terça-feira, 21 de março de 2017

Veridiano Farias: "O Teimoso"

   Semana passada recebemos aqui no setor um belo presente do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul. Trata-se de um livro com artigos sobre práticas da Medicina ao longo da História do Rio Grande do Sul. Um dos textos conta a história de Veridiano Farias, o segundo negro formado em Medicina no nosso estado e o primeiro a se formar na UFRGS. Veridiano, além de médico, trabalhou na Cia. Carris como motorneiro e como músico do "Jazz Carris", conjunto musical formado por funcionários da empresa que fez sucesso em Porto Alegre na primeira metade do século XX.   
  Lendo a história de vida de Veridiano Farias, lembramos do grande número de colegas da Carris que trabalham nos ônibus da empresa (como motoristas e cobradores) e que conciliam trabalho, família (muitos com filhos) e os estudos. O sonho de um futuro melhor dá a estes colegas a força necessária para seguir dando conta de uma rotina muitas vezes extenuante.
   Nosso ex colega que tornou-se médico, é um exemplo da luta que muitos brasileiros vivem para  estudar e realizar seus sonhos. Veridiano nasceu na cidade de Rio Grande no ano de 1906. Neto de escravos, seu pai era estivador no porto e sua mãe dona de casa. Ainda criança veio morar em Porto Alegre com a família. Começou a estudar tarde, sendo que só terminou o ensino secundário (chamado de ginásio na época), em 1942 quando já tinha 36 anos.
   Veridiano sempre foi ligado a música, ainda pequeno aprendeu a tocar vários instrumentos musicais. Este conhecimento lhe foi muito útil como fonte de renda, pois trabalhou como músico em diferentes conjuntos da época. Foi amigo pessoal de artistas de renome da cena musical porto-alegrense como Lupcínio Rodrigues, Rubens Santos e Túlio Piva. Enquanto estudava, teve vários empregos além de manter as atividades de músico. Um deles foi de motorneiro da Carris.
  Conhecido por seus colegas como "O Teimoso", Veridiano fez três vestibulares para Medicina na UFRGS. Foi aprovado apenas no quarto, mas não obteve a média necessária para o curso. Decidiu então tentar a sorte em uma faculdade no Rio de Janeiro, onde foi aprovado. Mudou-se para a capital federal da época e sustentou-se como músico enquanto cursava os primeiros semestres da faculdade. No ano de 1946 conseguiu a sua transferência para a UFRGS, isto após escrever uma carta para o ex presidente Getúlio Vargas contando a sua história e falando sobre a  saudades que sentia da família, neste momento Veridiano era pai de duas crianças. O político se sensibilizou e usou sua enorme influência para que o nosso ex colega tivesse sua transferência aceita pela federal do Rio Grande do Sul.
  Em 15 de dezembro de 1951 Veridiano Farias formou-se em Medicina na UFRGS, o ex motorneiro havia realizado o seu sonho. Em seguida começou a clinicar como dermatologista no Hospital Colônia de Itapuã. Infelizmente nosso ex colega exerceu seu sonho de auxiliar as pessoas através da Medicina por pouco tempo, em 10 de agosto de 1952 Veridiano teve um enfarto e acabou falecendo.
  Através do exemplo de Veridiano Farias gostaríamos de homenagear todos nossos colegas da Carris que se desdobram de diferentes formas para manterem seus sonhos de obter uma formação melhor através do estudo. Desejamos que estes colegas consigam manter sua esperança viva e que possam alcançar seus objetivos!



Foto de Veridiano Farias no dia da sua formatura. 








    

quarta-feira, 8 de março de 2017

Há quarenta e sete anos os bondes se despediam de Porto Alegre!

  Dia oito de março é uma data importante na Cia. Carris. Um dos motivos é a comemoração do Dia Internacional da Mulher que é sempre lembrado na empresa com a realização de homenagens às colegas trabalhadoras. Outro motivo é a lembrança de que foi num dia oito de março a última vez que os bondes elétricos circularam pelas ruas de nossa cidade. 
 Há exatos quarenta sete anos, no dia oito de março de 1970, ocorreu a última viagem de bonde elétrico da Cia. Carris. Consultando o livro: "Memória Carris: Crônicas de uma História Partilhada com Porto Alegre", temos a seguinte descrição do ocorrido: 

"(...) O bonde circulou pela última vez em Porto Alegre, depois de 98 anos de serviço prestado à comunidade, em 8 de março de 1970. O dia foi um misto de luto, saudosismo e euforia. Trajando suas melhores roupas, pais, filhos, curiosos, ricos, pobres e pessoas das cidades vizinhas se acotovelavam na frente da sede da Carris, na Avenida João Pessoa, e nas paradas esperando a última viagem de bonde. Houve solenidade de despedida , à qual compareceram o Prefeito, o secretariado, autoridades civis, militares e eclesiásticas. O Sindicato dos Metroviários hasteou as bandeira do pavilhão a meio-pau, em sinal de luto. Circularam pela cidade, neste triste dia, as linhas G - Gasômetro, T - Teresópolis, e P - Partenon. Toda a população pode usufruir do serviço dos elétricos gratuitamente. Às 20h30min, o último elétrico foi recolhido ao depósito de bondes. Alguns motorneiros e tripulação choravam solitários na frente da sede da Carris (...)"*. 
  
    A partir do texto, podemos constatar que este foi um dia de muita emoção. Um misto de entusiasmo com o futuro e saudades e apego pelo passado que se despedia. Quando saímos com o nosso ônibus memória, muitas pessoas nos perguntam o porquê do fim da circulação dos bondes. Depois da leitura de vários textos e da conversa com pessoas que viveram aquela época, constatamos que a união de vários motivos diferentes justificaram a substituição total do sistema de bondes pelo uso de ônibus. Interesses econômicos  e a própria visão da população da época, que associava os bondes ao passado e o transporte rodoviário ao futuro, influenciaram nesta decisão. A verdade, entretanto, é que os bondes elétricos continuam muito presentes na lembrança dos porto-alegrenses mais antigos. 

*SILVA, Cinara Santos da/ MACHADO, João Timotheo Esmerio, "Memória Carris: Crônicas de uma História Compartilhada com Porto Alegre". Porto Alegre, Prefeitura Municipal, 1999. Pags; 75-76. 





Imagens da Despedida dos Bondes de Porto Alegre, oito de março de 1970.