terça-feira, 15 de abril de 2008

O Tempo do Bonde


O texto transcrito abaixo é de autoria de Sérgio Knijinik:

<><> Passou o tempo do bonde, como passou o tempo dos "veraneios" em Ipanema, dos bailes da Reitoria, das lambretas e dos blusões de couro. Bonde foi trocado por ônibus, bailes por discotecas e lambreta por motocicleta. E as praias do Guaíba? Nem se fala... Bonde significava progresso na capital, significa encostar o ouvido no poste, para saber se ele ainda iria demorar. Significava botar tampinha de garrafa nos trilhos, para o bonde passar por cima e colecionarmos "Moedas" de Coca-Cola... Andar de bonde significava não ter pressa, viagem lenta, dava tempo de ver a cidade. Claro, quando não faltava força e o bonde parava horas sem fim nas ruas de Porto Alegre. Andar de bonde significava pagar a passsagem se a gente estivesse com vontade, porque poderia não pagar e ficava tudo na mesma. O condutor marcava o número de memória, puxando um marcador no teto, não existindo roleta nem desconfiança com o seu trabalho. Andar de bonde não era bem o termo, o certo era passear de bonde, dia de jogo o "Futebol!" saindo lotado dos Eucaliptos largando gente pelos estribos. O bonde, na verdade, significava um pouco mais que o veículo de transporte que a cidade perdeu: significava quase uma marca registrada de Porto Alegre, um pouco do seu bucolismo e poesia. O desaparecimento do bonde não deixou de ser simbólico: com os bondes morreram as profissões de motorneiro, condutor, transviário (aqueles que trabalhavam nas oficinas da Carris), morrendo também uma parte importante de cada um de nós. Morreu o bonde morreu o "veraneio" nas praias do Guaíba, morreu o estádio dos Eucaliptos e dos bailes da Reitoria.

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