quarta-feira, 8 de maio de 2013

Uma história da Rua da Praia

Porto Alegre vive atualmente um período de grandes transformações nos seus espaços. Mudanças no espaço físico da cidade costumam ocorrer de tempos em tempos. Além do estresse que comumente elas causam, as grandes obras urbanas geram em nós um misto de curiosidade pelo o que está sendo construído e, ao mesmo tempo, saudosismo por aquilo que estamos começando a perder, já que a feição de ruas ou outros lugares antes tão conhecidas estão sendo transformadas pelas novas reformas. Algo parecido ocorreu com a criação do Calçadão da Rua da Praia no ano de 1974. Como bons porto-alegrenses, sabemos que a chamada Rua da Praia tem na verdade o nome de Rua dos Andradas, e que é a rua mais tradicional da cidade. Na década de 1970 se optou pela transformação de parte do seu espaço em um grande Calçadão para facilitar o trânsito de pedestres no Centro. Enquanto a população aguardava pelo resultado das obras, várias crônicas e comentários foram publicados em jornais porto-alegrenses tratando da temática "Rua da Praia". Um destes textos foi encontrado por nós em nosso acervo e nos chamou a atenção pelos seus comentários. Trata-se de uma crônica publicada no Jornal Correio do Povo no dia 20 de março de 1974. Abaixo iremos transcrever alguns trechos: 

Calçada e calçadão

"(...) Entretanto, o meio-fio da Rua da Praia não pode desaparecer sem um necrolégio. No tempo do 'footing', quando as garotas (hoje quarentonas e cinquentonas) desfilavam pela calçada, fingindo olhar as vitrinas das Casa das Sedas, da Vila de Bruxelas, da Casa Tschiedel, da Ilha da Madeira, os galãs se instalavam na sarjeta e apoiavam o pé no cordão, em postura altamente admirativa. Era uma época de jaquetões com sólidas ombreiras, calças de boca estreita e cabelos alisados a Glostera ou Gumex. E as piadinhas galantes subiam da sarjeta ao passeio como tímidos pedidos de afeto. Muitos amores nasceram daquele duelo de olhares entre a passarela do 'footing' e os paralelépipedos, na saída da matinê de sábado ou da 'primeira sessão'. Amores que se cozinhavam lentamente, pois as gurias não desciam da calçada e os rapazes demoravam a 'encostar'. O meio-fio era uma muralha que só se transpunha com muita certeza do sucesso. Agora, tudo se nivela e confraterniza num calçadão que prometem adornado e florido. Sem barreiras. Mas é obra que vêm com trinta anos de atraso, depois que jogamos fora nossos jaquetões de ombreira e os próprios cabelos 'glostorados' (...)". 
Para os mais saudosistas do "footing" na Rua da Praia, vão abaixo algumas fotos para relembrar as bonitas porto-alegrenses da época que passeavam pela nossa rua mais tradicional: