segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Decifrando o universo...

Muitos de nós passamos um bom pedaço do dia nos transportando entre a nossa moradia e os lugares onde trabalhamos, estudamos, etc. Quem usa transporte público sabe que entre uma paisagem e outra que passa pela janela, o ônibus acaba servindo como um local de reflexão. Muitas vezes utilizamos o percurso de deslocamento para "colocarmos em dia" nossas ideias e pensamentos. Lembrando de sua juventude, o porto-alegrense Luis Fernando Veríssimo escreveu sobre o trajeto do bonde Petrópolis e as ideias que passavam em sua mente enquanto fazia a viagem: "(...) Os bondes. Aquele cheiro metálico dos bondes, o barulho que eles faziam, os gemidos, os 'pscht' dos freios. Nossa admiração pelos fiscais que pulavam de um bonde em movimento para outro, fazendo anotações misteriosas nas suas planilhas. O bonde Petrópolis, depois de vir numa boa velocidade pela Oswaldo Aranha, passando pelo Pronto Socorro, pelo muro da área reservada a um Hospital de Clínicas que nunca era construído, pelo cinema Rio Branco, pelo bar que ficava no pé da rua que dava no Colégio Americano e, lá em cima, no IPA, e tinha o melhor sorvete da cidade, começava a subir, lentamente, a Protásio Alves. Como era lenta a subida do bonde Petrópolis pela Protásio Alves. Mas não me lembro de achar que era perda de tempo. Aproveitava-se para pensar na vida, ou no que passava por vida na adolescência. Nada como um bonde lento para meditar sobre o significado de todas as coisas. Sempre imaginei que se a linha Petrópolis fose um pouco mais longa eu teria decifrado o Universo (...)".
Fonte: Veríssimo, Luis Fernando "Traçando Porto Alegre", ilustrações de Joaquim da Fonseca. 9ª ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009. (pág. 28 e 29). 




 

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