sexta-feira, 3 de abril de 2009

Resgate de Memórias


Ontem, ao chegar na Carris e avistar, sobre o teclado do computador, a chamada da matéria “Talento e Memória em Musical” no Expediente do jornal Zero Hora fez com que meu dia ganhasse um colorido especial. A reportagem descreve a última gravação das cenas que irão compor um longa-metragem sobre a história do músico Octávio Dutra. Compositor gaúcho que gravou no Rio de Janeiro, assim como outros virtuoses do cenário musical do período, mas que consolidou sua música em Porto Alegre. O resgate da história desse ícone representa a presença do Estado em meio à efervescência da cultura nacional no início do século XX.

As primeiras décadas dos novecentos foram traçadas por grandes transformações decorrentes de um processo de mudanças com a instauração da República no final do século XIX, entre outros fatores. Acompanhando o cenário nacional Porto Alegre, nesse período, é marcada por grandes alterações na sua paisagem urbana. Esses eventos diversificaram as atividades produtivas, sociais e culturais da cidade gerando novas necessidades. Nesse contexto, no qual se intensificou a necessidade de comunicação, surgem os primeiro bondes na capital. O bonde à tração animal e, logo após, a eletricidade simbolizando a modernização. Entre composições de diferentes gêneros musicais, tais como choros, polcas, sambas e valsas, Octávio Dutra, há 90 anos, sentiu-se inspirado a compor dentro de um Elétrico da Carris (veja um vídeo realizado pela equipe de comunicação da empresa aqui). Sua composição ficou conhecida como: “Em um bonde”, ou “Choro composto em um bonde”. O que provavelmente, com a corrida diária que estabelecemos com o relógio, dificilmente aconteceria dentro de um transporte urbano em pleno funcionamento. O bonde compôs junto com a música de Octávio a representação da cultura urbana da nossa cidade.

A produção de um filme relatando episódios desse personagem da história da música nos propiciará viver ou, então, reviver a Porto Alegre de décadas atrás. Confesso ser uma apaixonada pela música popular brasileira – declaração que não apresenta nenhuma novidade para os que me conhecem - e fico feliz em perceber que compartilho desse sentimento com as diferentes gerações. A foto que estampa a reportagem do Zero Hora,assim como ilustra essa postagem – realizada no set de gravação montado em um pitoresco bar do centro – demonstra esse gosto compartilhado. A cena é dividida por dois excelentes músicos gaúchos da atualidade, Yamandu Costa e Pedro Franco. O primeiro já ganhou o público além das barreiras continentais e o segundo – um jovem de 17 anos – inicia sua carreira abrilhantando as rodas de músicos em Porto Alegre. Tais eventos são mais uma demonstração de que a música perpassa as fronteiras temporais.

Projetos assim denotam a importância da materialização de memórias do cotidiano urbano para a nossa identidade cultural. Imagens, partituras, relatos são conjuntos, dos quais criam-se discursos, que viabilizam as desconstruções hegemônicas quanto os espaços geográficos da formação da música popular brasileira. Essas iniciativas rememoram fatos – embora na ocasião não tenhamos essa consciência – que simbolizam as nossas características sócioculturais. Parabéns a todos que se preocupam com a conservação desses momentos que marcaram a boemia porto-alegrense!

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, parabéns pela matéria e a temática sobre os bondes de Porto Alegre e o lendário compositor e violonista Octávio Dutra (1884-1937). O site da gravadora da música é http://www.acari.com.br/SiteOutdoorWS.asp
Faz parte da coletânea "choro carioca"
marcio_souza@ufpel.edu.br