sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Oswald de Andrade sobre os elétricos (parte II)


<><> Para quem nunca tinha visto bonde elétrico, a chegada deles era uma boa notícia, mas não deixava de ser algo assustador. Será que o trilho não dava choque? Nossa, como anda rápido! Deviam exclamar os que o viam passar.

<><> Abaixo continuação do texto de Oswald de Andrade sobre a chegada dos elétricos em São Paulo.


<><>No centro agitado, eu desci a ladeira de São João que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da rua Líbero Badaró, olhando para o largo de São Bento, de onde devia sair a maravilha mecânica.
<><>A tarde caía. Todos reclamavam. Por que não vem?
<><>Anunciava-se que a primeira linha construída era a da Barra Funda. É pra casa do prefeito! <><>- O bonde deixava o Largo de São Bento, entrava na Rua Libero Badaró, subia a Rua São João, entrava na Rua do Seminário.
<><>Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. Lá vinha o bicho! O veículo amarelo e grande ocupou os trilhos do centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar. Gritavam:
<><>- Cuidado! Vem a nove pontos!
<><>Um italiano dialetal exclamava para o filho que puxava pelo braço:
<><>- Lá vem o bonde! Toma cuidado!
<><>O carro lerdo aproximou-se, fez a curva. Estava apinhado de pessoas, sentadas, de pé. Uma mulher exclamou:
<><>- Ota gente corajosa! Andá nessa geringonça!
<><>Passou. Parou adiante, perto do local onde se abre hoje a Avenida Anhangabaú. Houve tumulto. Acidente?
<><>Não andava mais, gente acorria de todos os lados. Muitos saltavam.
<><>- Rebentaram a trave do lado! Não é nada!
<><>Tiravam a trave quebrada, o veículo encheu-se de novo, continuou mais devagar ainda, precavido.
<><>E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes acontecimentos. Nas ruas, os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo os acetilenos da iluminação pública.
<><> Acima foto do bonde imperial, que frafegou em Porto Alegre de 1908 a 1921. Após isso, ele se transformou em bondes simples. Até agora não descobri por que "cortaram" os veículos.

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