quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Retrospectivas do Memória em 2007


<><>São os últimos dias do ano e crescem nas ruas as expectativas para 2008. Contudo, é hora de refletir sobre o ano que se passou. É comum, nesta época, retrospectivas não só na televisão, mas na vida pessoal também. Se alguns planos não foram executados, outros tiveram êxito e fizeram-nos alcançar crescimento pessoal e profissional. São os momentos propícios a superstições, crenças e rituais, tudo é válido para que o ano novo traga bons presságios. Por mais que o ano que está indo tenha sido difícil, complicado, a esperança sempre vai no sentido de que o novo será melhor, trará novos rumos e novas expectativas.
<><>Nós, do Memória Carris, passamos um ano cheio de atividades, percorrendo quase diariamente as ruas da capital, levando e trazendo as histórias da Companhia Carris e da capital. Somamos experiências, conhecimentos e múltiplas trocas de carinho, de memórias e de histórias. É hora de fazer um balancete do ano e mapear os caminhos do Memória por Porto Alegre. Em cada escola, instituição ou evento conhecemos novas pessoas e promovemos uma riquíssima troca de experiências e trajetórias.
<><>Neste ano visitamos um total de 145 instituições, entre escolas, eventos, creches comunitárias, associações, etc. Os colégios estaduais foram os que mais receberam a visita do museu, tendo no primeiro semestre somado 42% das visitas e no segundo 60%. Em segundo lugar ficaram as escolas particulares, que receberam 22% das visitas. Durante o ano, um total de 24.738 pessoas visitaram o museu da Carris na capital gaúcha. As zonas mais visitadas variaram no primeiro e segundo semestre. No primeiro, a zona norte recebeu 49% das visitas; e, no segundo, a zona sul recebeu 47 %. O Memória esteve presente nas “pontas” de Porto Alegre, tanto do lado sul como do norte. Visitamos muitas vezes o Belém Novo, que é o último bairro da zona Sul, e no norte, o Rubem Berta, que faz divisa com Alvorada.
<><>Cruzar a cidade proporciona-nos uma visão inovadora e diferenciada, já que as capitais costumam ter seus “nichos sociais” diferentes de acordo com o perfil urbano. Além disso, pelo fato de ser um ônibus, o Memória consegue ir a lugares onde as pessoas não tem acesso a esse tipo de evento cultural. Acima um gráfico das instituições visitadas durante o ano.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Novidades

<><> A Página do pesquisador Allen Morrison, disponível até agora em inglês na internet, foi recentemente traduzida por João A. Rodrigues. Dispomos a partir de agora dessa excelente fonte de pesquisa em português, o que contribui para enriquecer o trabalho daqueles que estudam e se interessam pela história dos bondes em Porto Alegre.
A página está também entre os links favoritos: http://tramz.com/br/pa/pap.html

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

As riquezas por trás das fotografias


<><>Olhar fotos antigas desperta sensações diferentes de acordo com o observador. Um historiador pode passar um dia todo analisando uma imagem, tentando tirar dela traços de uma época. Além das características principais, como local, pessoas e vestimentas, observáveis no primeiro momento, há uma tentativa de captar impressões, olhares, enfim, o cotidiano de uma época que se passou, mas que deixou seus rastros: as fotografias. Uma foto pode dizer muitas coisas, especialmente no que diz respeito à vida privada das pessoas, muito em voga na historiografia hoje, mas que geralmente não consta nos livros tradicionais de história.
<><>Contudo, para a maioria dos que hoje desfrutam das facilidades das fotografias digitais, as fotos antigas, geralmente em preto e branco, são distantes de sua realidade e de sua vida. Observo essas reações quando as pessoas olham as fotos expostas no Memória. Geralmente, os mais jovens passam rapidamente, sem se deter aos detalhes das fotos e as sensações do passado retratadas em cada uma delas. É necessário fazer com eles um exercício de observação para que possam perceber a riqueza escondida em cada foto, muitas vezes imperceptível ao primeiro olhar.
<><>São inegáveis as facilidades das câmeras digitais atuais. Elas dispensaram a revelação, já que a maioria armazena suas fotos no computador, além de aumentarem em muito a quantidade de fotos que é possível tirar. No entanto, algumas coisas foram perdidas, como a sensação de receber o envelope lacrado com as fotos tiradas no último aniversário, festa, etc. Apesar da maioria das pessoas tirar mais fotos que há alguns anos atrás, a sensação de expectativa pela chegada das fotos perdeu-se. Ganhamos em muitos aspectos, talvez tenhamos perdido em outros, como tudo, quando a modernidade chega.
<><>A Carris tem um considerável acervo de fotos que eu pretendo digitalizar nesses meses de férias do Memória. Nelas, talvez o mais interessante seja a visão que nos passam do cotidiano da empresa há anos atrás. Há fotos de motorneiros com seus respectivos uniformes, outras do escritório da sede antiga (na João Pessoa), do consultório médico, etc. As fotos são um campo riquíssimo a se explorar e eu não tenho a menor dúvida que é possível escrever uma história para a Carris a partir se suas fotos. A foto acima é do antigo consultório médico da empresa com a máquina de raio-x.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

MO - TOR - NEI - RO


Essa é a última semana de atividades de 2007 no Memória Carris. Na segunda, visitamos a escola Leonardo da Vinci Alfa, no bairro Rio Branco, e na quarta visitaremos a mesma escola no bairro Cristal. O clima dos colégios já é de férias escolares e de término das atividades. Com o fim de ano se aproximando e os dias contados para o sonhado descanso, alguns se sentem à vontade para comemorar e curtir os últimos momentos do ano com os colegas.
<><>Ontem (17/12), no colégio no bairro Rio Branco, durante a explicação aconteceu algo engraçado. Sempre quando explico como funcionavam os bondes elétricos, faço as crianças pensarem como será que se chamava aquele que dirigia o bonde. As respostas são diversas: motorista, maquinista, etc. Depois que elas descobrem o nome, diferente e estranho, pelo qual chamava-se o profissional, acham divertido ficar repetindo entre si a palavra: MO-TOR-NEI-RO. Algumas vezes, quando passo pelos corredores dos colégios, por qualquer motivo, é comum uma criança gritar em minha direção: motorneiro! Semana passada, na Casa da Criança (07/12), um menino se escondia atrás da escada enquanto eu subia e gritava o nome do profissional. Bem, são coisas pitorescas e engraçadas que acontecem no dia-a-dia em contato com os pequenos. Ontem, no entanto, uma menina tentando adivinhar o nome do profissional de bonde disse-me: bondeiro! Foi engraçado e toda turma riu muito, mas eu respondi que teria lógica, talvez até maior da razão porque o nome dele seja motorneiro.
<><>Em minha procura na internet, a única explicação que encontrei é que seria pela razão da junção de duas palavras: motor e torneira. Motor, tem a ver com o bonde mesmo, mecanismo inserido na parte inferior do veículo. Já torneira teria a ver com o acelerador, que funcionava por uma manivela, lembrando uma torneira.
<><>Ser motorneiro não era simples. Muitos não queriam, devido às responsabilidades exigidas. Os exames eram rigorosos, assim como o treinamento. Em alguns sistemas, inclusive, o iniciante fazia o treinamento em pleno tráfego, acompanhado de um motorneiro experiente. Não havia, portanto, veículos especiais para o treinamento, como ocorre nos ônibus hoje.
<><>A foto acima é do uniforme do motorneiro que fica dentro do Museu Memória Carris.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Por que o bonde se chama “bonde”?

<><>Ontem (12/12), visitamos a escola Monteiro Lobato, no bairro Boa Vista em Porto Alegre. Enquanto atendia uma das turmas uma criança da terceira série me perguntou: - Mas, por que bonde? Fiquei entusiasmada com a pergunta, pois a resposta remete a pensar sobre as próprias palavras e como elas entram para o “vocabulário popular”.
<><>A palavra bonde surgiu por volta de 1870, quando havia iniciado o serviço desses veículos no Brasil. A passagem custava então 200 réis. Como não havia moedas com esse valor em circulação, as empresas começaram a emitir cupons (bilhetes), com cartela de cinco unidades, já que a moeda de mil réis circulava em grande quantidade. Os bilhetes, impressos nos Estados Unidos, foram chamados de bonds, que significa bônus, ação. Os bilhetes tornaram-se também uma espécie de “moeda corrente”, podendo ser usados como troco em alguns estabelecimentos comerciais. Na Carris os bilhetes eram vendidos numa das salas do Mercado Público, onde localizava-se na época o escritório da empresa.
<><>O termo bonds teria se originado da denominação das ações do império no exterior. A imprensa noticiou as ações e as pessoas passaram a relacionar com os bilhetes do Carris de Ferro. Por neologismo os veículos passaram a denominar-se bondes.
<><>Os veículos em inglês são denominados tramway, que significa “caminho do tram”, designando uma linha férrea urbana. Uma linha de tramway destina-se ao tráfego de tram. Portanto, embora chamado de tramway, o nome do veículo é tram. No Brasil, inicialmente, a palavra tramway designava todo o conjunto, a linha (trilhos) e o veículo. Mais tarde o veiculo (tram) passou a ser denominado Diligência por Trilhos de Ferro, depois Carril de Ferro e finalmente Bonde. Já a palavra tram é oriunda da contração da palavra trammer, que em 1860 era traduzida para o português como vagão miuçalheiro, designador de um carregador de pequenos fragmentos. Na mineração a vagoneta usada era chamada trammer, essa palavra designava, portanto, o conjunto, vagoneta e trilhos. No site http://br.geocities.com/bonde103/eti.html é possível encontrar mais informações sobre a etimologia das palavras designadoras da malha viária e dos veículos.
<><>Na foto acima, nosso tram na praça XV, ponto tradicional de Porto Alegre.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Final de ano cheio de experiências




<><>Já estamos na contagem dos dias para a virada de ano. Nesses momentos não faltam esperanças, desejos e alegrias. É a época em que as pessoas ficam mais alegres, envoltas no “espírito natalino”. Há uma maior preocupação com os outros e uma sensação de renovo, mesmo em meio às correrias de final de ano. Afinal, a vida não é feita só de trabalho e de cotidiano, todos precisamos desse eterno renovar, que nos dá força para continuar. Andando com o Memória pela cidade é possível sentir esse clima de alegria pela chegada do final de ano, da esperada férias e do ano novo.
<><>Semana passada visitamos uma escola na Ilha das Flores, Oscar Schmitt. É incrível como o Memória propicia a nós, que trabalhamos nele, experiências tão enriquecedoras no sentido social, educacional e humano. Certamente se não fosse pelo museu eu jamais iria visitar a Ilha das Flores, que ficou tão famosa com o documentário produzido anos atrás (1989), por Jorge Furtado. Uma cidade como Porto Alegre, com ares de metrópole, costuma criar certos nichos sociais, zonas de concentração de riqueza ou de exclusão social. Algumas regiões das ilhas são marcadas por essas questões, estão distantes do centro e geralmente não têm acesso à saúde, educação e cultura. Embora alguns alunos não morem na ilha, a maioria deles vive ali e não visita o centro, a menos que se organize um passeio com a escola. Portanto, levar a história do transporte na capital ajuda-os a construir uma identidade de porto-alegrense, embora “ a cidade” esteja, muitas vezes, distante de sua realidade.
<><>O interesse deles pelo Memória e o retorno que recebemos em termos de carinho e valorização é de se salientar. Muitos ficaram empolgados com a Porto Alegre antiga e com as riquezas dessa. Fiquei encantada com alguns meninos que trabalham desde cedo na reciclagem do lixo, mas que nem por isso se sentem vítimas da situação, antes têm dentro dos olhos uma certa maturidade que eu não saberia descrever, muito fruto das experiências que tiveram.
<><>No final de semana o Memória continuou em atividade, visitando dessa vez a feira de saúde na Hípica. Passamos o dia lá levando a história da Carris à Zona Sul da capital. Minha sincera homenagem aos profissionais que trabalharam no evento e que lutam dia após dia pela saúde pública no Brasil. A foto acima é do pessoal que organizou o evento. O agente comunitário que está no meio da fotogrfia foi funcionário da Carris, Cleiton.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

De norte a sul o Memória Carris leva sua história aos porto-alegrenses


<><> Falta menos de um mês para o Natal. Dei-me conta disso ontem (26/11), enquanto visitávamos o Associação Cristã de Moços, na Zona Norte. Muitas vezes, na correria do dia a dia, perdemos a noção do passar do tempo e, quando refletimos sobre isso, levamos um susto. Quem trabalha com história é geralmente nostálgico em relação ao que se passou, costumo brincar que historiadores normalmente pensam e refletem mais sobre os problemas da história que os do seu próprio tempo. Contudo, esse saudosismo faz parte de todas as gerações e aumenta conforme o tempo passa.
<><>O sentimento em relação ao passado muda conforme a idade daqueles que têm contato com ele. É interessante refletir sobre essas questões quando se “leva” a história aos diferentes pontos da capital, para pessoas diferenciadas, com trajetórias de vidas desiguais. Os mais novos têm em relação ao fatos que já aconteceram um sentimento de curiosidade, já os mais velhos demonstram uma sensação de nostalgia, de saudade dos “áureos” tempos. Para as crianças e adolescentes conhecer a história dos bondes é ter contato com algo que não viram, que se distancia deles, mas que, pelo aspecto curioso, desperta a atenção. Já para os que andaram de bonde é reviver uma realidade que já não existe, mas que está presente em suas lembranças, em sua memória e trajetória de vida.
<><>Ontem, como já mencionei, estivemos no ACM, localizado na Zona Norte da capital. O interessante é que sexta feira (23/11), em nossa última visita da semana, fomos a uma escola no Pôr do Sol, bairro localizado próximo ao Belém Novo, extremo sul da capital. Um dia na zona sul, outro na zona norte, o Memória cruza a cidade nessa contínua troca de conhecimentos. Inclusive na sexta-feira recebemos a visita do pessoal da Rede Internacional de Televisão que nos acompanhou na visita à escola e à história da empresa, pois conversamos mais de uma hora sobre a história da Carris. Acima uma foto do pessoal, que fez um passeio com o Memória pela memória.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Afinal, bonde ou trem?


<><>O Memória Carris possui em seu interior uma réplica de bonde que anda sob os trilhos. Modelo Gaiola, como foi apelidado pela população nos tempos dos bondes elétricos, ele faz a alegria da garotada, que acompanha o andar do veículo. Contudo, o mais engraçado é que depois de ouvir muitas explicações sobre bondes em Porto Alegre é comum as crianças apontarem o dedo para o bondinho “Partenon” com muita alegria, gritando: - Olha, o trem! Geralmente eu olho para elas e pergunto: - Trem? Algumas respondem rapidamente: -Não, o bonde. Outras me olham sem entender porque erraram.
<><>O certo é que por filmes a imagem do trem é, de certo modo, mais marcante que a dos bondes. Quem nunca viu aquelas imagens dos trens correndo nos campos, pessoas esperando nas estações, etc? No entanto, para aqueles que viveram as transformações urbanas na capital gaúcha, o bonde não faz somente parte da história da cidade, mas faz parte de sua própria vida. Pelas linhas de bonde a cidade se desenvolveu e, por isso, a ligação com a capital é intrínseca, pois o bonde, como coloquei na outra postagem, era o próprio símbolo da modernidade nas ruas.
<><>As semelhanças entre bondes e trens são muitas, ambos correm sobre os trilhos e são movidos a tração elétrica. Contudo, o bonde geralmente tem sua malha viária no mundo urbano, embora algumas cidades rurais tenham usado o bonde durante alguns anos. Além disso, o bonde tem um aspecto “mais íntimo” que o trem, mais ligado ao dia a dia da população urbana. O trem andava geralmente no campo, cruzando cidades em alta velocidade, já o bonde cruzava a malha viária urbana em velocidade mais baixa, inclusive, alguns contam, que era possível cumprimentar as pessoas que passavam pela rua e observar o movimento da cidade. O bonde virava a esquina, subia ladeiras, levava no colégio e trazia para casa, tudo muito familiar, envolto numa época em que Porto Alegre ainda tinha “ares” de cidade pequena. Viajar de trem, no entanto, era um evento, significa, na maioria das vezes, ficar alguns dias fora de casa e desembarcar em estações que ficavam distantes de onde se partiu.
<><>Em 1874 iniciu o serviço de trens na, hoje chamada, “região metropolitana”, entre a cidade de São Leopoldo e Porto Alegre, o objetivo era transportar os produtos do Vale dos Sinos à capital gaúcha. No século XX, a linha férrea alcançaria Taquara e posteriormente Gramado e Canela. Hoje existe em São Leopoldo o museu do trem que guarda parte dessa memória do transporte viário na grande Porto alegre. Site do museu: http://www.sindileo.com.br/m_trem.html
<><>Já os bondes circularam somente no perímetro urbano, deles voltaremos a falar em outras postagens. Acima a foto de nosso famoso bondinho Partenon, que tanto alegra a criançada em nossas “andanças” por Porto Alegre.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

No labirinto das palavras: as idas e voltas do progresso e outras palavras



<><>Sempre gostei de pensar na semântica das palavras. Com o passar do tempo, os significados de determinadas palavras podem mudar, às vezes até completamente, mas elas permanecem as mesmas ao longo dos anos. Também é interessante observar-se como são mutantes os significados quando determinada palavra entra para o “vocabulário popular”.
<><>Progresso é uma dessas palavras que sofreu tantas mutações de significado que seria quase impossível descrever sua “evolução”. No final do século XIX, quando chegaram em Porto Alegre os bondes a mula, eles representavam o progresso nas ruas da capital A cidade estava evoluindo, lá estavam os trilhos como prova incontestável. No dia da inauguração, em 1873, estavam presentes as autoridades políticas, curiosos e pessoas entusiasmadas com a novidade. Inclusive, nesse primeiro dia, o bonde foi puxado por um par de cavalos. Os trilhos formatavam as ruas, demarcavam os primeiros bairros e davam contorno a cidade, que adquiria um caráter urbano. O novo transporte estava ligado à idéia de cidade asseada, bem organizada e com desenvolvimento tecnológico.
<><>É claro que as mutações de significado estão relacionadas com o contexto em que as palavras são produzidas e também modificadas. Quando determinado termo é usado o que se tem em mente é o significado dele em relação à experiência daquele que utiliza a palavra. Explicando melhor, quem falava em progresso na chegada dos bondes a Porto Alegre, relacionava o novo transporte com sua experiência anterior de deslocamento até o centro, por exemplo, quando o percurso podia demorar até um dia inteiro. O desenvolvimento dos bairros (antigos arraiais) estava ligado a expansão das linhas de bonde pela cidade. Não é por acaso, por exemplo, que o bairro mais antigo da capital, Menino Deus, é o primeiro a receber a linha do novo transporte.
<><> Cem anos depois, no entanto, os bondes deixariam de circular em Porto alegre, mais uma vez, em nome do progresso. Os bondes prejudicavam, por seus trilhos, o andar dos novos ônibus e causavam transtorno por causa da utilização da energia elétrica. O mesmo progresso, mais uma vez, usado como justificativa. Na próxima postagem continuo falando sobre as palavras.
<><> A foto acima é do bairro Menino Deus, primeiro arraial a receber a linha de bonde já na sua inauguração.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pequena Retrospectiva




<><>Hoje (01/11), faltam exatamente dois meses para o final do ano, nessas últimas semanas costumamos fazer uma retrospectiva do ano que passou e das expectativas para o que está vindo. Nós, do Memória Carris, estamos com a agenda fechada para os próximos dois meses e a sensação é que o tempo passa cada vez mais rápido em direção ao final do ano.
<><>O nosso ano tem sido intenso, num contínuo andar pela cidade, conhecendo suas diferentes regiões, públicos e interligações. Levar a história da cidade para seus moradores é um encontro de vivências indescritível, uma troca de conhecimentos que gera novas formas de visão sobre si mesmo e sobre lugar onde se vive. Levar toda essa história dentro de um ônibus não deixa de ser representativo, pois esse veículo pode ser considerado hoje símbolo do transporte público, já que o Brasil há muito tempo voltou-se principalmente às rodovias. Contudo, talvez “levar” não seja o termo mais correto, pois há sempre uma troca de vivências, expectativas e informações, nós também recebemos conhecimentos daqueles que não necessariamente são escritores da história, mas são seus protagonistas.
<><>Ontem (31/10), estivemos na escola David Canabarro, no bairro Rubem Berta, zona Norte de Porto Alegre. A escola também estava em clima de festa, já que ontem era a inauguração dos jogos de educação física. Em meio ao lindo dia ensolarado, os alunos puderam compartilhar um pouco sobre a história da Carris e da nossa capital. Ver os bancos de bonde, a aparelhagem que fazia parte dos antigos veículos e ver as fotos antigas faz com que a história se torne mais acessível, não mais separada pelo abismo temporal que geralmente nos separa dela. É uma forma indireta de “tocar” na história, senti-la e vivencia-la, dentro de um ônibus.
<><> A foto que aparece acima é da festa da criançada na Cristovão Colombo e o menino que aparece com a câmera é o suposto "cinegrafista" responsável pelo divertido vídeo do Memória colocado no youtube (pegamos você, hein? Brincadeirinha, adoramos a sua iniciativa), http://br.youtube.com/watch?v=j8U543q45yo.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Modernidade nas ruas de Porto Alegre ( parte II)


<><>O transporte de uma cidade é também sua vitrine para o mundo, representação de como “anda” o cidadão urbano. Assim, a chegada dos elétricos representava a chegada da modernidade às ruas da capital. Porto Alegre podia agora fazer parte da lista de grandes cidades do mundo, estava em sintonia com a modernidade e com o progresso. Além disso, os bondes elétricos agora podiam subir com tranqüilidade as ladeiras da capital, já que com as mulas a dificuldade era tamanha que, segundo os cronistas, muitos desciam do bonde e ajudavam a empurrar, por pena dos animais.
<><>A eletricidade nas ruas do centro, durante a noite, dava a sensação de “vida noturna intensa”, o que geralmente era característico nas grandes cidades. O próprio farol de bonde durante a noite devia incitar o “ar de novidade”, já que antes o que iluminava o caminho dos bondes a tração animal eram os antigos lampiões. A cidade crescia, novos trilhos eram colocados, instalados os cabos elétricos e os velhos lampiões eram lentamente apagados, abrindo o caminho “aos agentes” do progresso.
<><>Contudo, nem tudo era alegria na inauguração, o sistema de implantação da eletricidade consumiu investimento, mão de obra e tempo. A empresa, inclusive, afirmava nos Relatórios da Diretoria (anos de 1906 a 1915, disponíveis no arquivo público), serem altíssimos os custos de instalação do novo e revolucionário sistema. Além disso, nos primeiros dias eram freqüentes as reclamações de super-lotação e de atrasos em horários. No jornal A Federeção lia-se em 11 de março de 1908, ano da inauguração dos bondes:
<><>(...) Em todo o percurso das linhas e esquinas havia gente á [sic] espera, não logrando tomar passagem. O povo da cidade, que tomava o bonde na praça da Alfândega, ia ao fim das linhas e voltava no mesmo bonde. D’est’ate, os habitantes dos arrabaldes, quer para virem a cidade quer para regressarem a cidade, perderam tempo enorme, não conseguindo a maior parte servir-se dos electricos, vendo-se obrigados a tomar carros. (...) Demorado a princípio e com esperas nos desvios, de modo a gastar-se nos eléctricos tempo quase dobrado do que se despendia anteriormente (...)
<><>Ou seja se, por um lado, os bondes eram a modernidade nas ruas, por outro lado, as dificuldades iniciais eram grandes. No entanto, não faltava o entusiasmo frente à novidade, representado nas crônicas, poemas e músicas da época. A foto que aparece é de um bonde Partenon na década de 10, na Marechal Floriano em Porto Alegre.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A modernidade nas ruas de Porto Alegre, a chegada na eletricidade


<><>“ Todos os vehiculos de apparelhos automáticos salvavidas Hudson & Bowring- o maior aperfeiçoado até hoje inventado- distribuem a luz elétrica com 15 lampadas de 16 velhos, e possuem os indicadores de percurso e destino, os registros de passageiros e outras minudencias, dos systemas mais modernos adoptados nas grandes capitães” [grifos são meus].
<><>O parágrafo acima está nos Relatórios da Diretoria do ano de 1906 (pág. 6), quando se negociava a compra dos novos veículos que seriam usados no sistema elétrico em implantação. Os novos bondes eram a modernidade nas ruas de Porto Alegre, uma prova disso é a citação acima, referência aos veículos importados, com sistemas usados nas grandes cidades. Imagino que esses anos deviam ser anos de intensa movimentação em Porto alegre. “Olha os elétricos!”, deviam exclamar espantadas as donas de casa e os que saíam pelo centro de Porto Alegre. Achylles Porto Alegre, chega a afirmar que muitos, ainda assustados com a novidade, afirmavam que não era bom andar em cima dos trilhos, pois se corria o risco de ficar ali, eletrificado. Inclusive, diria João, ouvira falar de uma amiga da vizinha que morrera assim.
<><>Sandra Pesavento, historiadora de Porto Alegre (foi minha professora inclusive), descreve o clima eufórico que tomou as ruas da capital com a chegada da energia elétrica. Segundo ela, as vitrines na Rua da Praia, iluminadas pela eletricidade, significavam, para os porto alegrenses, a modernidade estampada em suas ruas, nas esquinas, no coração da cidade.
<><>A Força e Luz Porto Alegrense, como passou a ser chamada a Carris, após a união entre as duas empresas que trafegavam com tração animal, importou 38 bondes elétricos, sendo dois modelos imperiais e um que servia como carro de limpeza. A foto acima pertence ao acervo do Allen Morrison e é um modelo imperial, com capacidade para até 62 pessoas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cuidado com o bonde! Evitando acidentes nos trilhos (parte II)


<><>Hoje vamos voltar a falar sobre os mecanismos instalados nos bondes que tinham como objetivo evitar acidentes. Além da chave de reversão que, como vimos, servia como “ré” caso o motorneiro visse que ia atropelar alguém ou alguma coisa, havia o “salva vidas” e as caixas de areia que ficavam no vestíbulo, parte fronteira do bonde, com os bancos colocados na tranversal.
<><>O nome curioso ativa a curiosidade dos que estudam sobre a história do transporte público. O instrumento ficava na parte inferior do bonde e a função era evitar atropelamentos. Funcionava como uma espécie de “pára-choques” que ao receber o toque de alguma coisa imediatamente fazia descer uma espécie de pá que erguia a pessoa ou o animal, evitando que esse fosse atropelado. O que já ouvi de algumas pessoas é que geralmente quem era erguido pela “pá móvel” se machucava muito, mas, pelo menos, não era atropelado pelas 20 toneladas.
<><>Em alguns bondes havia também, abaixo dos vestíbulos, um compartimento com areia comprimida, que o motorneiro acionava em caso de existir a necessidade de uma “freada brusca”. Os trilhos em atrito com a areia faziam com que o bonde parasse, por isso que havia os reparadores de trilhos que retiravam, durante a madrugada, as areias levadas pela chuva, como vimos em outra postagem.
<><> A foto que aparece acima é do pesquisador Allen Morrison (cujo link do site está no blog). Nela pode-se ver o salva-vidas na parte inferior. Esse bonde é um modelo gaiola, da linha Teresópolis, em 1957.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cuidado com o bonde! Evitando acidentes nos trilhos


<><>Uma das perguntas mais freqüentes das pessoas que conhecem o Memória Carris ou dos que têm contato com a história do transporte público é se aconteciam muitos acidentes em bondes ou envolvendo os veículos. Hoje tentarei responder algumas dessas questões.
<><>Eram muitos os fatores que poderiam influenciar os acidentes em bondes, o fato da maioria deles não ter porta, por exemplo, fazia com que muitos viajassem de pé nos estribos. Nesse caso, qualquer desequilíbrio poderia ser fatal, além disso, era comum os bondes se cruzarem em determinadas partes do caminho, nesse caso, os passageiros deviam “se espremer” se não quisessem chocar-se com o veículo ou com as pessoas que também estavam de pé no bonde que passava em sentido contrário.
<><>O bonde pesa em média 20 toneladas, tendo em mente esse dado, é possível imaginarmos o que poderia significar para uma pessoa ser atropelada ou o choque entre dois veículos ou entre um bonde e um carro, por exemplo. Nesse site, por exemplo, há várias fotos históricas de colisões entre bondes e carros ou caminhões em São Paulo: http://www.novomilenio.inf.br/santos/trilho76.htm
<><>Para evitar acidentes havia certos mecanismos na estrutura funcional do veículo. Um desses mecanismos era o reversor, espécie de chave que ficava no acelerador. Quando o motorneiro trocava de lado no bonde para passar a andar pelo lado oposto (eles tinham dois lados), levava o reversor junto, pois sem ele o veículo não andava. Se o motorneiro e o condutor resolviam tomar um café em algum bar deviam levar a peça, evitando que algum menino numa travessura “roubasse” o bonde, como o que ocorreu em Porto Alegre, segundo o relato de Eloy, quando um garoto desceu a Protásio Alves pilotando o bonde, enquanto o motorneiro e condutor corriam atrás do “ladrão de bonde”: http://viagensdoeloy.blogspot.com/2006_07_16_archive.html. Esse mecanismo além de ser uma espécie de chave, servia para evitar atropelamentos, pois se o motorneiro visse algum desavisado andando na frente do bonde, girava o reversor e o bonde automaticamente começava a andar para o lado oposto, evitando que a vítima fosse atropelada.
<><>A foto que aparece acima é do acelerador, sendo que o reversor é a peça do lado da manivela (em outra postagem falo sobre sua função).

Troca de histórias no caminho dos antiquários


<><>Nesse final de semana o Memória Carris seguiu em atividade, visitando o caminho dos antiquários. O caminho das antiguidades, tradicional em Porto Alegre, costuma reunir curiosos, estudiosos e amantes do passado. Reunindo diversos antiquários, é um momento de partilhar conhecimentos na forma de conversas e relíquias, tão valiosamente guardadas por seus possuidores. A feira ocorre no centro de Porto Alegre, compreende a praça Daltro Fº (a praça do Capitólio), a praça Marquesa de Sevigné e o viaduto da Borges. A arquitetura é tipicamente do século passado e o evento reúne serviços, butiques, bares e restaurantes. O evento recebe o apoio da prefeitura municipal e ocorre em todos os sábados na capital gaúcha.
<><>O museu itinerante se fez presente no evento e inseriu-se nessa rica troca e confluência de história, vivência e experiência. Nesse sábado (20/10), em especial, comemorou-se o aniversário do caminho dos antiquários, que tem se consagrado como evento turístico em Porto Alegre. O interessante em eventos é a possibilidade que temos de aprender com as pessoas que trazem consigo a experiência pessoal e histórica também. Nesse sábado, encontramos muitos nostálgicos pelos bondes, que lembram com muita saudade a época em que Porto Alegre crescia e vivia em cima de trilhos. É interessante e recompensador ouvir os comentários e sentir o carinho das pessoas pelos antigos bondes
<><>Recebemos também os alunos da faculdade de turismo de Bento Gonçalves que vieram conhecer “de perto” a história da Companhia Carris em Porto Alegre. A foto que aparece é da turma que nos prestigiou nesse dia de troca de histórias.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Em clima de festa



<><>O museu Memória Carris está com a agenda cheia até dezembro. Estamos organizando uma lista de espera para aquelas escolas que infelizmente ficaram sem data agendada. Contudo, em breve abriremos o calendário para 2008, a fim de que mais escolas e instituições possam ter a visita do museu móvel.
<><>Até agora a semana foi em clima de festa, pois visitamos duas instituições que completavam aniversário. Na segunda feira (15/10), visitamos a ALAN (associação da liga de amparo aos necessitados), que esse ano completou 50 anos. Conforme nos relatou a coordenadora da instituição, Astrid, ela teria sido fundada por um casal que residia no bairro Menino Deus. Eles vinham ao Bom Jesus (onde fica a ALAN) ministrar palestras aos tuberculosos. Quando tiveram contato com algumas famílias que tinham que deixar seus filhos sozinhos em casa quando iam trabalhar, decidiram fundar uma creche assistencial. Hoje a instituição tem o apoio da prefeitura e de vários parceiros, como ONGS ou pessoas físicas que participam dia-a-dia desse trabalho. O Memória recebeu diversas crianças e adolescentes e nós passamos um dia em contato com essa fundação, que tem um trabalho tão significativo.
<><>Ontem (17/10), foi a vez do Colégio Americano receber a visita do Memória, na semana do aniversário da escola. A escola completou 122 anos, sendo que no início era um colégio de meninas que ficava em um prédio alugado no centro. Alguns dos cursos ali oferecidos eram economia do lar, datilografia, além disso, foi o primeiro no Brasil a implantar o curso de secretariado em 1952. O público principal foi a criançada da educação infantil e das séries iniciais que ficaram maravilhadas com a história do bonde em Porto Alegre.
<><>Na terça feira (16/10), o museu recebeu a visita dos adolescentes que cursam o curso de Desenvolvimento de Competências Profissionais, ministrado na companhia Carris com apoio da fundação Abrinq. A foto que aparece no alto é dos estudantes que visitaram o Memória.
<><>No sábado (20/10), estaremos no Caminho dos Antiquários, na avenida Borges de Medeiros em frente ao antigo cinema Capitólio. Durante a manhã vamos receber também a visita de um grupo de alunos da faculdade de turismo de Bento Gonçalves.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

“Por trás das cortinas”: o trabalho dos anônimos para a perfeição do espetáculo


<><>As pessoas mais visíveis de uma empresa de transporte público sempre são os cobradores e motoristas. São eles que dia-a-dia marcam as ruas da cidade, levam as pessoas, as cumprimentam e representam a companhia nos diferentes momentos do dia. No entanto, para que cada ônibus possa sair pela manhã é necessário que uma equipe, geralmente anônima, limpe os ônibus, troque as peças necessárias, enfim, realize a manutenção na frota para que ela possa sair às ruas pela manhã. A manutenção e a lavagem, na Carris, são áreas essenciais que funcionam 24 horas, para que pela manhã os ônibus estejam impecáveis no atendimento ao usuário.
<><>Se voltarmos no tempo, encontraremos também esses indivíduos anônimos na Companhia Carris, eram os que garantiam o funcionamento dos bondes. Dia desses conheci um desses antigos funcionários que trabalhou na Carris durante a década de 40. O senhor Adão Silva Samuel foi contratado como ajudante de ferreiro e era um dos responsáveis pela colocação dos dormentes nos trilhos. Geralmente, essa era uma parte que ficava abaixo do calçamento, a fenda dos trilhos era a única parte visível. Além de sua função, seu Adão também trabalhava como reparador de trilhos nas ruas da capital. Essa função, no entanto, não tinha hora, podia-se ficar em casa, mas era necessário estar à disposição da companhia para qualquer eventualidade. Em dias de muita chuva, a água levava a areia para os trilhos, tornando o caminho dos bondes intransitáveis, já que a areia em atrito com as rodas do bonde impossibilitava seu transito. Nesse momento, pessoas como o senhor Adão eram chamados para a retirada da areia. Munidos de pás e do que mais fosse necessário, trabalhavam de dia ou de noite garantindo o percurso dos passageiros de bonde. De acordo com ele, isso acontecia muito na rua 24 de outubro, no bairro Moinhos de Vento, para onde eram freqüentemente chamados.
<><>Lembrados nas crônicas, nos poemas e nas músicas estão os motorneiros e condutores, representados na memória popular. Contudo, para que esses pudessem trabalhar uma equipe anônima trabalhava dia e noite na manutenção dos trilhos e da rede elétrica, essa nem sempre era lembrada, atuavam antes da hora do espetáculo para que a peça fosse perfeita.
<><>A foto exposta é da colocação de trilhos em Porto alegre. Essa foto foi retirada da página de André Luiz Riegel Prati, http://fotosantigas.prati.com.br/FotosAntigas/. Se alguém souber, por favor, dê-me a devida identificação da rua.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Poemas nos bondes


<><>Voltando aos condutores: essa semana me deparei com o nome de um condutor que era escritor também. Em 22 de junho de 1953, a Última Hora (Jornal carioca), publicava o lançamento do livro do condutor de bonde, Jacinto Nunes Quintas, intitulado Poesias de um condutor de bonde. No momento de lançamento, ele estava afastado do trabalho e se dedicava ainda mais à sua atividade preferida: fazer versos. Jacinto começou a trabalhar em 1934, ficou lembrado por seu bom humor mesmo nas dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. Desde cedinho, quando entrava de serviço, até o final do dia, ia improvisando ou repetindo velhas rimas. O condutor podia fazer versos de tudo o que via, qualquer motivo podia servir de inspiração. Por seu bom humor no transporte coletivo, conquistou àquela que seria sua esposa. Quando passava cobrando a passagem dizia:


<><>Por gentileza
<><>Aqui está o condutor
<><>Que trata a todos com delicadeza


<><>Se o passageiro insistisse em não pagar a passagem, Quintas repetia:


<><>Cavalheiro, por favor
<><>Não esqueça de pagar o condutor


<><>E quando chegava o fiscal para conferir se o condutor estava registrando corretamente no contador o número de passageiros, falava:

<><>Pode ver, seu fiscal,
<><>Aqui está tudo legal.

<><> Os condutores fizeram parte da vida daqueles que dia-a-dia viajavam de bonde nas diversas cidades do Brasil.Cobrando as passagens e correndo atrás dos que não queriam pagar, deram asas a imaginação popular sobre sua figura. A música carnavalesca de Leonel Azevedo (coloquei pedaço da música na outra postagem) é um exemplo dessa relação dos populares com os profissionais. Quando os bondes eram abertos, a dificuldade era ainda maior para os condutores, pois tinham que virar verdadeiros malabaristas andando nos estribos, segurando-se nos balaústres com uma mão e cobrando com outra. Em Porto Alegre, muito devido ao frio, os bondes abertos foram substituídos pelos fechados, mas no Rio de Janeiro, por exemplo, os abertos ficaram até o fim dos serviços de bonde.
<><> A imagem que está aparecendo é do contador de passageiros, pertencente ao modelo Brill, que está dentro do bonde que hoje serve ao atendimento do SAC (serviço de atendimento ao cliente).

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Os bondes tinham roleta?


<><> Uma pergunta que geralmente é feita entre os que não tiveram contato com o bonde é se ele tinha roleta ou qual era o mecanismo de controle para aqueles que andavam no veículo. O bonde não tinha roleta como os ônibus atuais. Em algumas cidades como Porto Alegre havia um objeto que ficava pendurado no veículo chamado Contador de Passageiros ou “relógio”. O condutor, profissional responsável pela cobrança das passagens, andava de um lado a outro cobrando as passagens com notas de dinheiro envoltas nos dedos. Muitas vezes, o condutor tinha que sair correndo atrás de algum sujeito que queria fugir sem pagar a passagem.
<><>O condutor, apesar do nome sugestivo, não era quem dirigia o bonde. Quem fazia isso era o motorneiro. O condutor era responsável pela cobrança das passagens e dava sinal ao motorneiro para a partida do veículo, por isso a denominação, era ele que “conduzia” o veículo. Por não existir no bonde um mecanismo que permitisse a exatidão na contagem de passageiros, eram comuns as brincadeiras que se faziam em relação ao trabalho dos condutores. Por exemplo, em São Paulo, uma piadinha que se fazia era que os condutores contavam as passagens “uma pra Light, uma pra mim”, referindo-se a possibilidade de se ficar com parte das passagens cobradas.
<><>Nos horários de muito movimento, era difícil a tarefa de cobrar as passagens, especialmente daqueles que ficavam pendurados nas portas em horários de pique. Segundo alguns, havia a “mamata” para os amigos, como confessa a música de Leonel Azevedo e J. Cascata, de 1937: “Não pago o bonde, Iaiá / Não pago o bonde, Ioiô / Não pago o bonde / Que eu conheço o condutor”. Segundo Milton Ribeiro, em seu blog, a melhor maneira de não pagar passagem era essa: ficar viajando na porta, sentindo o vento bater no rosto. Além disso, o condutor podia esquecer quem já havia pago e cobrar novamente, ou alguém afirmar que pagou sem ter feito, gerando bate-bocas. Blog do Milton: http://www.verbeat.org/blogs/miltonribeiro/arquivos/2005/11/os_bondes_de_po.html
<><>Os primeiros ônibus também não tinham roleta (ou catraca). O cobrador andava dentro do veículo fazendo a cobrança e entregando pequenos papéis como comprovante. Em Porto Alegre, geralmente chamamos de roleta o objeto responsável pela soma dos passageiros, o que remete aos jogos de azar em cassinos (também chamado roda da fortuna), do francês “rolette”. Em outros lugares, o aparelho é conhecido como catraca. A palavra é uma expressão idiomática brasileira, originária da peça que impulsiona os veículos de duas rodas (catraca da bicicleta e da motocicleta). Em inglês, turnstiles e em espanhol, molinete. Em 1642, Blaise Pascal inventou, aos 19 anos, o relógio-contador mecânico, empregado até hoje em diversos modelos de catracas, que deu origem às primeiras máquinas de calcular.A fábrica de catracas mais antiga e funcionando até hoje é a Perey (EUA), fundada em 1913, Na década de 50, ela equipou algumas estações de trem de São Paulo. O uso da catraca nos veículos de transporte público possibilitou ao Ministério Público exigir que o cobrador trabalhasse sentado.
<><> A foto colocada é do contador de passageiros que tem no Memória. Na próxima postagem coloco o que tem no bonde restaurado que fica em frente a Carris, modelo Brill, serve ao SAC (serviço de atendimento ao cliente).

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Memória e a Festa da Criançada


<><>O nosso final de semana foi agitado, domingo fomos ao evento da Associação Cristóvão Colombo, Criança na Avenida. Muita gente se assustou com o tempo, nublado e instável, mas o movimento foi grande e a imprensa noticiou cerca de 5000 pessoas visitantes ao evento. Nós ficamos perto do Zaffari, quase em frente ao Colégio Batista. Recebemos uma grande quantidade de visitantes de crianças pequenas e outras nem tanto, mas todas entusiasmadas com a história dos trilhos em Porto Alegre. Em certo momento, quando fui tirar fotos do evento fora do museu, seu Chefia (como é chamado carinhosamente o motorista do ônibus) assumiu o comando e falava dos bondes para os visitantes do ônibus. Quando retornei, fiquei escutando e aprendendo com quem não somente lê sobre transporte coletivo em Porto Alegre (como é o meu caso), mas que viveu toda transformação pela qual a Carris viveu. O seu chefia também foi fotografado e deverá sair no jornal do bairro Floresta, representando o Memória no evento.
<><>Falando em imprensa, comentei que recebemos a visita da Aline do Diário Gaúcho. No sábado (06/10), lá estávamos nós, no Diário e no Zero Hora, demonstrando um pouco de nosso trabalho na valorização da empresa mais antiga em funcionamento. Para quem não viu a reportagem dá para conferir pela internet http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1639573.xml&template=3898.dwt&edition=8566&section=67 . Por conta disso e dos agendamentos anteriores nossa agenda está apertada, mas ainda temos algumas vagas para dezembro.
<><>O saldo da festa foi extremamente positivo, os eventos sempre têm um caráter diferenciado em relação às visitas nas escolas. Nesse, o interessante foi o contato entre os pequenos que não chegaram a conhecer os bondes em Porto Alegre e aqueles que andaram no veículo, brincavam nele e viram sua extinto. Um encontro de memórias, de experiências e de crescimento para os visitantes e também para nós, que trabalhamos no evento. Hoje (08/10) não saímos devido à chuva, remarcamos a visita e eu aproveitei para atualizar o blog.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Visita na Zona Sul


<><>Hoje (05/10), o Memória Carris visitou, durante a manhã, uma instituição na zona sul de Porto Alegre, Ação Social Paróquia de Ipanema, na avenida Tramandaí. É uma creche que atende uma média de 92 crianças de 0 a 6 anos.
<><>A visita foi super divertida, as crianças se emocionaram com a passagem do bonde gaiola Partenon em meio aos trilhos. As mais pequeninas chegaram a se assustar com o motorneiro, um manequim que fica no meio do monobloco (ônibus memória). Para as professoras mais velhas foi uma forma nostálgica de relembrar o passado, a profª Maria Helena chegou a me dizer que seu pai andava no bonde puxado a mula, quando a zona sul era um lugar onde só havia chácaras. Ela adorou ver as fotos da igreja do Menino Deus, onde seus pais, Otávio Moreira Fialho e Odete Moreira Fialho, haviam casado na década de 20.
<><>Hoje recebemos também a visita da Aline do Diário Gaúcho que há tempos mantém contato conosco e com nosso trabalho. Tiramos muitas fotos e as meninas puderam, junto com as crianças, dar um passeio pela história da Carris. Tudo foi festa e as crianças aproveitaram para perguntar e se divertir dentro do museu móvel.
<><>Estamos terminando mais uma semana de visitas, mas o Memória estará em atividade nesse final de semana. Estaremos esse domingo (07/10) na 27ª Festa da Criança na Avenida, evento que ocorre em comemoração ao Dia das Crianças, na avenida Cristóvão Colombo. Segunda-feira iniciamos a semana na escola Bento Gonçalves no bairro Rubem Berta.


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Boas Vindas!!


<><>O Memória Carris é um museu itinerante que percorre semanalmente as ruas da capital gaúcha em escolas, instituições e eventos, levando a história do transporte público à população porto alegrense. Por ser itinerante, o acesso é facilitado, fazendo com que pessoas que por questões econômicas e socais não poderiam ter acesso a esse tipo de evento cultural, possam ser incluídas no projeto. O Memória tem um design planejado para seu principal público, as crianças.
<><>O aspecto lúdico do bondezinho gaiola, por exemplo, faz a alegria dos que visitam a exposição. A história torna-se mais próxima da realidade dos pequeninos (ou não tão pequenos), que conseguem construir para si a evolução dos transportes em Porto Alegre.
<><>A Companhia Carris é a empresa de transporte coletivo mais antiga em funcionamento no Brasil, sua história está intimamente ligada à história da cidade. Com ajuda dos painéis é possível, dentro do museu, ter uma visão panorâmica das mudanças tecnológicas pelas quais passou o transporte coletivo.
<><>A idéia de montar um blog para o Memória Carris veio do desejo de criar mais um veículo de comunicação com nosso público, tanto a criançada como os amantes das histórias do transporte público. E é esse nosso objetivo, criar um mecanismo dinâmico, de troca de idéias, experiência e de aprendizado.
<><>Pretendemos também colocar algumas curiosidades da época dos bondes, peculiaridades tecnológicas, costumes, etc. O espaço se propõe a ser amplo, para sugestões, relato de experiências ou para nos contar como foi conhecer o Memória.
<><>A idéia cabe bem dentro desse mês, quando comemoramos o Dia das Crianças. Aliás, falando nisso, o Memória estará nesse domingo (07/10) no grande evento na Av Cristóvão Colombo, em Porto alegre, chamado “Criança na avenida”. Amanhã (05/10) visitaremos a Ação Social Paróquia de Ipanema, na Av Tramandaí.