
<><>Um amigo de casa informava: - o bonde pode andar até a velocidade de nove pontos. Mas, aí é uma disparada dos diabos. Ninguém aguenta. É capaz de saltar dos trilhos. E matar todo o mundo...
<><>A cidade tomou um aspecto de revolução. Todos se locomoviam, procuravam ver. E os mais afoitos queriam ir até a temeridade de entrar no bonde, andar de bonde elétrico!
Naquele dia de estréia ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se, portanto, enorme.
<><>Acima, charge da superlotação dos elétricos em São Paulo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Continuando sobre Machado...


<><> Abaixo cronologia da vida de nosso maior literato e dos bondes na Cidade Maravilhosa.

1839: nascimento de Machado de Assis
1859: primeiros bondes do Brasil na cidade de RJ
1855: publica seu primeiro trabalho literário, poema Ela
1856: começa a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional e escreve em seu tempo livre
1858: volta a trabalhar na Livraria Paula Britto como revisor e colaborador da Marmota
1859: torna-se revisor e colaborador do jornal Correio Mercantil
1860: a convite de Quintino Bocaiúva passa a fazer parte da redação do Diário do Rio de Janeiro
1861: tem seu primeiro livro impresso
1862: substituição da tração animal pelo vapor no RJ
1864: publica seu primeiro livro de poesias, Crisálidas
1867: nomeado ajudante de direção no Diário Oficial
1869: casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais. Viveram juntos, sem filhos, por 35 anos
1870: The Rio de Janeiro Street Railway Companhy é autorizada a funcionar
1872: publica Ressurreição, primeiro romance do escritor
1874: em forma de folhetim publica A mão e a luva, no jornal de Quintino
1878: Forma-se a Cia Carris Urbanus
1880: sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Dom Pedro II
1881: pública Memórias Póstumas de Brás Cubas.
1892: Inaugura-se a primeira linha de bondes movida a energia termoelétrica
1896: bondes começam a usar energia elétrica
1897: eleito presidente da Academia Brasileira de Letras
1908: morre Carolina Augusta Xavier, esposa de Machado
1908: morre o escritor em sua casa
1968: termina serviço de bondes na capital fluminense. No entanto, mantém-se a linha de Santa Tereza, que permanece até hoje.
<><> Eu, pessoalmente, prefiro a foto da outra postagem, mas acima há uma fotinho de nosso literato.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Machado de Assis e a conduta nos elétricos


<><>Este ano é de festas não só para a Companhia Carris (135 anos da primeira viagem de bonde, 100 anos dos bondes elétricos e 35 anos da sede na Albion), mas também para a literatura brasileira. É que em 2008 comemora-se o centenário de morte de um dos escritores mais conhecidos, Machado de Assis.
<><> Famoso por seus contos inusitados e por ser um analista do ser humano, ele também fez do bonde objeto de suas reflexões, ou melhor, de suas anedotas. Nascido no Rio de Janeiro em 1839, ele conviveu cotidianamente com os veículos, tanto os de tração animal como os elétricos. Assim como ele, dezenas de poetas e escritores fizeram do bonde objeto de sua reflexão. Através de estribos e janelas os passageiros podiam perceber as mudanças nas suas cidades.
<><>Como alguém que convivia diariamente com os bondes e passageiros fluminenses, Machado resolveu divertir a muitos criando o manual de condutas para bondes. Assim dizia ele no início do código de regras:
Ocorreu-me compor umas certas regras para uso dos que freqüentam os bondes.O desenvolvimento que tem tido entre nós este meio de locomoção, essencialmente democrático, exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos.
<><>Segundo este, quem estivesse com tosse só poderia tossir três vezes no período de uma hora. Quando isso não for possível, os doentes deveriam ir a pé ou ficar em casa. Quanto à posição das pernas, podiam ficar abertas, com a condição que fossem pagas duas passagens.
<><>Num momento em que os jornais ainda tinham as folhas tradicionais (grandes, como as da Folha de São Paulo), Machado colocou regras para a leitura de jornais. Nada de roçar o jornal nas pernas do vizinho! Quanto aos que gostam de contar sua vida íntima para quem acabaram de conhecer, primeiro é necessário perguntar se o ouvinte está disposto a escutar. Se esse aceitar, deve escolher entre ouvir e levar uma surra de pontapés. O manual continua com elementos mais que inusitados: quem estiver sem tomar banho não deve pegar o bonde. A esses resta vê-lo passar pela calçada ou pela janela de sua casa. O conjunto de regras termina com uma recomendação: se ao seu lado um conhecido demorar para achar o dinheiro, livre-o do constrangimento e pague a passagem por ele, pois se quisesse pagá-la teria tirado-o mais depressa.
<><> Machado, considerado o melhor escritor brasileiro, sentiu as emoções do bonde –assim como os incômodos- nas idas e vindas do veículo pela então Capital do Brasil. Ele é mais uma prova das marcas deixadas pelos carris na memória da população brasileira. Será que as regras serviriam para os nossos coletivos?

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Passageiro da Saudade

<><> Como prometido, publico aqui a linda poesia de José Antônio Macedo. Ela consta no Cd Quando o Vesro sai da Alma, interpretado por Wilson Paim. Agradeço ao Marcos Macedo, filho do José, que me mandou o poema.

Onde te escondes
velho bonde,
onde?
Meu companheiro
das tardes domingueiras,
a cruzar pelas ruas da cidade,
a subir e a descer
pelas ladeiras...


Onde te escondes
velho bonde,
onde?Pareço ver-te certa tarde
de céu gris,
onde eu esperava
a minha amada
na paradada praça da Matriz.


Onde te escondes
velho bonde,
onde?
Sob um salgueiro
lá na Redenção?
Meu coração
cansado motorneiro,
mal vence os trilhos
da recordação!


Onde te escondes
velho bonde,
onde?
A dormir no silêciode um abrigo?...
Acorda, velho bonde, acorda!
Acorda deste sono antigo...


Onde te escondes
velho bonde,
onde?
Ah, se não fossem sonhos
estes sonhos meus,
eu deixaria minha cidadezinha
para encontrar-te à tardinha
no fim da linha do MENINO DEUS

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Visitantes do blog


<><>Tenho recebido muitos e-mails de pessoas que agora estão conhecendo o blog. São estudantes, historiadores e saudosistas dos veículos que tanto marcaram Porto Alegre. Semana passada chegou a mensagem de Caroline Soares, estagiário do museu Caetano Ferolla de São Paulo. Segundo ela, eles estão organizando uma exposição sobre acidentes com transportes coletivos. Faremos o possível para ajuda-los na empreitada.
<><>Vieram na Carris, há alguns dias, uma professora e sua equipe do curso de Museologia da UFRGS. O objetivo delas é criar um museu itinerante, semelhante ao nosso. Elas visitaram o Memória e conversamos sobre o trabalho desenvolvido.Ótima iniciativa, creio que trocaremos ainda muitas figurinhas.
<><>Ontem chegou uma mensagem interessante. Marcos Leal Macedo é filho de um saudosista dos elétricos em Porto Alegre. Segundo ele, descobriu a página por acaso, através de uma pesquisa no site da Carris. O pai do Marcos, José Antônio Macedo, é compositor e poeta. Ele lançou, na sexta-feira, um CD, Quando o verso sai da alma, interpretado pelo cantor Wilson Paim. Nele foi lançado o lindo poema Passageiro da Saudade que será publicado aqui, com a devida autorização do autor.
<><>Sábado o evento na Riachuelo foi bem recebido pelos porto-alegrenses. A mini-feira do livro, chamada de Caminho dos Livros, foi bem divulgada e teve boa acolhida do público. O local não podia ser mais bem escolhido, já que tradicionalmente é o lugar de livreiros e sebos. O Memória esteve presente para a alegria dos que tanto gostam da Carris e da sua história.


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Novidades


<><>Voltamos à rotina. Esta semana já estamos realizando visitas em escolas e sábado vamos a abertura do Caminho dos Livros, eventos promovido pela prefeitura na rua Riachuelo, Centro da Capital.
<><>Estive reorganizando as plantas de bonde do Museu Virtual. Agora, novas fotos estão linkadas, assim como características dos modelos foram coladas com mais detalhes. As informações foram colhidas aqui dentro mesmo, nos arquivos. Acredito que beneficiará os que apreciam fazer as réplicas dos bondinhos. Logo postarei algo sobre a importação dos bondes pela Carris.
<><>Outra novidade são um conjunto de fotos novas que encontrei. São peças de bondes e ônibus que logo estarão na página. É só aguardar.
<><>Acima foto atual do nosso Cais do Porto. A revitalização dele está inserida no projeto Viva o Centro, assim como a linha de bonde turístico.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Novidades e transformações em Porto Alegre


<><>Quando falamos em novidade, geralmente pensamos somente nos benefícios e nas comodidades. Dificilmente nos damos conta que as novas tecnologias também denotam transformações, às vezes grandes, em nosso estilo de vida. Normalmente, quem sente isso são os mais velhos. Por já terem um estilo de vida estabelecido e uma rotina percebem-nas como alterações nem sempre positivas em seu cotidiano. Os mais jovens, no entanto, tendem a aceitar e se adequar às mudanças.
<><>Mudança, aliás, pode ser considerada uma palavra contemporânea. Nossa sociedade é ávida por transformações e ligamos novo a bom constantemente. Após a revolução tecnológica das décadas de 80 e 90 as mudanças passaram a ser mais freqüentes. A cada dia os aparelhos são menores e com mais capacidade de armazenamento. Coisa impossível de imaginar há dez ou vinte anos atrás.
<><>Contudo, nem sempre as mudanças foram diariamente introjetadas como hoje. Quando os bondes elétricos chegaram, por exemplo, há cem anos, nem tudo era alegria. É claro que eles eram um avanço importantíssimo para Porto Alegre. Eram ágeis, mais confortáveis e podiam subir mais tranqüilamente as ladeiras da Capital. Por outro lado, eles assustavam a população até então acostumada com os bondes à tração animal.
<><>No início dos bondes elétricos as coisas mais triviais suscitavam medo aos porto-alegrenses. De acordo com Aquiles Porto Alegre, era comum o medo de atravessar a rua, pisar nos trilhos e até encostar no bonde. Temia-se a velocidade do veículo e até ficar lá, grudado para sempre nas linhas do elétrico.
<><>No entanto, certos desses medos tinham seus fundamentos. O primeiro bonde elétrico, por exemplo, surgiu na Alemanha em 1879. Ele funcionava com 150 volts de corrente contínua vinda pelos trilhos. O bonde também era alimentado pela energia recebida dos trilhos em 1883, na Inglaterra. Agora imagine quantas pessoas tomaram choque devido a esse sistema! E nos dias de chuva? Os medos tinham sua razão de ser. Essas histórias chegaram no Brasil pelos viajantes ou crônicas da imprensa. Como toda história assustadora deve ter se espalhado de uma maneira que não se percebeu as mudanças que os elétricos sofreram após sua inauguração na Europa.
<><>Foto acima é do bonde Dick Kerr na Marechal Floriano no início da eletrificação da cidade.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Transcrição do Independente

<><> Os jornais noticiaram a chegada da eletricidade com muito entusiasmo. Afinal, isso significava crescimento e desenvolvimento para a Capital. Os bondes chamavam a atenção da população. Eram mais ágeis que os de tração animal e traziam mais conforto. Cinco anos depois, eles ainda eram notícia em Porto Alegre. Leia abaixo trecho do Independente, jornal de Porto Alegre.
08/05/1913
<><>Com os aplausos da população, vai sendo regulada a viação urbana nesta capital. Providência utilíssima, precisa ser estendida a outras ruas como a João Alfredo, cujo trânsito já é enorme.
<><>Os veículos que se dirigem da ponte do Menino Deus para a da Pedra, no Riacho, devem todos tomar o lado direito e os em sentido contrário ao lado esquerdo multando-se os condutores que deixarem seu lado com pressa de seguirem.
<><>Outro ponto que reclama regulamentação é o dos condutores de carroça. Nas cidades populosas elas, são obrigados a guiarem os veículos a pé, indo ao lado dos animais e não encarapitados nas cargas.
<><>Principalmente nos veículos tirados por um único animal, impõem-se a providência, podendo-se autorizar a montaria do condutor em um dos animais, quando o veículo seja tirado por dois ou mais números de animais

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Luz na Capital gaúcha


<><>Este ano, como já mencionei neste espaço, comemora-se um século da chegada dos elétricos na Capital. Mudança estrutural importantíssima em Porto Alegre, através dela surgiram novas perspectivas para os que utilizavam o transporte público.
<><>Para aqueles que assistiam as primeiras voltas dos bondes movidos a eletricidade, eles eram prova da evolução tecnológica nas ruas. Era a constatação material que a Capital tornava-se uma metrópole conectada com o mundo. Dezenas de pessoas tomavam as avenidas, jornais noticiavam a novidade e porto-alegrenses aglomeravam-se para vê-la. Este ano, na sessão Há um Século no Correio do Povo vários trechos apareceram sobre a chegada dos novos veículos. Imagino que todos os jornais que circulavam por aqui noticiavam a grande novidade.
<><>As primeiras linhas foram do Menino Deus, Parthenon, Gloria e Theresópolis. No início, conforme o Correio do Povo, o tráfego não era regular. A Companhia Força e Luz começava a se organizar para oferecer o serviço com freqüência. As passagens continuavam com o mesmo preço e os bondes saíam da praça Senador Florêncio. Além de letreiros indicando o destino, os veículos utilizavam faróis, que iluminavam o caminho à noite. Alguns tinham grandes placas vermelhas indicando a linha. Tinham paradas determinadas, nas esquinas das ruas, com exceção dos dias de chuva, quando podiam parar fora dos pontos. Paravam em todas as esquinas, independente do chamado.
<><>Em 1908, a Carris tornara-se Força e Luz pela junção das duas empresas que trafegavam com bondes de tração animal, Carris de Ferro Porto Alegrense e Carris Urbanus. Neste momento, a usina da Força e Luz localizava-se na Voluntários da Pátria, embora a sede estivesse na Rua da Praia. Nas próximas postagens voltarei a falar sobre o centenário dos bondes elétricos em Porto Alegre.
<><>Acima edifício Malakoff, segundo Aquilles Porto Alegre, o primeiro arranha-céu de Porto Alegre. Praça Montevideu no início do século XX.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Parabéns, Chefia!


<><>Esta semana, devido às férias escolares, estamos fazendo trabalho interno e o Memória está “descansando”. Por falar nele, nós trocamos os quadros que ficam na entrada do museu. Semana passada recebemos algumas imagens como doação de uma empresa. Selecionamos três, duas charges e um excerto do jornal Independente sobre a chegada dos bondes elétricos.
<><>Semana que vem já voltamos às atividades, embora boa parte das escolas ainda esteja de férias. Visitaremos duas escolas infantis, em Ipanema e no Bom Fim.
<><>Hoje é aniversário do nosso querido motorista, Chefia. A ele minha sincera homenagem pelos exemplos de dedicação, carinho e companheirismo. Parabéns, Chefia!!
<><> Na foto, homenagem ao aniversariante do dia com boa parte do setor de comunicação: Luiza, Vinicius, Luzia, Chefia, eu, Ana e Gabriel.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O charme dos bondes por Paulo Ziegler

<><> Conheci o Paulo Ziegler na Transposul. Professor de jornalismo, ele também é um dos saudosistas dos amados veículos porto alegrenses.

<><>Os bondes deixaram uma inarredável saudade na vida dos porto-alegrenses. Tinham um estilo único, um charme da tradição, próprio das melhores metrópoles mundiais. Eram uma verdadeira atração turística para os que chegavam à capital gaúcha pela primeira vez, vindos do interior. Eles desembarcavam na antiga estação rodoviária e logo procuravam ver um bonde, a fim de confirmar a impressão colhida por narrativas de outras pessoas que já tinham vindo a Porto Alegre. O fascínio por eles era tamanho, que não foram poucos aqueles que terminaram logrados pelo conto do bonde. O golpe consistia em recepcionar o interiorano logo na chegada à cidade. Despretensiosamente, após perceber o estreante desembarque, o trapaceiro explicava que muitos bondes estavam sendo substituídos em Porto Alegre, e que havia diversos para vender, por uma verdadeira pechincha. Uma vez que tivessem arrebatado a confiança do interiorano, normalmente um tipo ambicioso, disposto a levar um charmoso bonde para circular em sua cidade, o conduziam, à noite, até o terminal central dos bondes, situado na Av. João Pessoa, próximo à Universidade Federal. Lá chegando, mais de uma centena de bondes encontravam-se estacionados, prontos para retornar à circulação no dia seguinte.
<><>Este era o melhor momento de toda a trapaça. Ao incauto era sugerido escolher qualquer um deles. Estavam todos à venda, de barbada. Naturalmente o pagamento deveria ser feito imediatamente após a escolha, para garantir a preferência. As vendas, por sinal, estavam concorridas. Feita a opção, restaria ao ambicioso freguês retornar à estação central no dia seguinte, pela manhã, para acertar o transporte do bonde para sua terra...
<><>Era assim mesmo. Bonde sempre encantou as pessoas. Seu embalo ao trafegar, muitos sonos promoveu. Era um gingado gostoso, visualmente confirmado pelos agarradores de couro, que iam para lá e para cá. E havia o bonde gaiola, da linha Menino Deus, que sacudia como nenhum outro. Às vezes embalava tanto, que parecia que iria tombar.
<><>Realmente é muito difícil esquecer um transporte como este. O bonde era todo peculiar. Não tinha motorista. Quem o conduzia era o motorneiro. Bonde tinha duas direções, uma em cada ponto do veículo. Na verdade, era uma manivela. O motorneiro, ao chegar no "fim da linha", retirava a manivela e percorria o corredor para instalá-la na outra ponta do carro. Mas havia outras características únicas. Eles tinham quatro portas. Duas em cada ponta, uma de cada lado.
<><>O cobrador tinha o costume de percorrer o vagão de ponta a ponta, indagando a cada um sobre o pagamento da passagem.
<><>Ele guardava o dinheiro dobrado no sentido longitudinal, separando-o por valores, entre os dedos. E ainda, tinha um troco próprio, que substituía o dinheiro papel, quando faltava moeda em efetivo.
<><>Sem dúvida alguma os bondes fazem falta. Belas capitais mundiais ainda os mantém com um precioso cuidado, como Berlim e Amsterdã. Hoje somos como os interioranos de outrora. Estamos loucos para vê-los. Ah, bem que eu compraria um pra mim.
Outubro 1993

terça-feira, 15 de julho de 2008


<><>Estivemos na 10ª Feira de Transporte e Logística do Sul- Transposul- semana passada. Desde terça feira, inauguração do evento, até sexta feira à noite, dia de encerramento. Apesar de fugir um pouco dos eventos que tradicionalmente visitamos, creio que promovemos uma valiosa troca entre as novas tecnologias dos meios de transporte e a história da mais antiga empresa do país em funcionamento.
<><>A Transposul reúne congresso e feira de negócios. Lá estavam empresas de transporte de carga, logística, transporte de passageiros e transportadores. O evento realizou-se no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul- Fiergs. Centenas de pessoas visitaram o evento, geralmente ligadas, de algum modo, ao transporte por rodovias.
<><>No Memória recebi a visita de empresários, jornalistas, organizadores do evento, motoristas, funcionários das empresas, estudantes e busólogos (eles não podiam faltar a esse evento!). A maioria apreciou muito o projeto e promovemos uma interessante troca de histórias e memórias, já que por lá estavam muitos saudosistas dos elétricos na Capital. Conheci o senhor Eurico Divon Galhardi, vice-presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Públicos. Ele tem miniaturas dos diferentes modelos de transportes no mundo e é curador de um museu do transporte em Brasília. Além dele, dezenas de pessoas acrescentaram dados ao nosso trabalho e puderam, por alguns momentos, voltar no tempo e reviver um pouco de sua própria história.
<><>Agradecemos o convite, feito pela organização do evento, e esperamos fazer parte dele outras vezes. Esta semana estamos de volta à rotina, por pouco tempo, pois logo iniciam as férias escolares.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A Sonhada volta dos bondes (parte II)


<><>Assim como Santiago, no Chile, nós, da Capital gaúcha, temos um projeto de uma linha histórica de bonde elétrico. Hoje, ele faz parte do programa Viva o Centro, promovido pela prefeitura de Porto Alegre.
<><>Desde que os elétricos deixaram de transitar na Capital, em oito de março de 1970, vários projetos tentaram trazer de volta os veículos. Em nossos arquivos, por exemplo, há uma reportagem do Correio do Povo com o plano de retorno dos bondes, em 1990. Na época, o objetivo era fazer o veículo 113, pertencente ao Museu de Porto Alegre, voltar a transitar. Para isso, inclusive, a diretora do museu na época, Vera Thaddeu, recebera uma verba de CR$300 mil. A idéia era colocá-lo no parque Maurício Sobrinho. Sabemos que, infelizmente, o plano não foi executado.
<><>Atualmente, o projeto pretende colocar o bonde em circulação no Centro da Capital. O objetivo é valorizar o considerável número de prédios históricos que ali se encontram. A linha, segundo o plano, deverá percorrer um quilômetro e meio em direção à Usina do Gasômetro. A Carris, a Trensurb, o Ministério das Cidades, a Associação Amigos dos bondes e, agora, a prefeitura de Porto Alegre são os principais responsáveis pela execução O projeto teve início em 2003, quando foi assinado um termo de cooperação entre as partes. O objetivo é adequar o projeto à lei Rounaet para a captação de recursos. A elaboração e execução da parte técnica ficam a cargo da Trensurb. No entanto, o custo de implantação é alto, R$17 milhões. Por isso, é necessária a captação de recursos, para que o sonho dos amantes de bonde torne-se realidade.
<><>Esta semana estarei fora, na feira de transportes –Transpo-sul- na Fiergs. A Carris será representada pelo Memória Carris. Semana que vem voltamos com as novidades.
<><> Acima uma simulação do bonde 123 no Centro.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A sonhada volta dos bondes

<><>Recebi, na segunda feira (30/07), uma excelente notícia para aqueles que sonham ver novamente os bondes em sua cidade ou região. O Instituto Histórico do Chile recebeu, através do Conselho de Cultura, US$15 mil para o resgate e translado do último bonde existente no país. O dinheiro permite os primeiros passos para o projeto desenvolvido, criado em abril de 2007.
<><>Ele compõem-se de diferentes profissionais que se reuniram com o objetivo de viabilizar o transporte ferroviário chileno. O bonde no Chile foi inaugurado em 1858, primeira linha no hemisfério sul e uma das pioneiras no mundo, segundo o pesquisador Allen Morrison. Foi construído pela Carris a Vapor, que unia Santiago com San Bernardo. Os acionistas eram chilenos, mas havia muitos engenheiros norte-americanos. Os bondes elétricos foram inaugurados oito anos antes de Porto Alegre, em 1900.
<><>Diferente da Capital gaúcha, o Chile fabricava seus próprios bondes, embora o sistema adotado fosse dos Estados Unidos. Em 1945, a Companhia Chilena foi nacionalizada e decidiu abandonar os ferrocarris para adotar os tróleibus e os ônibus a diesel. Em 1968, foi encerrada a última linha.
<><>O projeto pretende revitalizar a linha de bondes do bairro Brasil (olha a coincidência), um dos mais antigos e pitorescos de Santiago. As motivações para a escolha do local são o pouco fluxo de veículos, a arquitetura do lugar e as vias que ainda restam. Aliás, esse é um dado muito interessante, já que poucos trilhos necessitam ser colocados para execução do projeto. No caso de Porto Alegre toda a via teria de ser construída (cerca de 1,5 quilômetros), já que foi retirada ou está debaixo de asfalto. No caso do projeto chileno, isso não ocorre, mesmo tendo se passado 50 anos do fim dos elétricos.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Novidades para os amantes de bonde




<><>Para os que apreciam fazer as famosas miniaturas de bonde, agora está disponível, na página do Museu Virtual, um álbum com as plantas dos bondes. São dez modelos de veículos diferentes e devidamente identificados quanto ao ano de importação, procedência e fabricação. A maior parte dos bondes utilizados pela Carris vinham usados para Porto Alegre. Eles chegavam no Cais do Porto e eram recebidos com muita alegria pela população.
<><>Por virem de “segunda mão” tinham que passar pela oficina para entrarem em operação. Após 1928, quando a Carris tornou-se norte-americana - foi comprada pela Bond & Share- , iniciou-se um programa de importação de bondes. Foram comprados 161 bondes elétricos de dois trucks – 151 dos Estados Unidos e dez da Bélgica. Nesse período, décadas de 50 e 60, a Carris chegou a possuir 229 carros – 130 norte-americanos, 89 ingleses e dez belgas. Segundo o pesquisador Allen Morrison, a Capital tornaria-se uma verdadeira Meca para os estudiosos e apaixonados por bondes.
<><>Hoje, para os que tanto se encantaram com o veículo, sobraram alguns na Capital, como os da Polícia de Trânsito ou o que está em frente à Carris. No entanto, para aqueles que desejam o contato diário com os queridos há os que se dedicam a fazer ou comprar réplicas. Mario Quintana, por exemplo, tinha uma miniatura em seu quarto.
<><>Acima miniatura do bonde Gaiola, presente no Memória Carris.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Os Primeiros anos da Carris






<><>A média mensal de passageiros nos anos iniciais da Companhia Carris de Ferro era 46 mil passageiros por mês. A cada ano novas linhas eram construídas a fim de aumentar o fluxo urbano. Eram as linhas do progresso na Capital gaúcha. Em 1873, é construído o famoso depósito de bondes na avenida Redenção, atual João Pessoa.
<><>Em 1889, 16 após a primeira viagem de bonde, a Carris mantinha três linhas em funcionamento: Menino Deus, Caminho Novo e Parthenon. Nessa época, existia um sistema de bilhetagem entre os itinerários do Menino Deus e do Parthenon. Era chamado Cartão Correspondência, o papel que os passageiros recebiam quando entravam no veículo de uma das duas linhas. Assim, podiam viajar no segundo bonde sem o pagamento da passagem. O interessante é que há alguns anos tem se falado sobre a possibilidade de adotar esse sistema nos atuais ônibus de Porto Alegre.
<><>Em 1891, surge uma nova empresa, a Carris Urbanus. Por os bondes serem menores que os da Carris de Ferro, os veículos dessa companhia ganharam o apelido de Caixa de Fósforo. A empresa fazia as linhas Parthenon, Independência e Floresta.
<><>Até 1908, a Capital usaria a tração animal como principal meio de transporte. Eram os animais que faziam dos mais curtos aos mais longos trajetos. Segundo os cronistas, o cheiro das ruas era semelhante a um estábulo. Mesmo assim, as pessoas costumavam se arrumar para pegar o bonde, pois era um evento. As cores claras, principalmente o branco, eram as mais usadas. Segundo o Geocities, existia até um regulamento segundo o qual era proibido viajar de bonde sem meias, mesmo estando de chinelo.

<><> Acima bonde de tração animal com Julio de Castilhos, de Chapéu branco.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aniversário da Carris (parte II)



<><>A chegada da Carris significou, naquele momento, o progresso na Capital. Nos jornais locais o assunto era a notícia principal, capaz de fazer de animar todos. A cidade começava a crescer em torno dos trilhos. A abertura de novas ruas e loteamentos era determinado pela implantação das novas linhas. Os trilhos eram direcionados para determinadas áreas, que se transformariam em loteamentos. Com a circulação dos bondes, a organização dos loteamentos era quase imediata, às margens da rota aberta. Porto Alegre crescia e se desenvolvia ao redor dos trilhos.
<><>Em 1873, a Carris é comprada por outro grupo de empresários, comandado por Eufrásio Lopes Araújo Filho. Ele amplia os serviços, colocando novas linhas para o Arraial dos Navegantes, Glória, Theresópolis e Parthenon. Os primeiros veículos, modelo americano, eram leves e modernos. Depois de algum tempo, eles foram ampliados. Assim, existiam veículos de diversos tamanhos, transportando de 25 a 40 passageiros sentados. Os bancos eram inteiriços, com capacidade para cinco passageiros. Não havia cobrador e os passageiros compravam os bonds (nome dado aos bilhetes de passagem) no escritório da companhia, que se localizava num dos torreões do Mercado Público. A iluminação dos veículos era feita com lampiões.
<><>Em 1874 é inaugurada a linha férrea São Leopoldo – Porto Alegre. Agora os produtos da colônia chegavam à capital de forma mais rápida e regular. Vilas de ferroviários, escritórios de despachantes e um pequeno comércio se estabeleceram em torno das estações. Assim como a cidade crescia ao redor dos trilhos de bonde, as cidades se desenvolviam em torno das estações férreas. Acima charge dos bondes à tração animal, disponível aqui.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Parabéns, Carris!


<><>Hoje (19/06), a Carris completa 136 anos de existência. Após tanto tempo, a empresa não parece muito com a Companhia Carris de Ferro Porto Alegrense, criada através do decreto 4.985, assinado por D. Pedro II, em 19 de junho de 1872. O nome Carris referia-se ao nome dos trilhos de bonde, carril, no plural, carris. Nome comum em dezenas de empresas no Brasil. A nossa, contudo, é a única que permanece até hoje.
<><>O contrato havia sido celebrado antes, em 27 de fevereiro, entre Manoel Miranda e Castro (fundador da companhia) e o presidente da província. A cidade contava, então, com 42.000 habitantes. Porto Alegre, neste momento, passava por um processo de urbanização e reestruturação. Em 1869 ocorrera a construção do atual Mercado Público, tendo como objetivo um ponto de aglutinação do comércio. Em 1876 seria a construção da Usina do Gasômetro.
<><>Antes da chegada da Carris, a viagem dos arraiais (antigos bairros) ao Centro podia durar horas. Assim, a chegada dos primeiros bondes à tração animal era saudada com muita animação pelos porto-alegrenses. No dia da inauguração, 4 de janeiro de 1873, estariam presentes autoridades da cidade. Um par de cavalos brancos puxou o primeiro veículo. No outro dia, no entanto, os burros e mulas pegariam no pesado, fazendo a interligação dos arraiais com o Centro. As primeiras linhas eram Maragem (Menino Deus), Caminho Novo (Voluntários da Pátria), Campo (Praça D. Pedro II) e Azenha. Apesar do progresso que os bondes representavam, as dificuldades iniciais do projeto eram grandes. Para subir determinadas ladeiras, por exemplo, os passageiros desciam do veículo e ajudavam a empurrar, por pena dos animais.