quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Saudade dos carnavais de antigamente...De tanta gente no bonde"



Neste blog comentamos, seguidamente, sobre a intimidade entre os porto-alegrenses e os bondes, durante o longo período que este meio de transporte circulou pelas ruas da Capital. Esta relação é percebida pela constante presença desses veículos e de seus tripulantes (Motorneiro e Condutor) nas crônicas e músicas gaúchas. Como não poderia deixar de ser, no carnaval lá estavam eles. Muitas marchinhas faziam referência aos Elétricos e seus personagens.

No entanto, não foi só em Porto Alegre que esses veículos demarcaram seu espaço no cenário cultural. Sendo o bonde uma figura tão popular, foi protagonista de muitas músicas de sucesso nas mais diferentes localidades em que esteve demarcando o urbano. Canções que abarcavam o cotidiano da população com os Elétricos. Retratos das mais singelas viagens, com suas paradas habituais, além da saudação rotineira do gentil senhor ao motorneiro. Outras letras retratavam ainda cenas mais pitorescas, como uma “cantada” na moça que estava ao lado, o jovem que despistava o condutor e seguia seu destino sem pagar a passagem ou, então, as traquinagens da criançada que garantiam sua diversão ao incomodar o “seu” condutor e o “seu” motorneiro.


Em postagens anteriores abordamos essa relação da música com os bondes, falando sobre dois grandes mestres da música popular brasileira: Octávio Dutra (gaúcho) e Noel Rosa (carioca). Acima temos a partitura de uma marcha do carnaval de 1938. A autoria deste sucesso da década de 1930 é da dupla caipira Alvarenga e Ranchinho. Suas letras satirizavam os políticos da época, o que acabou fazendo da dupla, ocasionalmente, alvo de perseguições.

No mesmo ano J. Casacata e Leonel Azevedo brilharam com a marchinha Não Pago o Bonde:

“Não pague o bonde iaiá
Não pague o bonde ioyô
Não pague o bonde
Que eu conheço o condutor”.
Os festejos de 32, Noel Rosa e Eduardo Souto lançaram a música Palpite:
“Palpite
Palpite
Nasceu no crâneo de quem teve meningite
Num dia desses perguntaste ao condutor
Se os bondes passavam na rua do Ouvidor”.
A marcha Zizinha de José Francisco de Freitas fez sucesso no carnaval de 1926, abordando a bolinação nos Elétricos, fato corriqueiro na época:
“Noutro dia num bondinho
Um coronel já bem velhinho
Deu-me um beliscão
Pegou-me na mão.”

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mais de um século de histórias...

Na última Quinta feira, dia 30 de julho, o poeta Mario Quintana completaria 103 anos. Gaúcho de Alegrete adotou Porto Alegre para sua morada, dando início a uma relação recíproca de admiração entre a cidade e o poeta. Através do seu legado podemos perceber a forma simples e profunda da sua poesia abarcar as belezas prosaicas, que muito passam despercebidas na vida frenética da atualidade. Acompanhando de perto as mudanças da Capital, ancoradas na busca pelo progresso, Quintana sempre se posicionou resistente as reformas que iam, pouco a pouco, transformando a simplicidade da cidade pequena, para complexa metrópole.

Mario Quintana era um apaixonado por bondes, assim como muitos porto-alegrenses. Embaralhada num sentimento nostálgico, sua poesia demonstra que os Elétricos ficarão eternizados no imaginário da cidade. Através das lembranças daqueles que conviveram com esse meio de locomoção, os bondes estabelecem sua permanência. Mais do que uma forma de se transportar, estes veículos, que trafegaram pelas ruas de Porto Alegre por quase um século, marcaram trajetórias de vida.

Assim como Quintana, outros literatos, cronistas e compositores demonstram, através de suas obras, a representação dos Elétricos para os porto-alegrenses. Histórias e memórias que se perpetuam entre as diferentes gerações. Embora nosso poeta não esteja mais entre nós para festejar seu aniversário, a data é comemorada. O patrono da Casa de Cultura Mario Quintana foi homenageado na semana passada com uma programação especial que demonstra a imortalidade de sua obra.

Meu bonde passa pelo mercado

O que há de bom mesmo não está à venda,
O que há de bom não custa nada.
Este momento é a flor da eternidade!
Minha alegria aguda até o grito...
Não essa alegria alvar das novelas baratas,
Pois minha alegria inclui também minha tristeza

Tristeza...
Meu companheiro de viagens, sabes?
Todos os bondes vão para o Infinito!