quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Cobrador mais famoso da Carris


O nome dele é Agilberto Quiroz, mas dessa forma ninguém lhe conhece, é como Melancia que o cobrador mais famoso da Carris é conhecido pelos colegas e passageiros. O apelido, segundo nos relatou, surgiu por acaso, quando ele, conversando com um motorista, relatou que um determinado colega não gostava que lhe chamassem de “melancia”. A partir desse momento todos passaram a lhe chamar dessa forma, fazendo com que o Agilberto fosse mais um dos que é conhecido mais pelo apelido do que pelo nome registrado.

São 25 anos de Carris, todos eles vividos nas linhas circulares (os c’s), primeiramente no C3 e hoje no C2. A fama de Melancia vem, no entanto, não pelo seu tempo de trabalho, mas pela relação peculiar estabelecida entre ele e os passageiros. Melancia inaugurou as festas nos ônibus em Porto Alegre e foram muitas: festa de São João, dos namorados, de Santo Antônio, entre outras.  Além disso, havia, no ônibus, a hora da receita, do chimarrão, etc. De acordo com seu relato, tudo começou em 1994 quando uma passageira lhe contou que faria aniversário no outro dia, mas que passaria sozinha, já que estava longe da família que morava em Minas Gerais. Após a menina descer, Melancia combinou com os passageiros uma festa para a garota e comprou para ela um buquê de rosas. No dia do aniversário, após a porta se fechar, todos se uniram para cantar o “parabéns a você” para a aniversariante, seguido de presentes e com direito a bolo e vela. Os olhos da menina se encharcaram e a voz ficou embargada.

Melancia já foi reportagem no Fantástico, Globo Repórter e Al-Jazeera, canal da Arábia.  A turma que com ele organizava as festas e comemorações no ônibus é chamada por ele de “turma da pesada”. São incontáveis as lembranças recebidas pelos passageiros, que vão desde carne de ovelha, porco e gado até uma viagem para a Bahia. O cobrador mais famoso da Carris trabalha de manhã no C2, alegrando e divertindo os usuários que transitam pelo centro.

Clicando aqui vocês poderão conferir o vídeo do 2º Prêmio Destaque Ação Social, promovido pela Cia. Carris no dia 30 de maio de 2007 onde, entre outros funcionários da empresa, foi homenageado o Melancia.


terça-feira, 21 de junho de 2011

Aguardem: Trajetórias no Volante estão a caminho!


Já falamos aqui sobre a importância dos trabalhadores para a história das empresas. São os colaboradores os construtores da Carris, foram eles que no passado e presente fazem dela o que é, referência no transporte coletivo no estado e no país. Sem eles não o sistema de transporte não se efetivaria. Nós, do Memória Carris, sabemos disso e temos o desejo de registrar, salvaguardar e divulgar essas memórias.
Nesse sentido trabalhamos com história oral e já realizamos duas exposições. A primeira teve como objetivo registrar a trajetória dos funcionários com mais de 35 anos de trabalho. Dessa forma, 5 colaboradores tiveram suas histórias na empresa apresentadas e divulgadas. A segunda foi nas trajetórias femininas em que foram escolhidas as colaboradores mais antigas de cada área da empresa: motorista, cobradora, manutenção e administrativo.
Estamos trabalhando agora na terceira exposição trajetórias para o dia do motorista, 25 de julho. Dessa vez o critério de tempo de serviço não será essencial, já que os colegas de cada terminal (início e fim das linhas) votarão naquele considerado mais profissional, amigo e companheiro. São 13 escolhidos que receberão homenagem no Mercado Público, na ocasião a exposição Carris & Porto Alegre: 139 anos interligando caminhos também estará lá.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Carris & Porto Alegre: 139 anos interligando caminhos


Até domingo a exposição Carris & Porto Alegre: 139 anos interligando caminhos estará na Centro Cultural Usina do Gasômetro. Em um dos pontos mais tradicionais da cidade, onde parte da população aprecia o mais bonito pôr do sol e caminha às margens do Guaíba, é possível viajar no tempo e conhecer um pouco da história da empresa mais antiga do país em funcionamento.
 Dos primeiros bondes puxados à tração animal aos modernos ônibus automatizados com ar condicionado e acessibilidade, a exposição mostra a intrínseca relação que Carris e Porto Alegre mantêm há mais de 100 anos. A Carris foi essencial para a formatação dos primeiros bairros e a configuração da Capital e hoje se constitui como patrimônio e marca da cidade e de seus cidadãos.  Dessa forma, por meio de fotografias, trechos de crônicas e relatos do cotidiano, a mostra reúne memórias, saudades e emoções nas novas e antigas gerações. Essas, por sua vez, estão, cada uma a sua forma, presentes na exposição, mostrando que a Carris une em seu símbolo passado, presente e futuro.
A mostra, entretanto, historicamente “repete” algo que por aqui já ocorreu há 13 anos. Enquanto a idealizávamos não havíamos lembrado disso e esses dias, por coincidência, encontramos algo que “teoricamente” já sabíamos: a Usina já havia sido palco de uma exposição da Carris! Confira pessoalmente essa história e viaje conosco no tempo! Na foto parte da equipe que concebeu, criou e montou a exposição!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O rio, o bonde e o celular (parte II)


E o rio ali continuava, calmo, sem se abalar com aqueles valentes “atletas de ferro” que corriam por toda a cidade, ora vazios, ora lotados.
Foi quando o motorneiro deu nova olhada no relógio. E o cobrador, atento à preocupação de seu colega, pensou em voz alta: “Devia existir um telefone ambulante, ou móvel, para evitar que a gente ficasse a todo instante olhando o "cebola". Este era o apelido dado, na época, a relógios de pouco preço.   “Desta forma, dizia o cobrador, a central nos avisaria o momento de iniciarmos a viagem de volta”.
O motorneiro o olhou espantado e perguntou-lhe se ele estava em seu pleno juízo ou tinha suas faculdades mentais abaladas! O telefone, disse o motorneiro, só podia existir em casa, pois dependia de uma linha e era impossível andar carregando aquele aparelho tão grande, quanto pesado, e invariavelmente preto.
Mas o cobrador não desistiu. Disse que seria muito bom um telefone que funcionasse como uma célula do ser humano, preso a este; poderia até chamar-se "celular", disse ao motorneiro. Este mandou que ele acordasse daquele sonho maluco porque já estava na hora de reiniciarem a viagem.
Corria o ano de mil novecentos e cinqüenta e poucos.
E lá se foi o bonde, rompendo novamente o silêncio do Guaíba. O motorneiro, com seu olhar fixo na linha; o cobrador, rindo de sua idéia tão maravilhosa quanto estapafúrdia e maluca!
O cobrador morreu anos depois, antes de criarem este invento maravilhoso chamado celular.
Com certeza, este telefone só foi inventado depois da extinção dos bondes porque o barulho destes não permitiria a cômoda utilização daquele maravilhoso engenho!
O Guaíba continua o mesmo, com seu silêncio, sua extensão, sua profundidade, suas margens e seu inigualável pôr-do-sol. Os bondes, ficaram apenas na lembrança, e na saudade! E eu vou ter de encerrar esta crônica porque meu celular está tocando.


sábado, 11 de junho de 2011

O rio, o bonde e o celular (parte 1)


Já falamos aqui dos bondes como veículos inspirativos, pensando neles, artistas escreveram marchinhas de carnaval, poemas, crônicas, etc. O certo é que não só no passado isso ocorreu, ainda hoje temos exemplos de pessoas que se inspiraram nos antigos trilhos da cidade. Abaixo uma crônica de um dos nossos amigos escritores, Jacson Ramires. Boa leitura e agradecemos a contribuição!

 

O rio, o bonde e o celular


                         (Jacson Ramires Abs da Cruz)

O rio, calmo, respeitava os limites de suas margens e se aninhava em seu leito. A ausência de qualquer brisa o fazia um silencioso espelho. Refletia o debilitado sol que já se deitava em uma de suas margens. Pouco sol e uma temperatura amena marcavam uma daquelas tardes outonais da velha Porto Alegre, às margens do Guaíba.
Mas aquele sepulcral silêncio de repente era transformado no estrepitar barulhento do ferro sobre ferro. Era o bonde da linha Gasômetro que já fizera a última de suas curvas em tão extensa linha. E se aproximava do fim.
Passara dos trilhos duplos para o simples e chegava à esquina da Rua Bento Martins, seu momento de repouso, ponto final daquela linha. O chiar de seus freios ouvia-se a distância. Depois, a parada. Voltava a imperar o silêncio do rio.
Só quem estivesse próximo daquele “maratonista de ferro” podia ouvir o barulho feito por seu motorneiro ao retirar duas partes de seus comandos levando-as para a outra extremidade, ou outra frente do bonde.
Ao mesmo tempo, o cobrador baixava a alavanca que ligava o bonde ao fio elétrico que o acompanhava em toda a linha, possibilitando-lhe chegar ao destino. De imediato, acionava a outra alavanca lutando por uma boa pontaria que lhe permitisse colocar a roldana no fio que alimentava aquele garboso “coletivo de ferro”. O sucesso naquela difícil tarefa autorizava motorneiro e cobrador a sentarem-se em qualquer dos bancos para um justo repouso. Permaneciam fitando o rio como se ali recobrassem energias para a próxima viagem.
Volta e meia o motorneiro olhava seu relógio. Não podia iniciar a viagem nem antes nem depois do horário. O erro criaria problemas no chegar ao Mercado. Poderia ser punido pelo fiscal que lá estava a controlar o trabalho daqueles homens. Todos uniformizados, sofriam com o rigor do verão, e do inverno. Mas ali estavam, altaneiros, levando a comunidade de um lado para outro. Era uma luta cobrar os pingentes, pessoas que viajavam agarradas nos balaustres das portas, digo, das entradas e saídas porque os bondes não tinham portas.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

“Na Carris realizei meu sonho de carregar um brasão de família: levo o brasão da família Carris por onde ando”


Já falamos aqui do trabalho que realizamos nos terminais da Carris através do programa de história oral. Nele, entrevistamos colaboradores dispostos a nos relatar um pedaço de sua trajetória na empresa. As entrevistas são diversas e abarcam antigos e novos funcionários no intuito de coletar os mais diferentes depoimentos daqueles que no seu dia a dia constroem a história da companhia.
No dia 14 de abril estivemos no terminal em frente ao shopping Praia de Belas nas linhas T5 e T2. Nesse dia, além de outros colaboradores, entrevistamos o senhor Nei Fernando de Oliveira. Nei, como é carinhosamente chamado pelos colegas, tem uma relação com a Carris que inicia na sua infância, com um sonho que só se concretizou quando ele entrou na empresa. Quando criança, Nei não sabe estimar com que idade exatamente, ele sonhava em trabalhar como motorista de uma família que ostentaria um brasão.
Dirigindo desde a infância, segundo nos relatou, trabalhou na força aérea durante oito anos. Lá formou uma banda e tocava como corneteiro para eventos oficiais. No entanto, a não realização do sonho o fez deixar esse trabalho e ir em busca de seu ideal. Dessa forma, passou pela Petrobrás, pela Copesul, como motorista da diretoria e foi dois anos motorista particular do presidente do internacional, além de trabalhar como motorista das lotações em Porto Alegre. Entretanto, seu sonho ainda não se realizara e Nei continuava em busca daquilo que para si era um objetivo de vida.
Após trabalhar em diferentes locais, Nei realizou concurso para a Companhia Carris e obteve aprovação. Ao iniciar o trabalho na linha T2, “desbravando a perimetral” que, na época, estava em construção, Nei se deu conta que aqui, na empresa, seu sonho havia se realizado. Com os olhos cheios de água e a voz embargada afirma que na Carris carrega , como motorista, o brasão de família que tanto sonhava, o brasão da família Carris.