segunda-feira, 13 de junho de 2011

O rio, o bonde e o celular (parte II)


E o rio ali continuava, calmo, sem se abalar com aqueles valentes “atletas de ferro” que corriam por toda a cidade, ora vazios, ora lotados.
Foi quando o motorneiro deu nova olhada no relógio. E o cobrador, atento à preocupação de seu colega, pensou em voz alta: “Devia existir um telefone ambulante, ou móvel, para evitar que a gente ficasse a todo instante olhando o "cebola". Este era o apelido dado, na época, a relógios de pouco preço.   “Desta forma, dizia o cobrador, a central nos avisaria o momento de iniciarmos a viagem de volta”.
O motorneiro o olhou espantado e perguntou-lhe se ele estava em seu pleno juízo ou tinha suas faculdades mentais abaladas! O telefone, disse o motorneiro, só podia existir em casa, pois dependia de uma linha e era impossível andar carregando aquele aparelho tão grande, quanto pesado, e invariavelmente preto.
Mas o cobrador não desistiu. Disse que seria muito bom um telefone que funcionasse como uma célula do ser humano, preso a este; poderia até chamar-se "celular", disse ao motorneiro. Este mandou que ele acordasse daquele sonho maluco porque já estava na hora de reiniciarem a viagem.
Corria o ano de mil novecentos e cinqüenta e poucos.
E lá se foi o bonde, rompendo novamente o silêncio do Guaíba. O motorneiro, com seu olhar fixo na linha; o cobrador, rindo de sua idéia tão maravilhosa quanto estapafúrdia e maluca!
O cobrador morreu anos depois, antes de criarem este invento maravilhoso chamado celular.
Com certeza, este telefone só foi inventado depois da extinção dos bondes porque o barulho destes não permitiria a cômoda utilização daquele maravilhoso engenho!
O Guaíba continua o mesmo, com seu silêncio, sua extensão, sua profundidade, suas margens e seu inigualável pôr-do-sol. Os bondes, ficaram apenas na lembrança, e na saudade! E eu vou ter de encerrar esta crônica porque meu celular está tocando.


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