terça-feira, 30 de setembro de 2008

Novidades...

<>Fomos citados no boletim da Associação Nacional de Transporte Público de São Paulo sobre a Memória no transporte coletivo. A Informação me foi repassada pelo Antônio Ferro, jornalista, que, coincidentemente, publicou em seu blog, ontem, uma postagem sobre a história da Carris.

Trolleybus


<><>Boa parte dos saudosistas dos bondes esquece de outro tipo de veículo que também transitou na Capital usando o mesmo combustível que os primeiros, a eletricidade. Os trolleybus ou ônibus elétricos andaram pouco tempo por aqui. Apesar do interesse ter iniciado em 1954, somente em 1964 os primeiros cinco puderam percorrer nossas ruas em direção ao bairro Menino Deus.
<><>Infelizmente o empreendimento acabou não surtindo efeitos positivos. Quando vieram os novos veículos, as voltagens precisavam ser adaptadas, o que gerava uma série de transtornos. Assim, em 19 de maio de 1969 transitou o último trolleybus na Capital gaúcha. Uma curta história, para um veículo que poderia ter sido mais bem aproveitado. Os veículos foram vendidos para Araraquara em São Paulo, onde até hoje são usados. Em outra postagem falarei mais sobre esta cidade e o uso dos elétricos.
<><>Similar aos ônibus convencionais, os trolleybus rodam por meio de pneu de borracha e não sobre trilhos, como o fazem a maioria dos veículos elétricos (como trens ou bondes). A energia chega através de hastes, denominadas tecnicamente como alavancas que ficam sobre a carroceria, em permanente contato com a fiação específica que acompanha o percurso. Os trólebus têm parte de sua estrutura elétrica baseada nos bondes que nos Estados Unidos são conhecidos como trolleys (elétricos), daí o nome trolleybus ou tróleibus.
<><>Como em Porto Alegre pouco usou-se os ônibus elétricos, é muito difícil encontrar fotos deles por aqui. Embora tenhamos fotos dos trolleybus em outros locais, em nosso arquivo não possuímos fotos dele na Capital. Allen Morrison, pesquisador norte-americano, chegou a comentar comigo da ausência de fotos sobre os veículos em Porto Alegre. Ele, por exemplo, só possui uma em preto e branco. Bem, esses dias, o Antônio Ferro, jornalista de São Paulo, enviou-me a belíssima foto publicada acima. Os créditos são de Werther Halarewicz.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Histórias de bonde (parte I)



<><>Já falei neste espaço dos relatos que já ouvi de bonde. São diversos: brincadeiras de crianças, amizades e até encontros amorosos, que resultariam, algumas vezes, em casamento. O bonde não era somente um meio de transporte, era um estilo de vida, agradável e romântico nas ruas da Capital.
<><>Quando a Carris fez 130 anos foi realizado um concurso de histórias de bonde. Dez deles foram escolhidos e publicados no livro Centro e Trinta Anos: relatos de uma história. Nas próximas postagens colocarei algumas dessas, que merecem ser lembradas.
<><>Aqui coloco o relato de Maria Cristina Azeredo, pedagoga e moradora de Porto Alegre. Este texto foi um dos escolhidos para o livro. Segundo ela, “o concurso promovido pela Carris foi uma ótima forma de proporcionar aos mais antigos uma oportunidade de relembrar os bons tempos e, aos jovens, imaginar como era gostoso e seguro viajar de bonde. Seria tão bom que pelas ruas de nossa cidade os bondes circulassem novamente, a exemplo de várias capitais européias”.

<><>O “Duque”

<><>O bonde “Duque”, geralmente uma gaiola, ligava a Rua Duque de Caxias ao antigo abrigo dos bondes, em frente ao Mercado. Era uma linha curta, percorria a rua sem observar as paradas, o motorneiro parava em frente das casas quando via moradores esperando.
<><>Eu era menina, viajava no “Duque” com minhas tias. Ainda me lembro daquele jeito simples, tranqüilo, que se sentia no bonde, funcionários e passageiros se conheciam, conversavam, trocavam receitas de chás caseiros...
<><>“Boa tarde, trouxe um pedaço do meu pão para o senhor”. “Obrigado!” “Bom dia, dona Ignácia, melhorou do reumatismo?” “Sim, obrigada”. “Seu marido não apareceu ontem, dona Merica”. “É que ele está amolado”. “Bom dia, o senhor sabe se a dona Elvira já foi para o mercado?” “Já foi, ele vai lhe esperar lá”.
<><>Tempos de vida calma, sem medos, não havia pressa, as pessoas cumprimentavam o motorneiro, que sabia onde cada uma iria descer.
<><>Uma vez, uma senhora subiu com uma menina, na Praça do Alto da Bronze, quando no abrigo dos bondes, uma chuva caiu forte. A senhora se assustou, pois não poderia descer com a pequena (convalescendo do sarampo), mas precisava pegar o dinheiro no banco. Prontamente o motorneiro disse que ela deixasse a menina no primeiro banco, que olharia e que fosse descansada, pegaria na outra volta. E foi o que ela fez. Lá se foi tranqüila, e a pequena, satisfeita, ficou passeando de bonde...
<><>Assim era o bonde “Duque”, amigo, cordial, calmo, espelhando a vida de nossa cidade naquela época.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Primavera dos Museus


<><>Segunda feira iniciou, para muitos, a estação mais esperada do ano, a primavera. Além de marcar o fim do inverno, com temperaturas mais amenas e mais tempo de sol, é a época das flores e belezas naturais. As pessoas geralmente se animam mais para sair e curtir os dias à luz do sol, ainda não tão quente.
<><>Desde o ano passado, a estação marca também um evento importante em relação às instituições culturais, Primavera dos Museus. Com o objetivo de atrair público para as instituições, são promovidas palestras e atividades que tenham relação com a estação. Esse ano as datas já passaram, dia 20 e 21 de setembro, mas as promoções de atividades visando atrair visitantes não pararam. Aliás, este verão, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), serão promovidos encontros, projetos e palestras para promover a visita também em momentos de férias escolares.
<><>O tema dessa segunda Primavera dos Museus era diversidade e o quadro referente ao evento é, no mínimo, inusitado. Trata-se de um quadro de Tarsila do Amaral, intitulado Os Operários. Ela era uma artista que participou do movimento modernista, marcado pela contestação da cultura européia, então em voga, e valorização da diversidade brasileira. Seu quadro Antropofagia, por exemplo, foi analisado pelos críticos como uma forma de mostrar que devemos admitir, ou engolir (para usar a antropofagia), as formas européias de maneira crítica e adaptada ao contexto brasileiro. E viva a diversidade!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Bondes no Brasil


<><>A história do bonde nas várias cidades onde transitou se assemelha muito. Quase todas iniciaram, assim como Porto Alegre, com os veículos movidos a tração animal e foram paulatinamente substituídos pelos movidos a eletricidade. Ao pesquisar na internet é possível encontrar, inclusive, diversas páginas sobre a história deles nas várias regiões do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza entre outras. Além, é claro, das páginas do pesquisador norte-americano, Allen Morrison que tem um portal todos os lugares por onde o bonde transitou.
<><>Os bondes utilizados no Brasil eram geralmente importados. No caso de Porto Alegre, vinham especialmente dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Bélgica. A maior parte provinha dos norte-americanos - cerca de nove importações - , enquanto da Inglaterra vieram duas - os famosos gaiolas - e da Bélgica, uma. Talvez o motivo dessa importação massiva dos Estados Unidos seja porque a Carris pertenceu a uma empresa norte-americana - Bond & Share - durante quase três décadas (de 1926 a 1953).
<><>Por coincidência, os primeiros bondes surgiram em Nova York, em 1852. Eram tracionados por mulas, com uma gôndola e oito bancos de madeira com quatro lugares. Feitos de madeira, tinham rodas de ferro e andavam sobre trilhos. Originalmente eram chamados de Street Car e só posteriormente passaram a se chamar de Tram.
<><>No Brasil – esse dado é muito interessante, no mínimo -, os bondes iniciaram em 12 de março de 1856. Ou seja, o uso foi uma década antes de vários países da Europa: Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Rússia, Holanda e Bélgica.
<><> Acima foto foi retirada daqui, é dos bondes a tração animal em São Paulo. As informações sobre o bonde também li ali também. A página pertence ao engenheiro, apaixonado por bondes, WernerVana.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fotos antigas...


<><>Fotos antigas são instrumento de nostalgia. Em outra postagem, ano passado, já falei sobre o arquivo de imagens que a Carris possui (agora disponível on-line também). No entanto, apesar de todas terem a sua beleza, há sempre aquela que se destaca, por um detalhe, por algum lugar em particular, etc. Para mim, as que se destacam são as que consigo ver ou comparar com os locais atualmente.
<><>As da Praça XV (para quem não sabe, referência ao 15 de novembro de 1889, proclamação da república), por exemplo, são maravilhosas. O abrigo dos bondes, atualmente onde ficam as lancherias do local, continua intacto. Ele tem cor e aspecto diferente, mas os trilhos continuam lá, prova viva do passado não tão distante. Quantas pessoas passaram lá, na época dos bondes, esperando o seu, na fila. Alguns por certo se conheceram lá, namoraram e casaram, como muitas histórias que já ouvi de casais que se encontraram pela primeira vez nos elétricos (qualquer dia posto uma aqui).
<><>Esta semana digitalizei algumas fotos que estavam em um arquivo. Tem uma que me chamou a atenção em especial. Por quê? Porque é de um lugar familiar para mim, onde já passei várias vezes. É no bairro Navegantes, Rua Presidente Roosevelt, em frente à Escola 1° de Maio. A escola continua no mesmo local e ainda tem uma parada lá. A rua é diferente, tem uma delegacia na frente e os bondes não andam mais em Porto Alegre.
<><>No entanto, para um olhar descuidado, as fotos antigas podem não dizer muita coisa. É necessário um olhar atento para perceber sua beleza e a imensa riqueza escondida em cada detalhe. Tarefa difícil num primeiro momento, mas recompensadora. Elas são capazes de nos revelar traços valiosos do passado da Capital e são capazes de nos fazer viajar no tempo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ônibus do centro e sua história


<><>Desde junho desfilam em Porto Alegre os 12 novos ônibus da Carris. Eles chamam atenção por seu design diferenciado e pelas belas imagens de Porto Alegre adesivadas nos veículos. No dia da inauguração, várias pessoas tiraram fotos juntos aos ônibus e apreciaram as fotografias de sua cidade. Diferente dos tradicionais, os veículos são menores para a melhor circulação nas ruas do Centro.
<><>As linhas do centro (C1, C2 e C3) foram as presenteadas com a novidade, o que está dentro do projeto “Viva o Centro”. Essas linhas, no entanto, são também partes da história da Carris. A linha C1, por exemplo, era a antigo bonde Duque, modelo Gaiola (chamado assim por sacolejar nos trilhos e ser todo fechadinho). Essa era a única linha de bonde a transitar de madrugada, alegria dos boêmios, mas incômodo para a população que residia aos arredores. Os chamados “bondes fantasmas” rangiam as rodas nos trilhos e faziam um indesejável barulho enquanto passavam.
<><>A década de 60 iniciara o processo de fim dos elétricos em Porto Alegre. Em 1966 seria a vez dos da linha Duque, que teria três bondes substituídos por ônibus a diesel. De acordo com Cristiano Saibro, busólogo, os primeiros ônibus Mercedes Benz também eram encurtados, com duas janelas a menos.
<><> Em 1982, as linhas C1 e C2 passariam a funcionar (com esse nome), para alegria dos que transitavam no centro. Um cartaz da época falava sobre a novidade que viria com a implantação das linhas centrais. A responsável pelo empreendimento era a arquiteta Maria Lúcia Grau, da Assessoria de Planejamento e Programação da Secretaria Municipal dos Transportes. As linhas substituíam a antiga linha 51- Duque de Caxias, com a vantagem de cobrirem uma área maior. O projeto foi realizado segundo pesquisa que verificava o destino da maior parte dos passageiros.
<><>A tarifa foi fixada em 30 cruzeiros (na época, ela não era unificada) e as linhas começaram a circular em novembro de 1982. A novidade foi realmente muito bem aceita, ainda mais agora, com os novíssimos e confortáveis ônibus.

<><> Acima, miniatura dos antigos veículos centrais.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Memória e a infância em Porto Alegre


<><>Na quarta-feira, quando estávamos na Escola Nossa Senhora de Lourdes, um casal passou pelo Memória (parado em frente ao colégio) e olharam para ele. O rapaz, então, comentou com a moça que estava com ele: “ Olha, o ônibus da Carris”. Ela olhou e respondeu: “Nunca entrei nele”. Ele replicou: “ Como? Não teve infância?”
<><>A conversa podia passar despercebida e para eles talvez tenha passado. No entanto, aquele diálogo me fez pensar de que maneira o Memória é ligado à infância em Porto Alegre. É como se aquele garoto estivesse dizendo “se você morou na Capital, se estudou aqui, deve ter entrado, pelo menos uma vez, neste ônibus”. Para os alunos das escolas que visitamos, o museu marca seus cotidianos e, mais, por se inserir num lugar que eles conhecem e convivem – seu meio social- o aprendizado torna-se extremamente apetitoso.
<><>Às vezes vamos a uma escola numa determinada localidade e depois vamos a um Sase (serviço de atendimento sócio-educativo), no mesmo bairro. Algumas crianças, então, já conhecem o museu. Contudo, isso não diminui suas expectativas. Pelo contrário, elas ficam ansiosas e comentam com as outras os passos seguintes da apresentação. Uma vez, na escola Julio Brunele, no bairro Rubem Berta, os pequenos (ou nem tanto) não só lembravam das minhas falas – de uma maneira incrível, após um ano - mas, comentaram comigo sobre a roupa que eu estava no ano anterior. Segundo eles, inclusive, eu ainda não usava óculos. Incrível!
<><>Ontem, no Sase da Parada 10, na Lomba do Pinheiro (é mais fácil se localizar na Lomba por números de paradas), um menino me disse entusiasmado que já tinha visitado o ônibus, na sua escola. Enquanto contava a eles como se fazia quando um bonde puxado a burro não conseguia subir uma lomba, ele falou ansioso: “Eles empurravam!” E sorriu, satisfeito, por saber, naquele momento, mais que seus colegas. Outra coisa que acontece freqüentemente é as crianças mudarem de escola e, no outro local, chamam-me pelo nome e lembram de tudo, de mim, do Chefia, do bonde que anda, dos bancos, etc. Trabalhar com crianças é fantástico, elas conseguem (falo por mim, pelo menos) nos transmitir seu entusiasmo e seu modo de ver a vida: simples, divertido e feliz.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Oswald de Andrade sobre os elétricos (parte II)


<><> Para quem nunca tinha visto bonde elétrico, a chegada deles era uma boa notícia, mas não deixava de ser algo assustador. Será que o trilho não dava choque? Nossa, como anda rápido! Deviam exclamar os que o viam passar.

<><> Abaixo continuação do texto de Oswald de Andrade sobre a chegada dos elétricos em São Paulo.


<><>No centro agitado, eu desci a ladeira de São João que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da rua Líbero Badaró, olhando para o largo de São Bento, de onde devia sair a maravilha mecânica.
<><>A tarde caía. Todos reclamavam. Por que não vem?
<><>Anunciava-se que a primeira linha construída era a da Barra Funda. É pra casa do prefeito! <><>- O bonde deixava o Largo de São Bento, entrava na Rua Libero Badaró, subia a Rua São João, entrava na Rua do Seminário.
<><>Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. Lá vinha o bicho! O veículo amarelo e grande ocupou os trilhos do centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar. Gritavam:
<><>- Cuidado! Vem a nove pontos!
<><>Um italiano dialetal exclamava para o filho que puxava pelo braço:
<><>- Lá vem o bonde! Toma cuidado!
<><>O carro lerdo aproximou-se, fez a curva. Estava apinhado de pessoas, sentadas, de pé. Uma mulher exclamou:
<><>- Ota gente corajosa! Andá nessa geringonça!
<><>Passou. Parou adiante, perto do local onde se abre hoje a Avenida Anhangabaú. Houve tumulto. Acidente?
<><>Não andava mais, gente acorria de todos os lados. Muitos saltavam.
<><>- Rebentaram a trave do lado! Não é nada!
<><>Tiravam a trave quebrada, o veículo encheu-se de novo, continuou mais devagar ainda, precavido.
<><>E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes acontecimentos. Nas ruas, os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo os acetilenos da iluminação pública.
<><> Acima foto do bonde imperial, que frafegou em Porto Alegre de 1908 a 1921. Após isso, ele se transformou em bondes simples. Até agora não descobri por que "cortaram" os veículos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Setembro...

<><>Ontem iniciou setembro. Nem parece, mas estamos próximos do final do ano. É incrível como o tempo passa rápido quando desenvolvemos muitas atividades e nos envolvemos com muita coisa. Para mim 2008 começou recentemente, mas quando olho o calendário me dou conta que já se passaram vários meses. Ainda é cedo para fazer retrospectivas, mas já podemos sentir algumas mudanças no museu da Carris.
<><> Desde outubro do ano passado, quando inauguramos este blog, o Memória Carris tem atingido um outro público, que não era inicialmente seu foco. São os pesquisadores do transporte coletivo, que, de outros estados, desenvolvem pesquisas sobre o transporte de passageiros. Creio que a troca entre profissionais que atuam no mesmo campo é essencial. Só através dela poderemos alcançar níveis mais profundos no conhecimento. Afinal, outros já pesquisaram o que hoje procuramos e podem nos fornecer respostas às questões lacunares. A internet é, com certeza, a melhor porta para isso. Rápida e eficiente é um ótimo meio de comunicação para os pesquisadores.
<><>Semana passada Joice Souza, do Rio de Janeiro entrou em contato conosco. Ela faz parte de uma equipe que pesquisa a trajetória da Scania no Brasil. Faz parte do projeto uma história co-relata das empresas que comercializaram com ela. Nesta parte, a Carris se insere. Conversamos sobre o Museu Virtual e ela solicitou algumas fotos para serem colocadas no livro que será publicado ao final da pesquisa.
<><>Esta semana Porto Alegre tem experimentado um verãozinho em pleno inverno. Chega a ser engraçado quando falo às crianças que Porto Alegre começou a importar bondes fechados pelo frio no inverno. Muito bem, devem pensar, estamos no inverno, cadê o frio? No entanto, nada incomum para a Capital gaúcha, que vive nos extremos de temperatura, segunda, por exemplo, estava frio. Os anticorpos que agüentem.

Bondes elétricos por Oswald de Andrade


<><> Já escrevi aqui sobre as mudanças produzidas pelos bondes elétricos no cotidiano da população. A novidade assustava e trazia euforia. Abaixo trecho de Oswald de Andrade, escritor modernista, sobre a chegada dos elétricos em São Paulo.


<><>Anunciou-se que São Paulo ia ter bondes elétricos. Os tímidos veículos puxados a burros, que cortavam a morna cidade provinciana, iam desaparecer para sempre. Não mais veríamos, na descida da ladeira de Santo Antônio, frente à nossa casa o bonde descer sozinho equilibrado pelo breque do condutor. E o par de burros seguindo depois.
<><>Uma febre de curiosidade tomou as famílias, as casas, os grupos. Como seriam os novos bondes que andavam magicamente, sem impulso exterior? Eu tinha notícia pelo pretinho Lázaro, filho da cozinheira de minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso esse negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado facilmente pelo bonde. Precisava pular. (...)
<><>O projeto aprovado, começaram logo os trabalhos da execução. E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro bonde elétrico. Indicaram-me a atual Avenida de São João como o local por onde transitaria o veículo espantoso.
<><>Um mistério esse negócio de eletricidade. Ninguém sabia como era. Caso é que funcionava. Para isso, as ruas da pequena São Paulo de 1900 enchiam-se de fios e de postes. (...)
<><>Um amigo de casa informava: - o bonde pode andar até a velocidade de nove pontos. Mas, aí é uma disparada dos diabos. Ninguém aguenta. É capaz de saltar dos trilhos. E matar todo o mundo...
<><>A cidade tomou um aspecto de revolução. Todos se locomoviam, procuravam ver. E os mais afoitos queriam ir até a temeridade de entrar no bonde, andar de bonde elétrico!
Naquele dia de estréia ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se, portanto, enorme.
<><>Acima, charge da superlotação dos elétricos em São Paulo.