terça-feira, 18 de novembro de 2008

Continuação...



O gaiola voltou a andar, gingando nos trilhos como aquele rebolado que mais parecia o da mulher da Pharmacia Carvalho. Meio minuto depois comecei a achar a guria feia e voltei a olhar os reclames. Lá estava o homem com o bacalhau nas costas. Deus do céu! Que coisa mais horrorosa aquele óleo de fígado de bacalhau, chegava a embrulhar o estômago. Ao lado do bacalhau estava o vinho Reconstituido Silva Araújo. Mas que palavra mais feia aquela, reconstituinte. Que será que significava? Credo, pense cá com meus botões, como tem palavras esquisitas. Então me lembrei daquela vez em que o tio José trouxera garrafão de vinho doce e bebi uma caneca inteira. Além de ficar tonto e me esborrachar no chão, levei uma baita tunda do meu pai.
Quando o bonde fez a curva na Casa Guaspari e entrou no abrigo da Praça Quinze, o motorneiro avisou que o bonde gaiola voltaria para o fim da linha, no Gasômetro, e que a gente deveria fazer baldeação. Troquei de bonde e continuei minha viagem, com a cabeça no ar, contando os postes, até descer na parada do colégo. No dia seguinte os bondes foram recolhidos, e com eles, um pedaço da minha infância.

Acima foto da despedida dos bondes. Na próxima postagem analisarei o relato do senhor Clóvis Milton.

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