Neste blog comentamos, seguidamente, sobre a intimidade entre os porto-alegrenses e os bondes, durante o longo período que este meio de transporte circulou pelas ruas da Capital. Esta relação é percebida pela constante presença desses veículos e de seus tripulantes (Motorneiro e Condutor) nas crônicas e músicas gaúchas. Como não poderia deixar de ser, no carnaval lá estavam eles. Muitas marchinhas faziam referência aos Elétricos e seus personagens.
No entanto, não foi só em Porto Alegre que esses veículos demarcaram seu espaço no cenário cultural. Sendo o bonde uma figura tão popular, foi protagonista de muitas músicas de sucesso nas mais diferentes localidades em que esteve demarcando o urbano. Canções que abarcavam o cotidiano da população com os Elétricos. Retratos das mais singelas viagens, com suas paradas habituais, além da saudação rotineira do gentil senhor ao motorneiro. Outras letras retratavam ainda cenas mais pitorescas, como uma “cantada” na moça que estava ao lado, o jovem que despistava o condutor e seguia seu destino sem pagar a passagem ou, então, as traquinagens da criançada que garantiam sua diversão ao incomodar o “seu” condutor e o “seu” motorneiro.
Em postagens anteriores abordamos essa relação da música com os bondes, falando sobre dois grandes mestres da música popular brasileira: Octávio Dutra (gaúcho) e Noel Rosa (carioca). Acima temos a partitura de uma marcha do carnaval de 1938. A autoria deste sucesso da década de 1930 é da dupla caipira Alvarenga e Ranchinho. Suas letras satirizavam os políticos da época, o que acabou fazendo da dupla, ocasionalmente, alvo de perseguições.
No mesmo ano J. Casacata e Leonel Azevedo brilharam com a marchinha Não Pago o Bonde:
“Não pague o bonde iaiá
Não pague o bonde ioyô
Não pague o bonde
Que eu conheço o condutor”.
Os festejos de 32, Noel Rosa e Eduardo Souto lançaram a música Palpite:
“Palpite
Palpite
Nasceu no crâneo de quem teve meningite
Num dia desses perguntaste ao condutor
Se os bondes passavam na rua do Ouvidor”.
A marcha Zizinha de José Francisco de Freitas fez sucesso no carnaval de 1926, abordando a bolinação nos Elétricos, fato corriqueiro na época:
“Noutro dia num bondinho
Um coronel já bem velhinho
Deu-me um beliscão
Pegou-me na mão.”
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